13:36

A OBRA MISSIONÁRIA PRECISA DE PARCERIA


Referência: Filipenses 4.10-23


INTRODUÇÃO

Ralph Martin diz que o propósito desta seção é claro: agradecer a dádiva que Epafrodito (2.25-30) trouxe ao apóstolo Paulo em Roma (4.18). Semelhantemente, F. F. Bruce diz que é nesta parte da carta que Paulo chega a uma das principais razões por que está escrevendo: expressar sua gratidão pela oferta que Epafrodito lhe trouxera da igreja de Filipos. O apóstolo a reservou para o fim com o objetivo de dar-lhe ênfase.

Nesse tributo de gratidão, Paulo dá um belo testemunho de sua relação com a igreja de Filipos na realização da obra missionária. Destacamos, aqui, dois pontos à guisa de introdução.

1. A cooperação é o melhor caminho para a realização da obra missionária (4.14)
Paulo não poderia levar a cabo tudo o que fez sem o apoio e a ajuda da igreja de Filipos. Essa igreja deu-lhe suporte financeiro e sustentação espiritual. Aqueles que estão na linha de frente precisam ser encorajados por aqueles que ficam na retaguarda. “... porque qual é a parte dos que desceram à peleja, tal será a parte dos que ficaram com a bagagem; receberão partes iguais” (1Sm 30.24). Deus chama uns para irem ao campo missionário e aos demais para sustentar aqueles que vão.

A obra missionária é um trabalho que exige um esforço conjunto da igreja e dos missionários. Neste texto vemos claramente como essa parceria funciona.

2. O missionário precisa estar vinculado a uma igreja e a igreja precisa estar comprometida com o missionário
A relação de Paulo com a igreja de Filipos era de parceria. Paulo estava ligado à igreja e a igreja o apoiava. Havia uma troca abençoadora entre o obreiro no campo e os crentes na base. A igreja não apenas enviava ofertas ao missionário, mas estava efetivamente envolvida com ele.

A falta de vínculo entre o missionário e a igreja local é um dos grandes problemas da missiologia moderna. As agências missionárias assumiram o papel das igrejas. Os missionários vão para os campos, mas perdem o contato com as igrejas. As igrejas enviam ofertas aos missionários, mas não se envolvem com eles no sentido de dar e receber. Assim, os missionários ficam solitários nos campos e as igrejas alheias aos resultados que acontecem nos campos. Faltam aos missionários o encorajamento das igrejas e, às igrejas, as informações dos missionários.

I. A RESPONSABILIDADE DA IGREJA COM O MISSIONÁRIO

1. Sustento financeiro sistemático (4.10,17)
A igreja precisa cuidar do obreiro e não apenas da obra. A igreja demonstra cuidado com o obreiro na medida que lhe dá suporte financeiro para realizar a obra. Todos os recursos para a realização da obra de Deus já foram providenciados; estão nas mãos dos crentes.

Paulo não recebeu salário de algumas igrejas para proteger-se dos críticos de plantão que tentavam distorcer suas motivações e atacar seu apostolado. Por outro lado, algumas igrejas, como a igreja de Corinto, deixaram de pagar o que lhe era devido, precisando das igrejas da Macedônia, inclusive da igreja de Filipos, enviar-lhe sustento enquanto ele trabalhava em Corinto (2Co 8.8,9; 12.13). De forma particular a igreja de Filipos deu suporte financeiro a Paulo, mesmo quando estava ainda na região da Macedônia, no início do processo de evangelização da Europa (4.16).

A igreja de Filipos jamais teve falta de interesse de ajudar o apóstolo; teve sim, circunstâncias desfavoráveis para fazê-lo. Hoje, muitas igrejas têm oportunidade para ajudar os missionários, mas falta-lhes interesse.

A sustentação financeira aos missionários precisa ser sistemática, pois as necessidades dos obreiros são diárias. Não é suficiente enviar ofertas esporádicas. A contribuição precisa ser metódica, suficiente e contínua.

2. Sustento espiritual nas tribulações (4.14)
A igreja de Filipos não apenas enviava dinheiro para Paulo, mas também consolo. Ela não apenas supria suas necessidades físicas, mas também emocionais e espirituais. Os filipenses haviam renovado sua bondade de dois modos: ajudando o apóstolo financeiramente e partilhando-lhe a aflição. Era uma igreja que contribuía para a obra missionária não apenas por um desencargo de consciência, mas, sobretudo, por um profundo gesto de amor ao missionário. A igreja de Filipos enviou Epafrodito não apenas com uma oferta, mas como a oferta para Paulo.

A expressão grega synkoinoneim “associando-se” significa associar-se não somente a Paulo como indivíduo, mas, sobretudo, associar-se em sua obra apostólica. A igreja era parceria do apóstolo e também da obra. A igreja se importava com o obreiro e também com a obra.

3. Reciprocidade na relação com o obreiro (4.15)
A igreja de Filipos tinha um lugar especial na vida de Paulo. Desde o início, ela tornou-se parceria do apóstolo e continuou assim até o final. Era uma igreja constante no seu compromisso com Deus e com o apóstolo. Há igrejas que têm picos de entusiasmo pela obra missionária por um tempo, fazem conferências especiais, enviam o pastor para congressos missionários e fazem levantamento de provisão para os obreiros que estão no campo, mas depois abandonam essa trincheira e abraçam outras prioridades. A igreja de Filipos era uma igreja fiel no seu envolvimento e engajamento com o missionário e com a obra missionária.

A relação da igreja com o apóstolo era uma avenida de mão dupla. Ela dava e recebia. Ela investia bens financeiros e recebia benefícios espirituais (1Co 9.11; Rm 15.27). Ela investia riquezas materiais e recebia riquezas espirituais. De Paulo, a igreja recebia bênçãos espirituais; da igreja, Paulo recebia bênçãos materiais. Ela ministrava amor ao apóstolo e recebia dele gratidão.

4. Faz das ofertas ao missionário um sacrifício vivo a Deus (4.18)
A igreja de Filipos não ofertava com pesar nem por constrangimento. Ela fazia da oferta ao apóstolo um culto a Deus. Ela enviava o sustento de Paulo com alegria tal como se estivesse oferecendo a Deus um sacrifício aceitável e aprazível. A contribuição missionária era um ritual de consagração, um tributo de louvor a Deus feito com efusiva alegria e, uma liturgia que subia ao céu como um aroma suave e agradável a Deus.

William Barclay diz que o apóstolo usa palavras que fazem do dom dos filipenses não um presente para Paulo, mas um sacrifício para Deus. A alegria de Paulo em receber oferta não está no que esta significava para ele, mas no que significava para eles. Não que Paulo deixasse de apreciar o valor do dom em seu favor, nem que ele desestimulasse o que eles faziam por ele; mas o que mais o alegrava é que esse mesmo dom era uma oferta agradável a Deus.

William Hendriksen comentando esta passagem, escreve: Paulo não poderia ter tributado melhor louvor aos doadores. Os donativos são “aroma de suave perfume”, uma oferenda apresentada a Deus, grata e muito agradável a ele. São comparáveis à oferta de gratidão de Abel (Gn 4.4), de Noé (Gn 8.21), dos israelitas quando no estado de ânimo correto apresentavam seus holocaustos (Lv 1.9,13,17) e dos crentes em geral ao dedicar suas vidas a Deus (2Co 2.15,16), como fez Cristo, ainda que de uma maneira única (Ef 5.2).

