16:11

Eu Não Sei




Recentemente li uma crítica feita aos calvinistas que eles costumam escapar de dilemas teológicos resultantes de sua própria lógica recorrendo ao conceito de “mistério”. Ou seja, os calvinistas, depois de se colocarem a si mesmos numa encruzilhada teológica, candidamente confessam que não sabem a resposta para a mesma.

A crítica em particular era sobre a doutrina da predestinação. Segundo a crítica, os calvinistas insistem que Deus decretou tudo que existe, mas quando chega o momento de explicar a existência do mal no mundo, a liberdade humana e a responsabilidade na evangelização, eles simplesmente dizem que não sabem a resposta para os dilemas lógicos criados: se Deus predestinou os que haveriam de ser salvos e condenados, como podemos responsabilizar os que rejeitam a mensagem do Evangelho? Os calvinistas, então, de acordo com a crítica, recorrem ao que é denominado de antinômio, a existência pacífica de duas proposições bíblicas aparentemente contraditórias que não podem ser harmonizadas pela lógica humana.

A verdade é que, além da soberania de Deus, temos outras doutrinas na mesma condição, como a definição clássica da Trindade, mantida não somente pelos calvinistas, mas pelo Cristianismo histórico em geral. Por um lado, ela afirma a existência de um único Deus. Por outro, afirma a existência de três Pessoas que são divinas, sem admitir a existência de três deuses.
Ao longo da história da Igreja vários tentaram resolver logicamente o dilema causado pela afirmação simultânea de duas verdades aparentemente incompatíveis. Quanto ao mistério da Trindade, as soluções invariavelmente correram na direção da negação da divindade de Cristo ou da personalidade e divindade do Espírito Santo; ou ainda, na direção da negação da existência de três Pessoas distintas. Todas essas tentativas sempre foram rechaçadas pela Igreja Cristã por negarem algum dos lados do antinômio.
Um outro exemplo foram as tentativas de resolver a tensão entre as duas naturezas de Cristo. Os gnósticos tendiam a negar a sua humanidade para poder manter a sua divindade. Já arianos, e mais tarde, liberais, negaram a sua divindade para manter a sua humanidade. Os conservadores, por sua vez, insistiram em manter as duas naturezas e confessar que não se pode saber como elas podem coexistir simultânea e plenamente numa única pessoa.
No caso em questão, as tentativas de solucionar o aparente dilema entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana sempre caminharam para a redução e negação da soberania de Deus ou, indo na outra direção, para a anulação da liberdade humana. No primeiro caso, temos os pelagianos e arminianos. No outro, temos os hipercalvinistas, que por suas posições deveriam mais ser chamados de “anticalvinistas”. Mais recentemente, os teólogos relacionais chegaram mesmo a negar a presciência de Deus pensando assim em resguardar a liberdade humana.
Há várias razões pelas quais eu resisto à tentação de descobrir a chave desses enigmas. A primeira e a mais importante é o fato que a Bíblia simplesmente apresenta vários fatos sem explicá-los. Ela afirma que há um Deus e que há três Pessoas que são Deus. Não nos dá nenhuma explicação sobre como isso pode acontecer, mesmo diante da aparente impossibilidade lógica do ponto de vista humano. Os próprios escritores bíblicos, inspirados por Deus, preferiram afirmar essas verdades lado a lado, sem elucidar a relação entre elas. Em seu sermão no dia de Pentecostes, Pedro afirma que a morte de Jesus foi predeterminada por Deus ao mesmo tempo em que responsabiliza os judeus por ela. Não há qualquer preocupação da parte de Pedro com o dilema lógico que ele cria: se Deus predeterminou a morte de Jesus, como se pode responsabilizar os judeus por tê-lo matado? Da mesma forma, Paulo, após tratar deste que é um dos mais famosos casos de antinomínia do Novo Testamento (predestinação e responsabilidade humana), reconhece a realidade de que os juízos de Deus são insondáveis e seus caminhos inescrutáveis (Rm 11.33).
A segunda razão é a natureza de Deus e a revelação que ele fez de si mesmo. Para mim, Deus está acima de nossa possibilidade plena de compreensão. Não estou concordando com os neo-ortodoxos que negam qualquer possibilidade de até se falar sobre Deus. Mas, é verdade que ninguém pode compreender Deus de forma exaustiva, completa e total. Dependemos da revelação que ele fez de si mesmo. Contudo, essa revelação, na natureza e especialmente nas Escrituras, mesmo suficiente, não é exaustiva. Não sendo exaustiva, ela se cala sobre diversos pontos – e entre eles estão o relacionamento lógico entre os pontos que compõem a doutrina da Trindade, da pessoa de Cristo e da soberania de Deus.
A terceira razão é que existe um pressuposto por detrás das tentativas feitas de explicar racionalmente os mistérios bíblicos, pressuposto esse que eu rejeito: que somente é verdadeiro aquilo que podemos entender. Não vou dizer que isso é exclusivamente fruto do Iluminismo do séc. XVII pois antes dele essa tendência já existia. O racionalismo acaba subordinando as Escrituras aos seus cânones. Prefiro o lema de Paulo, “levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2Coríntios 10.5). Parece que os racionalistas esquecem que além de limitados em nosso entendimento por sermos criaturas finitas, somos limitados também por nossa pecaminosidade. É claro que mediante a regeneração e a iluminação do Espírito podemos entender salvadoramente aquilo que Deus nos revelou em sua Palavra. Contudo, não há promessas de que regenerados e iluminados descortinaremos todos os mistérios de Deus. A regeneração e a iluminação não nos tornam iguais a Deus.
Além dos mistérios mencionados, existem outros relacionados com a natureza de Deus e seus caminhos. Diante de todos eles, procuro calar-me onde os escritores bíblicos se calaram, após esgotar toda análise das partes do mistério que foram reveladas. Não estou dizendo que não podemos ponderar sobre o que a Bíblia não fala – mas que o façamos conscientes de que estamos apenas especulando, no bom sentido, e que os resultados dessas especulações não podem ser tomados como dogmas.


