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Cristão por livre e espontanea pressão



Quanto ao flagrante texto do Paulo Washer, ( www.voltemosaoevangelho.blogspot.com/2008/09/reduzindo-o-evangelho_5308.html ) só posso concordar e humildemente expor um pouco do que me veio à mente quando o li e também expor o que pensei sobre o profundo paradoxo de uma salvação pela Graça e um chamado incondicional a seguir os passos de Jesus, em contraste com este “macete de vestibular” que a igreja evangelica tem apresentado nesta geração:

“Se um homem dissesse com toda simplicidade e ingenuidade que está preocupado consigo mesmo, que nestas condições não é coerente de sua parte dizer-se cristão, ele seria - não perseguido ou executado - mas olhado com ira e dir-se ia: “Este homem aborrece a gente ao fazer tanto ruído por nada. Por que não pode ser como nós, que somos todos cristãos? É igualmente como ‘x’ ou ‘y’, que não podem usar um chapéu como todo mundo, mas é preciso que seja algo diferente.” Se fosse casado, sua mulher lhe diria: “Querido, como podes ter semelhantes idéias? Não serás um cristão? Bem que és dinamarquês. Não diz a geografia que a religião cristã luterana é a religião da Dinamarca? Não és judeu, nem mahometano, que poderias ser? Há mil anos, não é?, que o paganismo foi suplantado, sei pois que não és um pagão. Não trabalhas no escritório como um bom funcionário? (...) És, pois cristão.”. ( Søren A. Kierkegaard in Ernani REICHMANN. Textos Selecionados. p. 214 )



O texto acima é de Soren Kiekergaard, um filósofo e teólogo cristão do século 18. Neste texto ele fala algo tão óbvio que me irritou. Irritou-me tanto que tive de pensar a respeito e me enxergar sob a perspectiva que ele desafiou os seus contemporâneos.

A questão era que na época dele (século XVIII) ser Dinamarquês era ser cristão. A ninguém se perguntava se este era cristão, pois isto estava intrínseco na obviedade de se ser dinamarquês e de se ir à igreja. Porém Kiekergaard provoca o seu mundo de então com uma pergunta praticamente pagã: “Acho que não sou cristão considerando esta situação a qual sou exposto, pois não posso deixar de perceber que não ajo como um cristão agiria”. De forma que ele acabaria por ser o mais cristão de todos, pois ser cristão é em primeira instância se enxergar como carente, impotente, maltrapilho e sem esperança em sim mesmo. Olhando para a Cruz alguém disse: “Tenho certeza que vou para o inferno, por isto sei que vou para o céu.”. Kiekergaard foi alguém que chamou a atenção dos cristãos de sua época para o fato de que o Evangelho é um chamado à existencialidade e não à sistematização, ou seja, o Evangelho não é domesticável, mas é um Caminho a ser vivido muito mais do que articulado. Segue em anexo um pouco da história deste irmão que foi uma pedra de tropeço para a sua geração.

Enfim, não posso me arrogar cristão por que sigo um aglomerado de doutrinas, porque pratico determinados ritos ou ainda porque pertenço a alguma denominação religiosa. Nada disso me faz um cristão. Não sou cristão porque “aceitei a Jesus no meu coração” ou porque repeti uma oração mântrica após um pastor ou algum crente clonador.

Pelo menos duas coisas precisam ser ditas a respeito de se ser cristão:

Primeiro sou feito um cristão por vontade dEle, O qual tomou esta decisão antes de eu ser formado no ventre de minha mãe ou numa proveta, conforme o apóstolo Paulo nos ensina em Efésios 1:3-6 e em outras muitas passagens bíblicas está relatado. Não nasci de novo por alguma boa vontade que em mim exista, uma fé auto-existente em meu ser ou por uma decisão que eu tenha tomado, mas nasci de novo pela vontade de Deus (João 1:13). Também não nasci de novo por que eu quis nascer de novo ou por ter me esforçado mais, por ter corrido atrás, mas por decisão e misericórdia dEle (Romanos 9:16).

Segundo, o nascido de novo é aquele que nEle está e não por ter papagaiado uma oração de “entrega” (não que esta não possa de fato refletir o que realmente aconteceu no coração), mas por seguir a Jesus e a Ele imitar em sua caminhada, conforme João nos ensina em I João 2:3-11 “E nisto sabemos que o conhecemos; se guardamos os seus mandamentos. Aquele que diz: Eu o conheço, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade; mas qualquer que guarda a sua palavra, nele realmente se tem aperfeiçoado o amor de Deus. E nisto sabemos que estamos nele; aquele que diz estar nele, também deve andar como ele andou.

Amados, não vos escrevo mandamento novo, mas um mandamento antigo, que tendes desde o princípio. Este mandamento antigo é a palavra que ouvistes. Contudo é um novo mandamento que vos escrevo, o qual é verdadeiro nele e em vós; porque as trevas vão passando, e já brilha a verdadeira luz. Aquele que diz estar na luz, e odeia a seu irmão, até agora está nas trevas. Aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e nele não há tropeço. Mas aquele que odeia a seu irmão está nas trevas, e anda nas trevas, e não sabe para onde vai; porque as trevas lhe cegaram os olhos.”.

“Não queirais dizer dentro de vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão.” e “examine-se o homem a si mesmo, então coma do pão e beba do cálice”. É isso.

Um abraço,

Eliel Amin

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