4. Faz ofertas não das sobras, mas apesar das necessidades (4.19)
A igreja de Filipos tinha o coração maior do que o bolso. Eles davam não do que sobejava, mas das suas próprias necessidades. Eles ofertavam sacrificialmente. Eles eram pobres, mas enriqueciam a muitos. Eles nada tinham, mas possuíam tudo. Eles olhavam a contribuição não como um peso, mas como uma graça, como um dom imerecido de Deus (2Co 81). Eles não apenas davam com generosidade, mas também com sacrifício (2Co 8.2), pois ofertavam não apenas segundo suas posses, mas voluntariamente ofertavam acima delas (2Co 8.3). Eles ofertavam não apenas para Paulo, o plantador da igreja, mas também para irmãos pobres que eles jamais tinham visto (2Co 8.4). Eles deram não apenas dinheiro, mas a eles mesmos (2Co 8.5).

William Barclay corretamente afirma que nenhuma dádiva faz o doador mais pobre. A riqueza divina está aberta para os que amam a Deus e ao próximo. O doador não se faz mais pobre, senão mais rico, porque seu próprio dom é a chave que lhe abre os dons e as riquezas de Deus.

II.A ATITUDE DO MISSIONÁRIO EM RELAÇÃO À IGREJA

1. Gratidão pelo sustento recebido da igreja (4.10)
O missionário precisa aprender a depender de Deus e demonstrar gratidão por aqueles que Deus levanta para cuidar de suas necessidades. Paulo escreve esta carta para registrar seu tributo de gratidão a essa igreja que foi sua parceira no ministério até o final da sua vida.

É importante destacar que Paulo coloca toda ênfase de sua alegria no Senhor, não na generosidade dos filipenses, diz Ralph Martin. Ele sabia que os crentes de Filipos eram apenas os instrumentos, mas que o Senhor era o inspirador. Paulo tinha profunda consciência que a providência de Deus, às vezes, opera por meio das pessoas. Assim, Deus supriu suas necessidades através da igreja. Ele agradece a igreja pela provisão, mas sua alegria está no provedor.

A gratidão é uma atitude que traz alegria para quem a manifesta e para quem a recebe. Paulo era um homem pródigo em elogios. Ele sabia reconhecer o valor das pessoas, o trabalho delas e sobretudo, a generosidade com que era tratado por elas. Ele tornava isso conhecido diante de Deus e dos homens. Precisamos desenvolver essa atitude no meio da igreja.

2. Contentamento ultracircunstancial (4.11,12)
Muito embora Paulo julgasse legítimo receber sustento das igrejas (1Co 9.4-10), decidiu não usufruir desse direito (1Co 9.12; 2Ts 3.9). Desta forma, em alguns lugares, precisou trabalhar para suprir suas próprias necessidades (1Ts 2.7-9). Com isso, aprendeu a viver contente em toda e qualquer situação. A vida de Paulo não floresceu num paraíso de arrebatadoras venturas. Ele passou por grandes necessidades. Ele sabia o que era fome, sede, frio, nudez, prisão, açoites, tortura mental e perseguições.

William Hendriksen corretamente comenta que Paulo não é nenhum presunçoso para proclamar: “Eu sou o capitão de minha alma”. Nem tampouco é um estóico que, confiando em seus próprios recursos, e supostamente imperturbável ante o prazer e a dor, busque suportar sem queixa sua irremediável necessidade. O apóstolo não é uma estátua. Ele é um homem de carne e osso. Ele já teve experiências de alegrias e aflições, mas na urdidura dessa luta aprendeu a viver contente. Seu contentamento, porém, não emanava dele mesmo, mas de um outro, além de si mesmo. Seu contentamento vinha de Deus!

O contentamento é um aprendizado e não algo automático, diz o apóstolo. A palavra grega que Paulo usa memyemai, “ter experiência” (4.12), era usada para a iniciação dos cultos de mistério. F. F. Bruce diz que da raiz my e deste verbo myein deriva-se mysterion, “mistério”. O aprendizado do contentamento cristão, porém, não se dá por meio de um ritual místico, mas pelo exercício da confiança na providência divina.

Bruce Barton afirma que os bens materiais devem ser vistos sempre como dons de Deus e nunca como substitutos de Deus. Nosso contentamento deve estar em Deus mais do que nas dádivas de Deus. O contentamento de Paulo não está em coisas ou circunstâncias. A base do seu contentamento é Cristo e não o dinheiro. Para ele o ser é mais importante do que o ter. Humilhação ou honra, fartura ou fome, abundância ou escassez eram situações vividas por ele, mas no meio delas e apesar delas, aprendeu a viver contente, pois a razão do seu contentamento estava em Deus e não nas circunstâncias.

A palavra grega autarkes, “contente” (4.11) é uma das palavras mais importantes da ética pagã. Esta autarkeia (auto-suficiência) era a maior aspiração da ética estóica. Para os estóicos autarkeia significava uma situação espiritual em que o homem era absoluta e inteiramente independente de tudo e de todos; um estado em que o homem aprendia por si mesmo a não necessitar de nada nem de ninguém. Os estóicos propunham alcançar essa auto-suficiência eliminando todo desejo e toda emoção. Paulo, porém, não era um estóico, mas um cristão. Para o estóico o contentamento era uma conquista humana; para Paulo, um dom divino. O estóico era auto-suficiente; Paulo encontrava sua suficiência em Deus.

Nessa mesma linha de pensamento, Ralph Martin diz que autarkeia descrevia a independência de uma pessoa quanto a coisas materiais. Era uma asserção de auto-suficiência. Era a virtude fundamental, na vida moral dos estóicos. Paulo tomou emprestada essa palavra e a transformou em algo totalmente diferente, pois o homem “auto-suficiente” estóico enfrenta a vida e a morte com recursos encontrados dentro de si mesmo. Paulo, porém, encontra o segredo da vida em Cristo (1.21; 4.13). F. F. Bruce diz que Paulo empregou a palavra autarkeia a fim de expressar sua independência das circunstâncias externas. Estava sempre consciente de sua total dependência de Deus. O apóstolo era mais “suficiente em Deus” que auto-suficiente. O próprio apóstolo escreveu: “... a nossa suficiência vem de Deus” (2Co 3.5).

Warren Wiersbe, expondo este texto, diz que Paulo era um termostato e não um termômetro. Um termômetro não muda coisa alguma, apenas registra a temperatura. Um termômetro não tem o poder de mudar as coisas, ele se deixa afetar por elas. Está sempre descendo ou subindo de acordo com a temperatura. Mas um termostato regula a temperatura do ambiente em que se encontra e faz as alterações necessárias. Paulo era um termostato, pois em vez de ter altos e baixos espirituais de acordo com a mudança das situações, ele tinha aprendido a viver contente apesar das situações. Ele não era uma vítima das circunstâncias, mas um vitorioso sobre elas.

3. Confiança inabalável em Cristo (4.13)
Paulo está preso, na sala de espera do martírio, com um pé na sepultura, caminhando para uma condenação inexorável, mas longe de ser um caniço agitado pelo vento, ergue-se como uma rocha que mesmo fustigada pelo vendaval da adversidade, permanece firme e imperturbável. “Tudo posso naquele que me fortalece” (4.13). H. C. Moule está certo quando diz que a expressão “eu tenho forças para fazer todas as coisas”, obviamente, não significa todas as coisas no sentido pleno; Paulo não se tornara onipotente. Paulo não pode tudo, ele pode todas as coisas dentro da vontade de Deus. Ele pode todas as coisas em Cristo e não à parte de Cristo.