Postado por Augustus Nicodemus Lopes

Fonte: http://tempora-mores.blogspot.com/2011/11/eu-nao-sei.html

07:10

Onde foi parar o catecismo?

Um dos pilares da fé reformada que distingue o protestantismo de qualquer outro ramo do cristianismo é o “Sola Scriptura”; a priori, nenhum protestante consciente negaria isso. O interessante é que dentro do evangelicalismo atual, todas as denominações fazem uso desta afirmação, até mesmo às sectárias. Se todas (denominações) afirmam ser a Bíblia a única regra de fé, porque tantos desvios doutrinários? .

A proliferação de uma cristandade que na contramão da afirmação paulina vive como se dissesse “Eu nem sei mais em quem tenho crido” nos mostra a gravidade da situação.

Tais incertezas e desvios foram se estabelecendo pelo abandono da tradição interpretativa histórica e ortodoxa . Vemos hoje (bem mais no protestantismo do que em outros ramos cristãos) uma babel teológica que tende a se afastar mais e mais da fé que fora defendida pelos nossos antepassados. Em um de seus artigos na Revista Ultimato, Bispo Robinson Cavalcanti ¹, afirma que:

· Trocou-se o livre exame pela livre interpretação e a Igreja deu lugar a seitas e “denominações”. O liberalismo mandou para o espaço as escrituras, a tradição, os credos, as doutrinas e a moral, sacrificados no altar da razão e na arrogância humana, hoje subjetiva, individualista e relativista. “Revelações” particulares e “profetas” auto-proclamados esquartejaram o Corpo de Cristo. Depois da Reforma sofremos o banho de sangue das Inquisições e a intolerância legalista, moralista, sectária, antiintelectual (e, às vezes, racista) do neofundamentalismo. Surgiram as seitas para-cristãs dos Mórmons, das Testemunhas de Jeová e da Ciência Cristã, bem como o neo/pós/iso/pseudo-pentecostalismo, cuja pretensa identidade protestante é uma contradição em si mesma.

È triste ver a situação no qual chegamos, abrindo brechas para o ressurgimento de várias acusações contra o principio acima mencionado. Só nos resta à pergunta feita pelo pastor Hernandes Dias Lopes, em seu sermão sobre o salmo 11, “O que fazer quando todos os fundamentos são destruídos? “(Sl 11:3)²

· Para ele “ Toda a era moderna foi uma tentativa de destruir os fundamentos antigos e erigir em seu lugar novos fundamentos... Os marcos antigos foram removidos... A própria Igreja Evangélica está confusa. “

O problema todo está no esquecimento da segunda parte da grande comissão de Cristo. Esta parte tem sido ignorada “Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mateus 28:20). A igreja de Cristo não somente deve fazer discípulos de todas as nações e batiza-los (v.19). É dever dela também, perpetuar o ensino de Cristo.

Escreveu muito bem Anthony A. Hoekema,³ ao afirmar que :

· de acordo com a Bíblia a igreja é “a coluna e firmeza da verdade” (1 Timóteo 3:15). Por conseguinte, o ensinamento da verdade doutrinal é peculiarmente sua tarefa.

É exatamente aqui minha defesa ao uso do catecismo na igreja. O catecismo deve ser usado como um meio de instrução de jovens e crianças a fim de prepara-los bem para os possíveis perigos que encontrarão durante a sua peregrinação.

A doutrinação de crianças e jovens sempre foi um marca dos cristãos reformados. Não há como esquecer dos catecismos maior e menor de Westminster, nem mesmo do catecismo de Spurgeon, o que falar então do maravilhoso catecismo de Heidelberg (meu favorito)?

Enfim, a história comprova que o abandono destes instrumentos de doutrinação, deu lugar ao subjetivismo e a confusão que vemos diante de nós.

Olhemos para as veredas antigas, vejamos por quais caminhos os antigos peregrinos andaram e andemos pelos mesmos caminhos. Diante das dificuldades que se nos apresentam, estejamos nós preparados para responder com mansidão a todo aquele que pedir a razão da esperança que há em nós.

Soli Deo Gloria



Aldair Ramos Rios

_____________________________________________________________________________________

¹CAVALCANTI, Robinson, Reflexão Ultimato: Protestantes: Autênticos católicos

²LOPES, Hernandes Dias/ http://hernandesdiaslopes.com.br/2011/09/o-que-fazer-quando-todos-os-fundamentos-sao-destruidos/

³HOEKEMA, Anthony A.; A Importância da Instrução Através de Catecismo/ http://www.monergismo.com/textos/teologia_pacto/instrucaocatecismo.htm

12:55

Soli Deo Glória, será?