J. A. Motyer diz que o versículo 13 refere-se a dois tipos de poder. De um lado há o poder que Paulo experimenta nas circunstâncias adversas da vida. Este é o poder da vitória sobre das demandas de cada dia. Mas, este poder ergue-se de outra fonte, não inerente em Paulo, mas derivado de um outro alguém. Paulo tem este poder diário para enfrentar as necessidades diárias porque Jesus infundiu nele seu poder (dynamis). Paulo somente está habilitado a enfrentar todas as circunstâncias porque Jesus é quem o fortalece.

A razão da fortaleza do apóstolo Paulo não é sua idade, sua força, seu conhecimento, sua influência ou seus ricos dons e talentos, mas Cristo. Ele tudo pode porque o Todo-poderoso Filho de Deus é quem o fortalece. Ele é como uma máquina ligada na fonte de energia, a força do seu trabalho vem não dele mesmo, mas do poder que vem de Cristo.

4. Maior interesse no bem espiritual dos crentes do que no dinheiro deles (4.17)
A maior alegria de Paulo não foi receber o donativo enviado pela igreja, mas saber que os dividendos espirituais da igreja aumentaram por conta da sua generosidade. Paulo manteve a tônica desta carta: os interesses do outro vêm antes dos interesses do eu.

F. F. Bruce corretamente afirma que o apóstolo enfatiza que sente gratidão não apenas porque eles lhe enviaram uma oferta, mas, também, porque esse envio serviu de sinal da graça celestial na vida deles. Usando uma figura de linguagem, seria um depósito que efetuaram no banco celeste, que se multiplicaria a juros compostos, para benefício deles mesmos. O objetivo dos filipenses fora que sua generosidade tivesse Paulo como alvo, e isso, de fato, aconteceu; todavia, no âmbito espiritual, o lucro permanente pertence aos filipenses.

Ralph Martin, na mesma linha de raciocínio, diz que este versículo está cheio de termos comerciais. “... procure o donativo” talvez seja um termo técnico para a exigência de pagamento de juros. Já a palavra “fruto” é lucro ou juros. A expressão grega pleonazein “que aumente” é um termo bancário regular para crescimento financeiro; “vosso crédito” significa conta. Assim, a sentença toda é um jogo de palavras que procura exprimir a esperança de Paulo, num jargão comercial: “aguardo os juros que serão creditados em vossa conta”, de tal forma que Paulo, no último dia, estará satisfeito com seus investimentos em Filipos.

Quando nós ofertamos, nós beneficiamos a nós mesmos na mesma medida em que socorremos os necessitados (2Co 9.10-15). Quem dá ao pobre, a Deus empresta. Quem semeia com abundância, com abundância também ceifará (2Co 9.7). O texto bíblico de Hebreus 6.10 diz: “Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos”. O doador enriquece as duas pessoas: ao que recebe e a si próprio. Nessa mesma trilha de pensamento William Hendriksen diz que o donativo era realmente um investimento que entrava como crédito na conta dos filipenses, um investimento que lhes acresce paulatinamente ricos dividendos. A Palavra de Deus é enfática em afirmar que um donativo dado de modo correto, sempre enriquece o doador. “A alma generosa prosperará” (Pv 11.25). “Quem se compadece do pobre ao Senhor empresta” (Pv 19.17). “Mais bem-aventurado é dar que receber” (At 20.35).

Hoje, muitos obreiros, pastores e missionários estão atrás do dinheiro do povo e não interessados na alma do povo (2Co 12.14-18). São obreiros fraudulentos e gananciosos que usam toda sorte de esperteza para explorar o povo em vez de apascentar o povo. São pastores de si mesmos e não do rebanho de Deus. São exploradores das ovelhas e não pastores das ovelhas. São mercenários e não missionários.

5. Recebe os donativos da igreja com reverência cúltica (4.18)
Agora, o apóstolo Paulo deixa de lado a linguagem da contabilidade e apela para as expressões do culto. Paulo recebe o donativo da igreja com tal reverência que ele vê nessas ofertas da igreja um sacrifício agradável e suave a Deus. Ele entende que antes daqueles irmãos filipenses terem lhe enviado esse sustento a Roma, essas ofertas subiram como aroma suave aos céus, antes deles serem dadas a ele, foram consagradas a Deus. A expressão “aceitável e aprazível a Deus” são termos cúlticos, associados ao sistema sacrificial veterotestamentário.

Werner de Boor neste mesmo raciocínio diz que Paulo está profundamente imbuído de que o donativo que o “preenche” na realidade foi feito para Deus. Afinal, um “sacrifício” nunca é ofertado a pessoas, mas somente a Deus.

Warren Wiersbe, comentando sobre o significado espiritual da oferta enviada pela igreja de Filipos, diz que Paulo a compara com três coisas: Primeiro, Paulo a compara com uma árvore brotando (4.10). O termo traduzido “renovar” refere-se a uma flor se abrindo ou uma árvore brotando ou florescendo. Muitas vezes, passamos por invernos espirituais, mas quando chega a primavera, as bênçãos e a vida se renovam. Segundo, Paulo a compara com um investimento (4.14-17). Esse investimento era muito lucrativo para a igreja. A igreja associou-se com Paulo e nesse acordo, a igreja deu riquezas materiais a Paulo e recebeu riquezas espirituais do Senhor. É o Senhor quem cuida da contabilidade e jamais sonegará dividendos espirituais. Terceiro, Paulo a compara com um sacrifício (4.18). É um sacrifício espiritual colocado no altar para a glória de Deus.

6. Retribui o socorro financeiro da igreja em fervorosa intercessão (4.19)
Um missionário não é apenas alguém que prega, mas, sobretudo, alguém que ora. Paulo sabe que a igreja lhe enviou uma oferta da sua pobreza, mas Deus recompensará à igreja da sua riqueza em glória. A igreja supriu a necessidade financeira e emocional do apóstolo, mas Deus há de suprir todas as necessidades da igreja.

É importante enfatizar que Deus supre não nossa ganância nem mesmo nossos desejos, mas nossas necessidades. James Hunter, em seu livro O Monge e o Executivo, diz que precisamos distinguir desejos de necessidades. A provisão divina contempla nossas necessidades e não nossos desejos. Bruce Barton escreve: Nós precisamos lembrar a diferença entre desejos e necessidades. A maioria das pessoas deseja sentir-se bem e evitar a todo o custo o desconforto e a dor. Nós poderemos não conseguir tudo o que desejamos, mas Deus irá prover para nós tudo aquilo de que necessitamos. Confiando em Cristo, nossas atitudes e desejos podem mudar. E, em vez de desejarmos todas as coisas, aceitaremos sua provisão e poder para viver para ele.

Hudson Taylor costumava dizer: “Quando a obra de Deus é realizada à maneira de Deus e para a glória de Deus, nunca falta a provisão de Deus”.

7. Reconhece que o fim último da vida é a glória de Deus (4.20)
Para Paulo, a doutrina nunca é uma matéria árida. Sempre que ocupa sua mente, também enche seu coração de louvor. Paulo é um homem que faz da vida uma doxologia constante. Sua teologia governa suas atitudes. Ele prega o que vive e vive o que prega. Sua vida está centrada em Deus e não nele mesmo. Ele não busca glória pessoal. Ele não constrói monumentos a si mesmo. Ele não busca as luzes da ribalta nem procura os holofotes do sucesso. Ele vive com os pés na terra, mas com o coração no céu. Ele fecha as cortinas da sua vida proclamando a verdade central das Escrituras: a glória de Deus é o grande vetor da vida humana.

CONCLUSÃO

Paulo conclui esta carta magna da alegria, este monumento formoso da providência divina, como um pastor que se lembra de cada uma das suas ovelhas (4.21) e invoca sobre elas a graça do Senhor Jesus (4.23). E também, como um evangelista que dá relatórios dos milagres da pregação do evangelho, cujos frutos são vistos até mesmo na casa de César (4.22). Essa expressão não se refere necessariamente aos familiares ou parentes do imperador, mas a todas as pessoas que estavam a seu serviço nos departamentos domésticos e administrativos da casa imperial. Esses membros da casa de César eram pessoas convertidas, possivelmente, por intermédio do apóstolo durante sua prisão em Roma. Assim, Paulo transformou sua prisão num campo missionário e os frutos apareceram mesmo entre algemas. Esse fato nos ensina que não é o lugar que faz a pessoa, mas é a pessoa que faz o lugar. Ensina-nos, outrossim, que no Reino de Deus não existe lata de lixo, ou seja, não há vida irrecuperáveis. Finalmente, nos ensinam que as oportunidades estão ao nosso redor.

William Hendriksen, coloca esta bendita verdade assim: Ainda mais importante é o fato de que o Cristianismo havia penetrado até mesmo nos círculos desses servidores palacianos. Sua posição no ambiente completamente pagão, onde muitos adoravam o imperador como se fosse deus, não os impedia de permanecer fiéis a seu único Senhor e Salvador, de anunciar as boas-novas a outros e de reanimar a igreja de Filipos com suas saudações. A eternidade revelará quão grandes bênçãos devem ter emanado das vidas daqueles que se dedicaram a Cristo no seio de ambientes tão mundanos!


Rev. Hernandes Dias Lopes

16:00

Como Irei a Deus?



Horatius Bonar

É com nossos pecados que nos achegamos a Deus, pois não podemos nos apresentar a Ele com qualquer outra coisa que seja realmente nossa. Essa é uma das lições que aprendemos com lentidão. Mas, sem termos aprendido a mesma, não poderemos dar um só passo correto naquilo que chamamos de vida religiosa.

Rebuscar coisa boa em nossa vida passada, ou apelar para algo de bom no presente, se descobrirmos que o nosso passado nada contém de positivo, é nosso primeiro pensamento quando começamos a procurar resolver a grande questão pendente entre Deus e nós - o perdão de nossos pecados. No favor de Deus há vida (Salmo 30:5), e estar sem o favor divino é sentir-se infeliz neste mundo, é não desfrutar de alegria no mundo por vir. Não há vida digna de ser chamada de vida, exceto aquela que flui de Sua amizade infalível. Sem essa amizade, nossa vida aqui é um fardo e uma canseira. Nessa amizade, porém, não há qualquer mal, e toda a tristeza torna-se uma alegria.

"Como poderei ser feliz?" foi a pergunta de uma alma cansada que já experimentara cem maneiras diversas de obter a felicidade, mas sempre falhara.

"Obtenha o favor de Deus", foi a resposta imediata de alguém que já havia provado pessoalmente que "o Senhor é bondoso" (1 Pedro 2:3).

"Não haverá outra maneira de alguém ser feliz?"

"Nenhuma!" foi a pronta e decidida resposta- " O homem vem buscando algum outro caminho para a felicidade por seis mil anos, e tem fracassado totalmente. E você obteria sucesso?"

"Não, não teria possibilidade alguma; e não quero continuar tentando indefinidamente, Mas, esse favor de Deus me parece algo muito duvidoso; e o próprio Deus parece estar tão distante que não sei para onde voltar-me."

"O favor de Deus não está cercado de dúvidas. Ele e real acima de todas as demais realidades; e Deus é o mais próximo de todos os seres, sendo tão acessível quanto é gracioso e bom."

"Esse favor divino, do qual você fala, para mim sempre pareceu misterioso, e não posso entendê-lo."

"Diga antes que é como a luz do sol que está sendo ocultada de você pelas suas dúvidas."

"Sim, sim, acredito em você. Mas, como poderei deixar para trás as dúvidas e chegar à luz da certeza? Parece ser algo tão difícil, exigindo muito tempo para chegar a concretizar-se.

"Você é quem torna distante e difícil aquilo que Deus fez simples, próximo e fácil."

"Você está querendo dizer-me que não há quaisquer dificuldades?"

"Em certo sentido, há mil dificuldades; mas, em um outro sentido, não há nenhuma."

"Como pode ser isso?"

"O Filho de Deus porventura dificultou o caminho do pecador quando disse à multidão: 'Vinde a mim, e eu vos aliviarei'?"

"Certamente que não. Ele queria que todos fossem imediatamente a Ele, e naquele momento em que estavam juntos Ele lhes daria descanso."

"Portanto, se você estivesse pessoalmente naquele lugar, quais dificuldades teria encontrado?"

"Nenhuma, por certo. Falar em dificuldades, quando eu estivesse ao lado do próprio Filho de Deus, seria uma insensatez, ou pior ainda."

"O Filho de Deus sugeriu alguma dificuldade para o pecador, ao conversar com a mulher samaritana, sentado à beira do poço de jacó? Todas as dificuldades não foram antecipadas ou eliminadas por estas admiráveis palavras de Cristo: "...tu lhe pedirias, e ele te daria água viva?"

"Sim, sem dúvida. Tudo se resumia em pedir e receber. A transação inteira terminou ali mesmo. O tempo e o espaço, a distância e as dificuldades nada têm a ver com essa questão; a dádiva seguiu-se à petição, corno se fossem causa e efeito. Até esta altura, tudo é muito claro. Porém, desejo indagar: Não existe alguma barreira?"

"Nenhuma, se é que o Filho de Deus realmente veio salvar os perdidos. Mas, se Ele veio para aqueles que estavam apenas parcialmente perdidos, ou que pudessem salvar-se em parte, então a barreira seria infinita. Isso eu admito; de fato, insisto sobre esse ponto.

"Portanto, estar perdido não serve de barreira para quem quer ser salvo?"

"Eis uma pergunta tola que merece uma resposta tola. Quando sentimos sede, isso porventura serve de empecilho para obtermos água? ou o fato de que alguém é pobre serve de empecilho para receber riquezas dadas por algum amigo?"

"Não. A verdade é que a sede me prepara para a água, e a minha pobreza me prepara para as riquezas."

"Ah, sim, o Filho do homem veio não para chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento. Se você não é um pecador completo, então há uma barreira. Mas, caso você seja um pecador completo, então não há nenhuma barreira.

"Um pecador na íntegra! Será que esse é o meu verdadeiro caráter?"

"Não há dúvida quanto a isso. Se você ainda duvida, examine a sua Bíblia. O testemunho de Deus é que você é um pecador completo, e que terá de tratar com Ele como tal, pois os sãos não precisam de médico. e, sim, os doentes."