O tempo passa e com o tempo todo movimento tende (pelo menos em parte) ao excesso.

Já algum tempo venho me incomodando com atitudes que não refletem se quer o ensino desta fé que tanto defendemos. Será que já nos esquecemos daquele abençoado pilar da reforma “Soli Deo Glória?”
O que estou querendo dizer é o seguinte; a admiração excessiva a pastores e pregadores soa idolatria.

Tenho plena convicção de que os reformadores ficariam incomodados com estas atitudes, porque o uso excessivo de termos teológicos que tem o seu valor histórico como “calvinismo” tende a nos fazer exclusivistas, entenda bem... Estou falando do “uso excessivo”. Tenho certeza que o reformador genebrino reprovaria isso.

Não somos chamados para defender a nossa religião, nem para discussões frívolas, somos chamados para “batalhar pela fé que uma vez por todas foi dada aos santos” (Jd v. 3).

Minha “bronca” não é só em relação em relação ao uso excessivo da imagem dos reformadores, mas também em relação aos novos pregadores “parece que a palavra dos caras é inerrante e inspirada”. Será que nos esquecemos que a nossa teologia deve ser centrada em Cristo? Nele e nada mais.

As Escrituras é o meio pelo qual conhecemos a Cristo, e por isso ela é suficiente. Ela é a fonte primária, qualquer coisa derivada dela tem a sua importância, mas nunca a ponto de tomar o seu lugar.

Faça um teste você mesmo, que nome você enxerga nas abreviações “J.C”, se o primeiro nome que lhe veio a mente foi João Calvino- Você é idolatra. Se Jesus Cristo, louvado seja o nome do Senhor.
Será que já nos esquecemos que Dele (de Deus), por Ele e para Ele são todas as coisas?. Deus não divide a sua glória.

Aldair Ramos Rios

19:11

Um Crescimento não saudável

Igreja inchada
Um Crescimento não saudável

Gente nova... Juventude unida e animada, música envolvente, este é o contexto ideal do engano. Se por um lado, a “fobia” dos números é um erro, por outro a “latria” dos mesmos, pode facilmente nos enganar. Muitas igrejas sérias que começaram seu trabalho fervorosamente demonstrando amor pelo estudo bíblico e teológico foram depois invadidas por uma geração de crentes descomprometidos; de mente demasiadamente subjetivista, outras foram dominadas pelo liberalismo, se amoldaram aos padrões deste mundo. È evidente que o crescimento numérico que não expresse amor pelo estudo da palavra, reverência, apego a uma vida piedosa de oração e santificação não é um crescimento saudável.
E nós reformados maior risco corremos de fazer das doutrinas da graça travesseiro para a nossa iniqüidade. Qualquer ajuntamento que não expresse o poder regenerador de Deus em sua membresia é qualquer coisa menos igreja.
Quais são os sinais de uma verdadeira conversão?. O primeiro sinal de uma verdadeira conversão é uma fé operosa. O apóstolo Paulo escrevendo aos tessalonicenses, dava graças a Deus por aquela igreja e fazia sempre menção dela em sua orações, ele escreve no verso 3 do capitulo 1:
“Lembrando nos sem cessar da obra da vossa fé...”
A igreja de Tessalônica era composta de gente eleita, verdadeiramente regenerada, crentes que tinha recebido a fé verdadeira, a fé operosa, eles possuíam uma fé que tinha obras. Se os membros de uma “igreja” em sua maioria são pessoas que não demonstram os frutos de um novo viver, é certo que o tipo de fé que possuem é a mesma dos demônios (Tiago 2:19). Não existe um meio termo entre a fé verdadeira e a fé falsa. A fé salvadora produz frutos e é operosa, uma fé falsa é apenas professa, não produz obras, por isso, eis a afirmação de Tiago “...a fé se não tiver obras é morta...”(Tg 2:17)

Por isso, não podemos nos calar quando o assunto envolve o destino eterno das pessoas. Sejamos vigilantes, amemos a palavra...”Sola Scriptura”. È por meio da palavra escrita que conhecemos a Palavra Encarnada. Sigamos a recomendação do apóstolo Pedro:
“Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós,’”1 Pedro 3:15
E como estaremos preparados, se não fizermos uso da revelação especial de Deus?. A recomendação de Paulo a Timóteo ainda é pertinente a todos nós
“Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza. Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá.” 1 Timóteo 4:12-13
E mais...
Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.
1 Timóteo 4:16

Devemos estar atentos, porque para cada obra que Deus faz há uma falsificação de satanás. Igreja cheia nem sempre é sinônimo de benção, principalmente quando este crescimento é só numérico. A igreja só cresce a medida que ela cresce também na graça e no conhecimento e isso desemboca num viver que glorifica a Deus. Tomemos cuidado com este século por que muitos já não suportam mais ouvir a sã doutrina. O que quero dizer é o seguinte: A heresia vem sobre os lombos da tolerância.

Quem tem ouvidos para ouvir que ouça.