"Um pecador na íntegra! Bem, mas não deveria eu livrar-me de alguns dos meus pecados, para poder receber alguma bênção da parte de Deus?"

"Não, realmente. Pois somente Ele pode livrar alguém até mesmo de um pecado. Assim sendo, você terá de ir a Ele com toda a sua ruindade, sem importar quão grande ela seja. Se você não é um pecador na íntegra, então, na verdade você nem precisa de Cristo, pois Ele é o Salvador no mais total sentido da palavra. Ele não ajuda você a salvar-se; e nem você pode ajudá-lo a salvar a você mesmo. Ou Ele faz tudo, ou nada faz. Uma meia salvação só serve para aqueles que não estão totalmente perdidos. Ele mesmo carregou 'em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados' (1 Pedro 2:24).

O que acabamos de descrever foi a maneira como Lutero encontrou a paz e a liberdade de Cristo. A história de seu livramento é muito instrutiva, porque mostra como as pedras de tropeço da justiça-própria devem ser removidas, mediante a plena exibição do evangelho gratuitamente oferecido, e faia das boas-novas do amor de Deus para com aqueles que não são amados e nem São amoráveis; das boas-novas de perdão para o pecador, sem o concurso de dinheiro ou dos méritos humanos - as boas-novas da PAZ COM DEUS, oferecidas é exclusivamente através da propiciação daquele que estabeleceu a paz por meio do sangue de Sua cruz.

Uma das primeiras dificuldades encontradas por Lutero foi que ele pensava que teria de despertar o arrependimento dentro de si mesmo; e então que, tendo conseguido isso, teria de apresentar esse arrependimento como uma oferta pacífica ou como uma recomendação a Deus. E se esse arrependimento não pudesse ser apresentado como uma recomendação positiva, pelo menos poderia servir de apelo para que o seu castigo fosse mitigado.

Perguntava Lutero: "Como poderei ousar crer no favor de Deus, enquanto não houver em mim uma real conversão? Preciso mudar, antes que Ele possa receber-me."

Foi esclarecido a Lutero que a "conversão" ou o "arrependimento" que ele tanto desejava jamais poderia ocorrer enquanto considerasse Deus um severo Juiz, destituído de amor. O que nos conduz ao arrependimento é a "bondade de Deus" (Romanos 2:4). Se o pecador não reconhecer essa bondade, seu coração não poderá ser quebrantado. Um pecador impenitente despreza as riquezas da bondade, da longanimidade e da tolerância de Deus.

O idoso conselheiro de Lutero disse-lhe claramente que ele deveria descontinuar as penitencias e as mortificações, bem como todas as preparações da justiça-própria para tentar obter ou adquirir o favor divino

Conforme Lutero nos revela de forma tocante, essa voz pareceu descer do próprio céu: "Todo autêntico arrependimento começa com o conhecimento do amor perdoador de Deus".

Enquanto Lutero ouvia, raiou-lhe a luz do entendimento, e uma alegria até então desconhecida tomou conta dele. Nada havia entre ele e Deus! Nada havia entre ele e o perdão! Nada de bondade preliminar ou de sentimentos preparatórios! Lutero aprendeu a lição dada pelo apóstolo. "Cristo... morreu a seu tempo pelos ímpios" (Romanos 5:6). Deus "justifica ao ímpio" (Romanos 4:5). Todo e qualquer mal existente no ímpio é incapaz de impedir essa justificação; e toda a bondade do pecador (se nele houver tal coisa) não pode ajudá-lo a obtê-la. Ele terá de ser recebido como um pecador, ou nem poderá ser recebido. O perdão oferecido reconhece somente a sua culpa; e a salvação provida na cruz de Cristo considera-o apenas um perdido.

Entretanto, o senso de culpa é por demais profundo para ser facilmente abafado. O temor voltou ao coração de Lutero, e ele foi aconselhar-se uma vez mais, exclamando: "Oh, o meu pecado, o meu pecado!" como se a mensagem de perdão, que ele recebera ainda tão recentemente, fosse boa demais para ser veraz, e como se pecados como os seus não pudessem ser fácil e simplesmente perdoados.

"você quer ser apenas um pecador aparente, e, portanto, necessitado apenas de um Salvador aparente?"

Assim indagou o venerável amigo de Lutero, adicionando então solenemente: "Reconheça que Jesus Cristo é o Salvador de grandes e autênticos pecadores, os quais nada merecem senão a mais total condenação?'

"Mas Deus não é soberano em Seu amor selecionador?" indagou Lutero. E completou: "Talvez eu não seja um dos escolhidos de Deus?'

"Olhe para as cicatrizes de Cristo", foi a resposta, "e contemple ali a mente bondosa de Deus para com os filhos dos homens. Em Cristo enxergamos Deus, ficamos sabendo Quem Ele é, e como Ele nos ama. Pois o Filho é quem revela o Pai; e o Pai enviou o Filho para que fosse o Salvador do mundo".

Certo dia, quando estava doente e acamado, disse Lutero a um amigo: "Creio no perdão dos pecados". E ajuntou: "Porém, o que isso tem a ver comigo?"

"Ah, e isso não inclui os seus próprios pecados?" indagou aquele amigo, acrescentando: "Você crê que os pecados de Davi foram perdoados? e que os pecados de Pedro foram perdoados? Por que você não pode crer que os seus próprios pecados podem ser perdoados? O perdão tanto é para você como foi para Davi ou Pedro"

Foi dessa maneira que Lutero encontrou tranqüilidade. O Evangelho, uma vez crido dessa forma, trouxe a Lutero liberdade e paz. Ele compreendeu que havia sido perdoado, porque Deus dissera que o perdão seria a possessão imediata e garantida de todos quantos dessem credito ás boas-novas da salvação.

No solucionamento da grande questão entre Deus e o pecador, não poderia haver nem barganha e nem preço de qualquer espécie. A base do acordo foi lançada faz quase vinte séculos; e a poderosa transação realizada na cruz do Calvário foi tudo quanto se fez necessário para que o preço fosse pago. "Está consumado" é a mensagem de Deus aos filhos dos homens que perguntam: "Que devo fazer para ser salvo?" Essa transação concluída sobrepuja todos os esforços dos homens para se justificarem, ou para ajudarem a Deus a justificá-los. Vemos Cristo crucificado, bem como vemos Deus em Cristo reconciliando o mundo conSigo mesmo, não imputando aos homens as suas transgressões; e esse fato resulta daquilo que foi realizado na cruz, onde a transferência da culpa do pecador para o divino Filho de Deus foi efetuada de uma vez por todas. Ora, o Evangelho é justamente o anúncio das "boas-novas" dessa grande transação. Quem quer que dê crédito a esse anúncio, toma-se participante de todos os benefícios garantidos por essa transação.

"Mas, não deveria eu sentir-me endividado diante da realização do Espírito Santo em minha alma?"

"Sem dúvida; pois qual esperança poderia haver para você sem a operação do todo-poderoso Espírito, que vivifica os mortos?"

"Nesse caso, não deveria eu esperar pelos impulsos do Espírito? E uma vez recebidos esses impulsos, não deveria eu apresentar os sentimentos despertados por Ele como razões de minha justificação?"

"Não de modo nenhum. Ninguém é justificado pelas realizações do Espírito, mas somente pela realização de Cristo. E as operações do Espírito também não servem de base para a fé, e nem de motivos para alguém esperar o perdão da parte do Juiz de todos. O Espírito Santo opera em nós, não a fim de preparar-nos para sermos justificados, e nem para tomar-nos aptos para recebermos o favor divino, e, sim, para conduzir à cruz, tal e qual nós somos. Pois a cruz é o único lugar onde Deus trata misericordiosamente com os transgressores."

É na cruz que encontramos paz com Deus e recebemos o Seu favor. Ali achamos não somente o sangue que nos lava, mas também a retidão que nos reveste e embeleza, de tal maneira que dali por diante somos tratados por Deus como se nunca tivesse havido a nossa injustiça, e como se a retidão de Seu Filho fosse nossa.

A isso Paulo chama de retidão "imputada" (ver Romanos 4:6.8,11,22,24), a saber, Deus lança a retidão de Cristo em nossa conta, como se tivéssemos direito às bênçãos que tal retidão pudesse obter para nós. Retidão obtida por nós mesmos ou lançada em nossa conta por outro ser humano chamamos retidão infundida, concedida ou inerente, mas retidão alheia, a nós creditada por Deus, como se nossa, chamamos retidão imputada. Paulo alude a isso, quando diz: "...revesti-vos do Senhor Jesus Cristo..." (Romanos 13:14 e Gálatas 3:27). Assim, Cristo nos representa; e Deus trata conosco como quem é representado por Cristo. E então, necessariamente haverá a retidão interna como conseqüência natural. Mas, não devemos esperar obtê-la, antes de irmos a Deus buscar a retidão de Seu Filho.

A retidão imputada deve vir primeiro. Ninguém tem a retidão no íntimo, enquanto não tiver recebido a retidão que vem de fora. Assim, fazer alguém de sua própria retidão o preço oferecido a Deus em troca da retidão que há em Cristo, é desonrar a Deus e negar o valor de Sua cruz. A obra do Espírito não consiste em tomar-nos santos, a fim de podermos ser perdoados, mas em mostrar-nos a cruz, onde os transgressores acham perdão. Tendo achado o perdão ao pé da cruz, iniciamos aquela nova vida de santidade à qual fomos chamados.

O que Deus oferece ao pecador é o perdão imediato: "...não por obras de justiça praticadas por nós..!' (Tito 3:5), e, sim, pela grande obra de retidão realizada em nosso lugar por nosso Substituto. Nossa qualificação para a obtenção dessa retidão é o fato que somos injustos, tal como a qualificação para que um enfermo receba cuidados médicos é que ele esteja doente.

Sobre alguma bondade anterior, como base para o recebimento do perdão, o Evangelho faz total silêncio. Os apóstolos jamais aludiram a sentimentos religiosos preliminares, como algo necessário para que recebamos a graça de Deus. Temores, perturbações, auto-indagações, amargos clamores implorando misericórdia, pressentimentos de juízo e resoluções de mudança de vida, dentro da seqüência do tempo, podem anteceder o recebimento das boas-novas de salvação por parte do pecador, mas nenhuma dessas coisas constitui a sua preparação, e nem o qualifica. Ele é bem recebido, mesmo sem qualquer dessas coisas. Elas não lhe garantem o perdão, tornando este mais gracioso ou mais gratuito. As necessidades do pecador arrependido foram os seus argumentos: "Deus, sé propício para comigo, um pecador!" Sim, ele precisava de salvação, e dirigiu-se a Deus a fim de recebê-la, e também porque Deus deleita-se em socorrer aos pobres e necessitados. Ele precisava de perdão, foi a Deus e obteve o perdão sem qualquer mérito pessoal e sem ter de pagar coisa alguma. Quando ele NADA TINHA PARA PAGAR sua dívida, Deus o perdoou gratuitamente. Foi o fato que ele nada tinha para pagar que provocou o mais franco perdão.

Ah! Isso é graça. "Nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou" (1 João 4:10)! Ele nos amou, mesmo quando estávamos mortos em nossos delitos. Ele nos amou, não porque fôssemos bondosos, mas por ser Ele "rico em misericórdia"; não porque fôssemos dignos de Seu favor, mas porque Ele se deleita em mostrar-se longânimo para conosco. Ele nos acolheu movido pela Sua própria graça, e não porque fôssemos dignos de ser amados. "Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei" (Mateus 11:28). Sim, Cristo convida os cansados! Esse cansaço espiritual é que capacita o pecador a vir a Cristo, o que também permite que Cristo socorra o pecador. Onde houver esse cansaço, haverá também o descanso! Esses dois aspectos são encontrados lado a lado. Talvez você diga: "Este lugar de descanso não é para mim". O quê? você quer dizer que esse descanso não se destina a você?" Ora, esse descanso não se destina aos cansados? Talvez você insista: "Mas, eu não posso fazer uso dele". O quê? Você não pode fazer uso do descanso? Você quer dizer algo como: "Estou tão cansado que nem posso sentar-me?" Se você tivesse dito: Estou tão cansado que nem posso ficar de pé, nem andar e nem subir em lugares elevados, todos lhe entenderiam. Mas, dizer alguém: "Estou tão cansado que nem posso sentar-me" exprime uma grande tolice, ou algo pior, pois estaria fazendo do ato de sentar-se uma ação meritória, dando a entender que sentar-se é fazer algo importante, que requer um longo e prodigioso esforço.

Ouçamos, pois, as graciosas palavras do Senhor: "Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede. Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva" (João 4:10). "Tu lhe pedirias, e ele te daria água viva!" Isso é tudo. Quão real, quão verdadeiro, quão gratuito; e ainda, quão simples! Ou então, escutemos a voz do servo, na pessoa de Lutero: "Oh, meu querido irmão, aprenda a conhecer a Cristo crucificado. Aprenda a entoar um novo cântico; a desistir de obras anteriores, e a clamar a Ele: Senhor Jesus, Tu és a minha retidão, e eu sou o Teu pecado. Tomaste sobre Ti o que é meu, e me deste o que é Teu. O que eu era, nisso Te tornaste, a fim de que eu me tornasse naquilo que eu não era. Cristo habita somente com os pecadores confessos. Medita com freqüência no amor de Cristo e provarás quão doce Ele é". Sim, perdão, paz, vida - todas essas coisas são dádivas. Os dons divinos, trazidos do céu pelo Filho de Deus são oferecidos pessoalmente a cada pecador necessitado pelo Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Esses dons não se destinam a ser comprados, mas recebidos; da mesma forma que os homens recebem a luz do sol, completa, garantida e gratuitamente. Esses dons não se destinam a ser merecidos por meio de esforços ou sofrimentos pessoais, por meio de orações ou lágrimas; antes, devem ser aceitos imediatamente, como aquilo que foi adquirido pelos labores e pelos sofrimentos do nosso grande Substituto. Não devemos ficar esperando por esses dons, mas eles devem ser aceitos prontamente, sem qualquer hesitação ou falta de confiança, da mesma forma que os homens aceitam os presentes de amor de algum amigo generoso. E também não devem ser reivindicados com base na aptidão ou na bondade, mas antes, por causa da necessidade e indignidade da pobreza e do vazio espirituais.



Obs: O autor prossegue o livro desenvolvendo os seguintes temas: "Qual é Minha Esperança?", "Em Meu Lugar", "Muito Tempo", "Não posso Largar!", "Para Onde? Para Onde?", "A Aparência deste Mundo Passa", "E se Isso for Verdade?" e "A Era Vindoura".