Aldair Ramos Rios

12:52

O Evangelho é revelado céu

Nenhum homem, por mais notável que fosse, poderia conceber em sua débil mente “as Boas Novas”. Como poderia a mente pecadora, produzir mensagem tão transformadora?
Mateus nos conta que ao chegar a Cesáreia Jesus faz uma pergunta aos seus discípulos.
 
-O que as pessoas estão falando sobre mim?
- uns dizem que é João o Batista, outros que é Elias,Jeremias e ainda outros alguns dos profetas. Responderam os discípulos.
"E vós, quem dizeis que eu sou?"-Pergunta o mestre aos seus discípulos.
- "Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo". Responde Simão prontamente.
 
O que teria levado Pedro a responder com tamanha certeza?
-Mera opinião-talvez pense alguns.
Qual era a fonte das palavras que brotaram dos lábios deste homem?
Deus era a fonte, pois disse Jesus a Simão:

“... não te revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. (Mat 16:13-18)”- Responde o crente-
 
Se o Evangelho é revelado do céu, como pode ainda, alguns afirmarem, que a Escritura sagrada é fruto da tradição da Igreja?
 
Os ensinos dos registros sagrados não é uma simples produção de qualquer tradição, mas foram revelados por Deus aos seus santos apóstolos. 
Em relação ao Evangelho, Paulo vai dizer aos Gálatas :

"... não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo." (Gálatas 1:11-12)

Aos tessalonicenses, confirma:

“Tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes, não como palavra de homens, e, sim, como, em verdade é, a palavra de Deus”, etc. (I Tes 2.13).

Sabemos que embora Deus tenha usado pessoas como instrumento, conservando a sua personalidade, particularidades, o seu estilo, métodos e linguagem, NO ENTANTO, o conteúdo material, a substância sólida da verdade, a “mensagem” não é de autoria de nenhum deles. Pedro vai dizer que a profecia não foi produzida por vontade de homens, mas os homens de Deus falaram sob a inspiração do Espírito Santo.
 
Sobre essa questão Calvino declarou:

Eis aqui o principio que distingue nossa religião de todas as demais, ou seja: sabemos que Deus nos falou e estamos plenamente convencidos de que os profetas não falaram de si próprios, mas que, como órgãos do Espírito Santo, pronunciaram somente aquilo para o qual foram do céu comissionados a declarar. Todos quantos desejam beneficiar-se das Escrituras devem antes aceitar isto como um principio estabelecido, a saber: que a lei e os profetas não são ensinos passados adiante ao bel-prazer dos homens ou produzidos pelas mentes humanas como uma fonte, senão que foram ditados pelo Espírito Santo [As Pastorais, p. 262.].


“Toda escritura divinamente inspirada é útil para ensinar, repreender e corrigir” - Escreve Paulo a Timóteo.
 
No documento “A essência do Anglicanismo, encontramos a seguinte declaração”:

“As Escrituras canônicas do Antigo e Novo Testamento são “a palavra de Deus escrita”, inspirada e autorizada, verdadeira e confiável, coerente e suficiente para a salvação. A Palavra de Deus escrita” tem vida e poderosa como guia divino tanto para a conduta quanto para a fé crista.
A fé trinitária, cristocêntrica, orientada para a redenção, que se encontra na Bíblia, esta encarnada nos credos ecumênicos históricos... Em cada época, o Espírito Santo conduz o povo de Deus, a Igreja, a submissão às Escrituras como seu guia. Para isso, usa sempre como ponto de referencia o respeito às santas tradições, o uso humilde da razão humana e a oração.
A Igreja não pode se constituir juiz das Escrituras, descartando e selecionando ensinos. As Escrituras mesmas, sob a autoridade de Cristo, julgam a Igreja no que tange a sua fidelidade a verdade por ele revelada. (Dt 29:29; Is 40:8; 55:11; Mt 5:17,18; Jo 10:35; 14:26; Rm 1:16; Ef 1:17-19; II Tm 2:15; 3: 14-17; II Pd 1:20,21)”

Essa é a natureza da Escritura, sendo divinamente inspirada, revelado está quem é seu verdadeiro autor. Deus é o autor deste Evangelho que estabeleceu a igreja, portanto não é a igreja que determina o que é Evangelho, antes o contrário, é o Evangelho que determina o que é Igreja.

12:45

Porque anunciar o Evangelho?

Por: Aldair Ramos Rios 

Depois que Jesus subiu ao céu, o essencial da sua mensagem passou a ser anunciada por seus discípulos. A ordem do mestre era : "Ide por todo o mundo
 e pregai o Evangelho a toda criatura."(Mc 16:15)
 
Eles deveriam começar a testemunhar em Jerusalém, depois deveriam ir para a Judéia, Samaria e até os confins da terra. (Atos 1:8)
Não diz Paulo, o apóstolo, que a fé vem pelo ouvir e o ouvir pela palavra de Deus? (Rm 10:17)

Com razão, um pouco antes, questiona o apóstolo:
 
"...e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?
E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito:
Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas (Rm 10:14,15)-
 
Não havia outra maneira  de fazer conhecida a mensagem e perpetuar a cristandade, senão mediante o anuncio; que em Jesus as profecias do AT referentes ao Messias haviam sido cumpridas.
Foi através da proclamação do "Evangelho de paz" que a cristandade cruzou as fronteiras, anunciando a mensagem de Jesus, nas partes mais remotas do mundo.

E tem gente que ainda questiona a necessidade de anunciar o Evangelho.

Mãos a obra. Continuemos a proclamar até o fim, a poderosa mensagem da cruz.

08:31

Compreendendo a fé




A fé está no centro da experiência religiosa. Alguns falam passar por uma “crise de fé”, ou oram “Senhor, aumenta a minha fé”. Há vários tipos de “fé”:

a) a fé natural, que é uma capacidade inata em todas as pessoas para crer além dos dados, das evidências e do racional (viajar de avião, casar, receber um cheque...). Sem ela seria impossível a vida em sociedade;

b) a fé idolátrica, que é dirigida a criaturas (pessoas, objetos, instituições), tomando o lugar do Criador, como um objeto equivocado;

c) a fé supersticiosa, que atribui a coisas ou fatos atributos de poder exclusivos da Divindade (amuletos, números, ritos, horóscopos);

d) a fé mágica, quando se procura por o Criador a serviço das criaturas, em uma trágica inversão, em que se “negocia” com o sagrado (promessas, despachos, votos);

e) a fé antropocêntrica, em que o ser humano pretende ser, ao mesmo tempo, o sujeito e o objeto da fé, prescindindo de Deus (apelando para um “deus” dentro de si mesmo);

f) a fé fidocêntrica, em que o poder não está nem no sujeito, nem no objeto, mas na própria experiência: o importante é ter “fé” (“fé na fé”...). Esses equívocos não solucionam a necessidade espiritual de uma relação correta com o Criador, que ressalta na descoberta de um significado permanente para a vida.

Por isso, encontramos nas Sagradas Escrituras um outro tipo de fé: a fé salvífica, fruto da ação do Espírito Santo em nossos corações, que conduz à verdade encarnada: Jesus Cristo, único Senhor e Salvador. Uma fé que nos religa a Deus, e que é “a certeza das coisas que se esperam, e a firme convicção das coisas que se não vêem”, nas palavras do apóstolo Paulo. Uma fé que conduz à escuta, à obediência, à mudança interior, e a novos valores e projetos existenciais, alimentada na “comunidade de fé” (a Igreja) e vivenciada no mundo, no cotidiano da vida. “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie” (Ef.2:8).



Dom Robinson Cavalcanti é escritor evangélico e bispo da Diocese Anglicana do Recife

Fonte: http://www.dar.org.br/bispo/50-artigos/164-compreendendo-a-fe.html

09:56

Uma conversa com a alma




Alma, alma...porque te escondes,
se a vida acontece diante de Deus?
Porque não te derramas diante dele em verdade?
Alma, alma...não adianta fingir, nem mentir,
porque perseveras em fugir daquilo que na real; não podes fugir?
sabes bem que a tua hipocrisia, não pode a Deus resistir,
Então te apresentas como tu és, com a tua nudez,
sem as tuas máscaras.
como diz a musica "mostra a tua cara".
Seja qual for tua vergonha, vem...
O Supremo te formou, ele sabe como és...
venha em verdade, isso te fará bem
Venha desfrutar dessa liberdade,
enxergar a verdade, em Cristo remissão tu tens...
e descanso para as cargas da vida, terás para sempre. Amém.

Aldair Ramos Rios

15:24

O Cara Que Não se Achou “O Cara”




Rev. Marcus O. Throup (¬)



Ultimamente, enquanto o noticiário evangélico traz (mais) más notícias sobre a megalomania de pastores cujo egoísmo dizima a igreja, o Lecionário traz leituras sobre um líder humilde cujo esforço uniu o povo de Deus à beira do rio Jordão. Esse líder cristão do passado demanda a atenção de todo e qualquer que se considera “líder cristão” no presente. Falo, é claro, de João Batista.



No que se refere ao Batista, cada evangelho traz um pedacinho de informação, com efeito, que, juntando os pedaços, como se faria com uma fotografia rasgada em quatro, temos como saber quem e como era João. Por um lado a própria voz dele salta das páginas do Novo Testamento: “Depois de mim vem aquele que é mais poderoso do que eu, de quem não sou digno de, inclinando-me, desatar as correias das sandálias” (Mc 1.7); “Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30); “Tu vens a mim? Eu é que preciso ser batizado por ti!” (Mt 3.14). Evidentemente, o testemunho de cada evangelista ‘bate’ com os demais, e a impressão que temos de João, à base das suas próprias palavras, é de um humilde servo que se curvou diante do Senhor Jesus.



A humildade de João impressiona ainda mais quando levamos em conta os seguintes fatores:

(1) João ficou famoso como figura profética, atraindo para si multidões e agregando discípulos (pode ser que Mc 1.5 se trate de hipérbole, mas a hipérbole tem fundamento);

(2) João foi pregador de renome, ouvido por governantes (que nem sempre gostaram daquilo que ouviram dele);

(3) João era primo legítimo de Jesus, membro, digamos, da família real (e, de fato, de uma família sacerdotal);

(4) João era tido como um segundo Elias, o maior dos profetas clássicos (alguns pensavam que fosse até o Cristo cf. Jo 1.20).