17:26

" O Descanso Eternos dos Santos"




Richard Baxter

CAPITULO X

* * *

O descanso dos santos não deve ser esperado na Terra.

A fim de mostrar o pecado e a insensatez de esperar descanso aqui na Terra, ele divide o assunto em três tópicos. Estudaremos o primeiro a seguir:

I) A razão dos sofrimentos presentes se deve a:

1. Que eles são o caminho para o descanso;

2. Evitam que nós confundamos nosso descanso;

3. Evitam que percamos nosso caminho para ele;

4. Avivam nossas passadas em direção a ele;

5. Incomodam, principalmente, nossa carne;

6. Sob eles, o doce antegozo do descanso é freqüentemente experimentado.

Não chegamos ainda ao nosso lugar de descanso. A Terra permanecerá? Quão grande é, então, nosso pecado e insensatez em buscar e esperá-lo aqui! Onde encontraremos cristãos que não mereçam esta reprovação? Nós todos desejaríamos ter uma prosperidade ininterrupta, porque é agradável e prazeroso para a carne, mas não consideramos a irracionalidade de tais desejos. E quando desejamos casas confortáveis, bens, terras e rendas, ou os meios necessários que Deus tem designado para nosso bem espiritual, buscamos descanso nestes prazeres. Quer estejamos em um estado de aflição ou de prosperidade, é visível que fazemos da criação o nosso descanso.

Não desejamos mais ardorosamente os prazeres terrenos, quando carecemos deles, do que desejamos ao próprio Deus? Não nos deleitamos mais em possuí-los, do que em agradar a Deus? E se os perdemos, não ficamos mais perturbados do que se perdemos a Deus? Não é suficiente que eles sejam ajudas revigorantes no nosso caminho para o céu, e ainda tem que ser o nosso próprio céu?

Leitor cristão, eu me disporia a fazer-te sensível a este pecado, tanto como de qualquer outro pecado no mundo, se eu soubesse como fazê-lo, pois a grande contenda do Senhor conosco é neste ponto. Por esta causa, eu imploro, mais vigorosamente, que você considere a razão das aflições presentes e a irracionalidade de descansarmos em prazeres, como também na nossa relutância em fazer morrer aquilo que nos impede de alcançar o descanso eterno.

Portanto, considere:

1) Que a labuta e a dificuldade são caminhos habituais para se chegar ao descanso, tanto no curso natural, quanto no curso da graça. Pode existir descanso sem fadiga? Você não

labuta e se afadiga primeiramente para descansar depois? 0 dia do labor vem primeiro e depois vem a noite para o descanso. Porque desejaríamos que o curso da graça fosse modificado, mais do que o curso natural? Este é um decreto estabelecido "'que devemos, através de muito esforço, entrar no reino de Deus" e que "se sofrermos com Cristo, com Ele reinaremos". E quem somos nós para que os estatutos de Deus sejam modificados em prol dos nossos prazeres?

2) As aflições são muito úteis para nós, para evitar que confundamos nosso descanso. O movimento cristão em direção ao céu é voluntário e não obrigatório. Portanto, as aflições são proveitosas, pois ajudam o cristão a compreender e desejar este caminho. O engano mais perigoso de nossas almas é tomar a criatura por Deus e a Terra pelo céu. Como são entusiasmados, afetuosos e vivos nossos conceitos do mundo, até que as aflições nos façam ponderar sobre eles. Elas falam convincentemente e serão ouvidas, quando os pregadores não forem. Muitos crentes fracos, algumas vezes, dirigem suas atenções para as riquezas, ou prazeres carnais, ou aplausos, e fazendo isso, perdem seus prazeres em Cristo e a alegria no alto, até que Deus aja sobre suas riquezas, ou filhos, ou consciência, ou saúde e derrube a montanha que eles consideravam tão inabalável. E então, quando eles são acorrentados pelos grilhões de Manassés, ou são prostrados em suas camas por causa de enfermidades, o mundo já não é nada significante, enquanto que o céu passa a ser.

Se nosso querido Senhor não colocasse esses espinhos na nossa carne, poderíamos perder nossa glória.

3) As aflições são também a maneira mais eficiente de Deus evitar que percamos nosso caminho para o descanso.

Sem esta cerca de espinhos nos lados direito e esquerdo, nós dificilmente guardaríamos nosso caminho para o céu. Se houvesse apenas uma brecha aberta, quão dispostos nós seriamos para achá-Ia e nos desviarmos dele! Quando nos tornamos libertinos, ou mundanos, ou orgulhosos, quão rebaixados ficamos por intermédio de uma doença ou outra aflição qualquer! Todo cristão, assim como Lutero, poderia chamar as aflições de uma das melhores professoras; e, com Davi, poderiam dizer: "Antes de ser afligido, eu me extraviava; mas agora guardo a tua palavra". Muitos milhares de pecadores salvos podem exclamar: "Ó doença sadia! ó tristeza confortadora! Que perda lucrativa! Que pobreza enriquecedora! Que dia bendito o em que fiquei aflito!" Não somente os "verdes pastos e fontes de água, mas a vara e o cajado, nos confortam". Apesar da Palavra e do Espírito fazerem o trabalho principal, o sofrimento abre a porta do coração, para que a Palavra possa entrar com mais facilidade.

4) As aflições também servem para avivar nossas passadas rumo ao nosso descanso. Seria bom se apenas o amor nos convencesse, e que fôssemos antes atraídos para o céu, do que impelidos. Mas, considerando que nossos corações são tão maus que a misericórdia não poderá realizar esta obra sozinha, é melhor sermos impulsionados para frente com a mais penetrante chicotada, do que demorar-nos, como as virgens néscias, até que a porta se feche. Ó que diferença existe entre a oração que fazemos na saúde e a que fazemos na doença! na prosperidade e na adversidade! Meu Deus! se algumas vezes, não sentíssemos a espora, quão vagarosos seriam os passos da maioria de nós rumo ao céu! Visto que nossa natureza vil o requer, porque não desejaríamos que Deus nos fizesse bem por meios dolorosos? Julgue, cristão, se não andas mais cuidadosa e rapidamente no caminho para o céu nos teus sofrimentos, do que quando estás num estado de prosperidade e satisfação.

5) Considere, além disso, que as aflições atingem principalmente a carne. Na maioria dos nossos sofrimentos a alma permanece livre, a menos que nós, propositadamente, a aflijamos. "Porque, então, ó minha alma, te unes a minha carne, e lamenta-te como ela lamenta-se? O teu trabalho seria mantê-la submissa e trazê-Ia à sujeição; e se Deus faz isto por ti, ficarias descontente? Não tem sido o seu prazer a causa da maioria dos teus sofrimentos espirituais? Porque, então, o seu desprazer não promove tua alegria? Não deveriam Paulo e Silas cantar por estarem com seus pés em correntes? Seus espíritos não estavam aprisionados. Ó alma indigna! é assim que agradeces a Deus por preferir-te muito mais do que ao corpo? Quando teu corpo estiver apodrecendo na sepultura, tu estarás na companhia dos espíritos perfeitos dos justos. Enquanto isto, não tens a consolação da qual a carne não conhece nada?