Ora, se alguém tivesse o direito de se achar alguma coisa na vida, era João. Como líder religioso era muito bem sucedido, porém, diferente do atual padrão evangélico, no caso de João, o bom êxito ministerial não o levou à arrogância, prepotência e megalomania. Na frente dos seus muitos seguidores João anunciou ser servo de Jesus e com todas as letras dizia ser indigno dele. Na frente dos governadores se manteve fiel até a morte – morte essa que a mesma fidelidade provocou – abrindo mão de qualquer possível defesa em termos de um apelo à sua fama e popularidade, abraçando, ao invés, seu martírio. Na frente de todos, João podia ter se exaltado em virtude da sua ligação familiar com o Messias, mas ele não se beneficiaria do nepotismo, e nem sequer mencionou o vínculo. Na frente das autoridades religiosas, apesar de ser o último na linha dos profetas (cf. Lc 16.16) em contradistinção aos líderes como Teudas e Judas o Galileu (At 5.36-37), negou “ser alguém” e rejeitou qualquer associação messiânica.



João era um cara que podia ter se achado ‘o cara’. Ele tinha todas as credenciais necessárias, mas, nem a fama nem o sucesso nem o poder subiram à cabeça. Logo chegamos à conclusão que João Batista, em razão da sua humildade, era o cara. É o próprio Jesus quem o diz: “Ele (João) era a candeia que ardia e iluminava” (Jo 5.35); “Entre os nascidos de mulher, não há outro maior que João...” (Lc 7.28); “A lei e os profetas vigoraram até João” (Lc 16.16).



Entendemos que João era grande à medida que se fazia pequeno. E daí nós vemos a reciprocidade que há entre João e Jesus, pois, Jesus se humilhou assumindo a forma de homem a fim de viver entre nós, morrer por nós e ressurgir para nós, abrindo mão do seu status majestoso, preferindo servir a ser servido (cf. Mc 10.45). Assim, João prefigura Jesus perfeitamente, mas passa também a prefigurar todo líder cristão, pois o nosso lema deveria ser: “Convém que Jesus cresça e que eu diminua”.



¬ Rev. Marcus Oliver Throup; é Presbítero da Diocese do Recife; Secretário Diocesano de Relações Internacionais; professor no SAT-PB; membro da Equipe Pastoral da Concatedral Anglicana da Ressurreição, no Arcediagado Paraíba/Rio Grande Norte.

Fonte:http://www.dar.org.br/artigos/28-clero/1898-o-cara-que-nao-se-achou-o-cara-rev-marcus-throup.html

09:00

CREDO DE SÃO JOÃO




Cremos que Deus é espírito, e que aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade;
Cremos que Deus é luz e que, se andarmos na luz, teremos comunhão uns com os outros;
Cremos que Deus é amor, e que todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus;
Cremos que Jesus é o Filho de Deus, e que Deus nos deu vida eterna e que essa vida está no Filho;
Cremos que Ele é a ressurreição e a vida; quem nele crê, ainda que esteja morto, viverá;
Cremos que somos filhos e filhas de Deus, e que Ele nos deu o seu Espírito; Cremos que, se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça;
Cremos que o mundo passa e sua concupiscência; porém, aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre. Amém.

Fonte:http://www.dar.org.br/loc-2008/93-outros-textos-liturgicos/473-outras-afirmacoes-de-fe.html

07:06

O CRISTIANISMO: DESAFIOS DO PRESENTE E DO FUTURO— CRESCER OU PERECER? —



Robinson Cavalcanti

O passado
De uma perspectiva meramente histórica, as religiões ou crescem, ou desaparecem. Quando se fala na tão propalada Janela 10/40, refere-se sempre aos povos não-alcançados. Na verdade, esses povos já foram alcançados, pois no norte da África, no Oriente Médio e em parte da Ásia o cristianismo foi uma presença florescente nos primeiros seis séculos de sua história. Alexandria e Hipona foram cidades de referência. Os nestorianos (Igreja Assíria do Oriente), em seu apogeu, tinham quatrocentas dioceses, 4 milhões de seguidores, inclusive no Irã, no Afeganistão e na China. Pode-se dizer que, de certa forma, eles foram “desalcançados”, embora o cristianismo nunca tenha desaparecido de todo dessas regiões, mantendo uma presença ininterrupta, ainda que minoritária, por 2 mil anos. A invasão mongol, a invasão do Islã e a fragilidade do nominalismo religioso tiveram um efeito devastador. As comunidades remanescentes, com toda a sua riqueza histórica, teológica e litúrgica, foram proibidas de crescer e/ou perderam a visão do crescimento.

O cristianismo tem se expandido, ao longo dos séculos, como uma religião de salvação, uma religião missionária, uma religião de expansão. Quando o espírito missionário cessa, em cada época e lugar, inicia-se o declínio. Tenho visitado em vários países ruínas de igrejas e igrejas em ruínas, igrejas museus e museus igrejas. No caso da Europa Ocidental, já se fala hoje, realística e lamentavelmente, de uma civilização “pós-cristã”.

Se as igrejas orientais cresceram no Oriente Médio, no mundo helênico, no mundo eslavo e na Ásia no primeiro milênio, a Igreja de Roma, por sua vez, ao lado dos conquistadores, teve nos séculos 16 a 18 um período de marcada expansão, principalmente, na América Latina. Os últimos 200 anos, por sua vez, têm se caracterizado pela expansão mundial do ramo reformado ou protestante. Chegamos ao século 21 com o cristianismo como uma religião global, começando a atingir o estágio de chegar “aos confins da terra”. No Congresso de Berlim, em 1966, tivemos uma reação à perda de fervor evangelístico do cristianismo ocidental, em virtude de duas distorções soteriológicas que marcaram o seu pensamento nas décadas anteriores: o sacramentalismo (todos os batizados estão salvos) e o universalismo (todos estão salvos). O Congresso de Lausanne foi uma reafirmação da necessidade missionária da Igreja, agora internacionalizada, pela responsabilidade de todas as nações para com todas as nações.

As últimas três décadas do século 20 marcaram uma crescente consciência missionária nos povos do chamado Terceiro Mundo, e, no caso particular do nosso Continente, com a realização dos CLADE’s (Congresso Latino-Americano de Evangelização) I, II, III e IV. A Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB), de forma pioneira, promoveu o I Congresso Missionário em nosso país, na Universidade Federal do Paraná, no início de 1976. O interessante é que algumas revistas evangélicas brasileiras de ampla circulação têm tratado, recentemente, do crescente envolvimento das igrejas evangélicas brasileiras com a missão mundial e, ao mesmo tempo, apontado as suas debilidades metodológicas, estratégicas, de inculturação e do conteúdo da própria missão.

Os desafios
Há dois anos, o conhecido professor de história e sociologia da religião da Universidade do Estado da Pensilvânia Phillip Jenkins lançou o livro A Próxima Cristandade, que tem se tornado uma referência por seu caráter peculiar de ser, ao mesmo tempo, abrangente, profundo e escrito em linguagem acessível. Recentemente, o livro foi traduzido para o português (Editora Record), e não sei se está recebendo entre nós o mesmo merecido valor. Jenkins chama atenção para o contínuo deslocamento do pólo central de irradiação da fé cristã: Jerusalém, Antioquia, Constantinopla, Roma e, depois, Alemanha, Inglaterra e os Estados Unidos. No passado, tivemos o deslocamento do Oriente Médio para a Europa Ocidental e a América do Norte. Hoje, após o Império Otomano e o Império Soviético, o cristianismo oriental está debilitado, enquanto que o racionalismo e o ceticismo presentes no liberalismo teológico, tanto moderno quanto pós-moderno, tem gerado uma crise, talvez, irreversível para o cristianismo euro-ocidental e norte-americano.

O cristianismo sofre atualmente um outro deslocamento, dessa vez do norte para o sul (África, Ásia e América Latina), que marcará, sem dúvida, as próximas décadas do século 21. É aqui que as igrejas estão cheias, onde há jovens, onde se renova a liturgia e onde a consciência do místico, do mistério, está presente, ao lado da defesa da ortodoxia doutrinária apostólica, da autoridade das Sagradas Escrituras e de uma ética de princípios baseada na Bíblia e na tradição. Aqui ainda se acredita em conversões e milagres, nas potestades espirituais (tanto da bondade quanto da maldade) e na possibilidade de libertação do poder destas últimas. Olhando-se para o mapa da cristandade, pode-se perceber um conflito entre o “cristianismo do Norte” e o “cristianismo do Sul”, com clara vantagem para este último. No sul, há igrejas de pensamento nortista (e são as que estão estagnadas), e no norte já se encontram bolsões de igrejas sulistas, em processo de reevangelização.

Para Jenkins, o secularismo da sociedade globalizada consumista, por um lado, e o Islã, por outro, serão os dois grandes desafios a serem enfrentados nas tarefas evangelísticas e apologéticas da igreja cristã. Ao lado disso, o triunfo de expressões moderadas ou extremadas das diversas religiões concorrerão para uma ordem internacional democrática estável e pacífica ou, usando a expressão de Samuel Huntinghton, para um “choque de civilizações”.

No caso particular da Comunhão Anglicana, vivemos todas as características descritas por Phillip Jenkins. Na Nigéria, em quinze anos, passamos de 9 para 17 milhões de membros, e há uma mobilização para dobrar esse número nos próximos três anos. Metade dos anglicanos vivem no continente africano. O anglicano típico “é uma mulher negra, africana, pobre e de menos de 30 anos de idade”. Em visita recente à Malásia, fiquei impressionado com o trabalho evangelístico dos anglicanos abrindo igrejas em Camboja, Tailândia e Indonésia. Esse pujante ramo histórico e reformado do cristianismo, que tem produzido teólogos do calibre de John Stott, J. I. Packer, C. S. Lewis, Michel Greene, Alistair McGrath e tantos outros, convive com uma Inglaterra (seu berço) pós-cristã e com os Estados Unidos (à semelhança de outras denominações) às voltas com uma grave crise teológica e moral, da qual a questão homossexual é uma das faces mais visíveis.

E nós com isso?
O Brasil, por sua vez, com 6 milhões de evangélicos (e ainda crescendo), profundamente fragmentado institucionalmente, débil em reflexão teológica e ética, importador acrítico de “pacotes” vindos do exterior, superficial (“oba-oba”), intimista e verticalista em sua fé, liderado por caciques que ardem na fogueira da vaidade, ainda assim, na esperança de que a graça transformadora de Deus opere em nosso meio, detém um potencial imenso em termos de responsabilidade da missão mundial da Igreja. Já temos recursos humanos, materiais e intelectuais da melhor qualidade; percebemos uma concepção, crescente, de uma missão integral; ainda acreditamos em céu e inferno, na realidade das afirmações doutrinárias dos credos e na segunda vinda de Cristo. E, o mais importante, a grande maioria dos evangélicos brasileiros de alguma maneira pode testemunhar uma experiência de conversão, afirmando o poder do Espírito Santo e a Jesus Cristo como único Senhor e Salvador.