Não murmure, então, quando Deus agir no teu corpo. Se fosse por falta de amor por ti, como explicas que Ele tenha agido assim com todos os Seus santos? Nunca espere que tua carne interprete corretamente o significado do açoite. Ela chamará o amor de ódio, e dirá, Deus está destruindo, quando Ele estiver salvando. Ela é a parte sofredora, e portanto não, está apta a julgar. Pudéssemos nós, uma vez, confiar em Deus e julgar o modo dEle agir, à luz da Sua Palavra e a luz do proveito que trará as nossas almas e a sua relação com o nosso descanso, nunca mais daríamos ouvidos aos clamores da nossa carne, porque teríamos, então, um julgamento correto de nossas aflições.

6) Uma vez mais, considere que Deus raramente dá ao Seu povo um antegozo, tão doce, do seu futuro descanso, como nas suas aflições mais profundas. Ele mantêm seus consolos mais preciosos para o tempo da nossa maior fraqueza e perigo. Ele os concede quando sabe que são necessários e que serão valorizados, e que serão recebidos com agradecimentos e seu povo se regozijará neles. Especialmente quando sofremos por amor a Ele, raramente, então, deixará de adoçar a nossa taça de amargura.

Os mártires possuíram os júbilos mais elevados. Quando Cristo pregou de maneira tão confortadora aos seus discípulos, do que quando "seus corações estavam tristes"' na sua partida? Quando Ele apareceu entre eles e disse: "Paz seja convosco", não foi quando se calaram por temerem aos judeus? Quando Estêvão viu o céu aberto, se não quando entregava sua vida por testemunho de Jesus? Não é verdade que o nosso melhor estado é quando temos mais de Deus? Então porque desejamos ir para o céu? Se buscamos um céu de prazeres carnais, estamos nos enganando. Conclua, então, que a aflição não é uma condição tão ruim para um santo no seu caminho para o descanso. Somos mais sábios do que Deus? Ele não sabe o que é melhor para nós, muito mais do que nós mesmos? Ou Ele não e tão atento para o nosso bem, quanto nós somos? Deus nos ama mais e melhor do que nos O amamos ou amamos a nós mesmos.

Não diga: "Eu poderia suportar qualquer outra aflição, menos esta". Se Deus te afligisse onde podes tolerar, teu ídolo nunca teria sido descoberto ou removido. Nem diga: "Se Deus me livrasse logo, ficaria contente em passar por isso". Não significa nada para ti, que Ele tenha prometido "trabalharei para o teu bem"? Não é suficiente que estás, seguramente, livre da morte? Nem deixe ser dito "se minha aflição não me incapacitasse a trabalhar, eu poderia tolerá-la". Ela não te incapacita para aquele dever que tende ao teu próprio benefício, mas é a melhor auxiliadora que tu podes esperar. Quanto aos deveres para com os outros, eles não são teus quando Deus te inabilita. Ou talvez dissesses: "Os piedosos são meus opressores; se fossem os

ímpios, eu poderia facilmente suportar". Seja qual for o instrumento, a aflição vem de Deus e o motivo, de ti mesmo; e não é melhor olhar para Deus do que para ti mesmo?

Não sabes que mesmo o melhor dos homens é ainda pecador em parte? Não suplique: "Se ao menos eu tivesse aquela consolação que Deus reserva para os tempos de sofrimento, poderia sofrer mais contentemente; mas não recebi tal coisa". Quanto mais sofreres por causa da justiça, mais das bênçãos de Deus podes esperar; e quanto mais sofreres por causa do teu mau procedimento, mais tempo demorará para que as consolações venham. As consolações que desejas não são negligenciadas ou repelidas? Tem suas aflições operado gentilmente em você e preparado você para receber conforto? Não é o sofrimento que lhe prepara para o conforto, mas o sucesso e o fruto do sofrimento sobre seu coração.

07:29

EU AINDA ANSEIO VER


Eu ainda anseio ver uma igreja ortodoxa e piedosa. Uma igreja que tenha palavra e poder, uma igreja que tenha doutrina e vida. Eu ainda anseio ver aqueles que conhecem a verdade sendo transformados por ela a ponto de se tornarem pessoas humildes e não arrogantes. Eu ainda anseio ver uma igreja cujas obras provem a sua fé e cuja fé honre ao seu Senhor. Eu ainda anseio ver uma igreja que pregue com fidelidade, ensine com autoridade e cante louvores a Deus com fervor. Eu anseio ver uma igreja onde Jesus tenha supremacia e as pessoas sejam verdadeiramente amadas.

Eu creio que meus olhos verão ainda essa realidade. A fé vê o invisível. Ela caminha no meio da escuridão das circunstâncias, guiada pela luz da verdade. Os olhos da fé não estão postos na improbabilidade da situação circundante, mas nas promessas fiéis daquele que não pode falhar. Mesmo que os horizontes sejam pardacentos, mesmo que as circunstâncias sejam desfavoráveis, mesmo que a oposição seja sem trégua, eu ainda anseio ver uma igreja onde a doutrina dará as mãos ao fervor, onde a ortodoxia se vestirá com a túnica da santidade, onde a reforma desembocará no reavivamento.

Estou cansado de ver o povo de Deus bandeando ora para um extremo ora para outro. Aqueles que são mais zelosos da doutrina, não raro são os mais apáticos no fervor. Aqueles que mais conhecem menos fazem. Aqueles que têm mais luz muitas vezes são os que têm menos calor. Aqueles que estadeiam sua cultura são os que menos refletem a doçura do Salvador. Ah! Eu ainda anseio ver uma igreja firmada na doutrina dos apóstolos, que ora e cante com entusiasmo. Uma igreja que tenha temor de Deus e alegria do Espírito. Uma igreja que tenha profunda comunhão interna e grande simpatia dos de fora.

Vejo com tristeza aqueles que tolamente abandonam a doutrina para buscar experiências arrebatadoras. Onde falta a semente da Palavra, não se vê o fruto da verdadeira piedade. Não é a experiência que conduz à verdade, mas esta deságua naquela. A vida decorre da doutrina e não esta daquela. Precisamos de uma igreja que seja ortodoxa sem deixar de ser ortoprática. Os que se desviaram da Palavra em busca de experiências, precisam de uma nova reforma e os que se desviaram da piedade e ainda conservam sua ortodoxia precisam de reavivamento.

Eu ainda anseio ver uma igreja doutrinariamente fiel, mas que seja ao mesmo tempo amável e acolhedora aos que se aproximam. Uma igreja que ensine doutrina com zelo, mas que adore a Deus com fervor. Uma igreja que prega a verdade, mas vive em amor. Uma igreja onde a proclamação não está na contramão da comunhão.

Eu ainda anseio ver uma igreja que seja fonte para os sedentos, oásis para os cansados, refúgio para os aflitos, lugar de vida para os que cambaleiam na região da sombra da morte. Eu anseio ver uma igreja que viva para a glória de Deus, que honre o seu Salvador, que seja cheia do Espírito Santo, que adore a Deus com entusiasmo, que pregue sua Palavra com fidelidade e acolha as pessoas com efusiva alegria e redobrado amor. Que o meu e o seu anseio se tornem motivo das nossas orações até que vejamos cair sobre nós essa bendita chuva da restauração espiritual.


Rev. Hernandes Dias Lopes

fonte:http://www.hernandesdiaslopes.com.br/?area=show®istro=700