Apesar do cansaço de muitos de nós e dos momentos de desânimo, a volta constante ao texto das Sagradas Escrituras e a busca incessante da iluminação do Espírito Santo nos devolvem a esperança de um futuro melhor para a igreja brasileira, enquanto chamamos a atenção para um mundo em mudança, que nos atinge, e da nossa responsabilidade de guardar o sagrado depósito e de levar Cristo às nações, até que Ele venha.

Sola Scriptura!

19:49

Pode o homem cooperar com sua salvação?





Rev.Raniere Oliveira



Preliminarmente

A cada ano verifica-se o quanto a Igreja está se distanciando das “Antigas Doutrinas da Graça”, tão caras e defendidas pelo apóstolo Paulo, Agostinho de Hipona, os reformadores Lutero e Calvino, George Whitefield, David Brainerd, William Carey (pai das missões modernas), J. I. Packer, John Stott; e, porque não citar também, o “incansável defensor da fé evangélica, o Arcebispo Thomas Bradwardine de Canterbury, durante o século 14” e tantos outro(a)s.


Confira em sua Bíblia o que nos diz Oséias.4:6. Talvez parte deste afastamento e falta de conhecimento se deva a uma influência pragmática em que o valor está no resultado que dá certo, mesmo que não seja correto; e mesmo uma filosofia relativista onde o “homem é a medida de todas as coisas” (Protágoras-481 a.C.).


Vivenciamos uma triste realidade em que já não vemos e ouvimos em nossas Igrejas doutrinas tais como “pecado original”, “depravação total”, “graça”, “juízo final”, “justificação pela fé”, “soberania divina”,... Mas, ao invés de tais ensinos bíblicos, somos obrigados a ver o povo deixando-se iludir por sermões sobre “vida cristã” com apelos emocionalistas, inúmeras estórias, testemunhos e nenhuma doutrina. Nada de ensino expositivo. Acarretando no fato desses membros necessitarem de mais e mais “alimento” pois não ficam nutridos e satisfeitos com o “feno e a palha” que lhes são oferecidos. Ou seja, eles estão indo cada vez mais ao “shopping” da fé, dia após dia, semana após semana atrás de “ventos de doutrinas” e “ensinos de demônios”, tornando-se assim presas fáceis de embusteiros e profissionais da fé. Sem contar que ficam expostos a vendas de ilusões como apregoadas pela pretensa “teologia da prosperidade” e um “neo-pentecostalismo” que se assemelha mais com cultos espíritas.


E considerando que nossa Diocese, este ano, tenha escolhido o tema: “2004 – Ano do Evangelismo: Convertidos em Cristo, Edificando a Igreja, Transformando o Mundo”, penso que a doutrina bíblica e reformada da DEPRAVAÇÃO TOTAL deve estar no cerne de nossas mensagens, pois, com certeza, como a entendemos e cremos irá influenciar no método que utilizaremos para a evangelização.


Façamos a seguinte pergunta: Pode o homem cooperar com Deus em sua salvação? Se a resposta é sim, então podemos admitir que o propósito de Deus em salvar o homem pode ser frustrado. Mas, se a resposta é não, compreenderemos melhor o conceito de Graça e a razão do porque somente através dela somos salvos, uma vez que “Ele (Deus) nos deu vida, estando nós mortos nos nossos delitos e pecados” (Ef.2:1).


A Bíblia e todas as Confissões de Fé Reformadas são unânimes em afirmar que, depois da Queda, todo homem (no sentido de humanidade de acordo com Gn.1:26-27) tornou-se INCAPAZ de querer qualquer bem espiritual que agrade a Deus. Significando que este homem não possui mais nenhuma disposição (LIVRE-ARBÍTRIO) de voltar-se, por si mesmo, à comunhão com Seu Criador, pois devido ao pecado original, esse homem “não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucuras; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente” (I Co.2:14).


Quem reflete muito bem isso é Charles Spurgeon, mais conhecido como “O Príncipe dos Pregadores”; quando afirma: “a liberdade não pode pertencer ao arbítrio como a ponderação não pode pertencer à eletricidade... Podemos crer em agente livre, porém o livre-arbítrio é simplesmente ridículo”.


Logo, o homem após a Queda não perdeu sua capacidade de fazer coisas boas, de fazer escolhas como uma profissão, o time que deve torcer, optar em ser honesto, altruísta etc. Contudo, nenhuma dessas coisas tem mérito em si mesmas, quando se deveria buscar sempre a Glória de Deus. Assim, tudo isso se torna apenas aspecto secundário da vida humana. O homem permaneceu responsável pelos seus atos, mas está escravo do pecado rejeitando a Deus e tudo o que é do Seu agrado e Louvor. Devemos urgentemente, “enquanto é dia” (Jo.9:4), retornar para essa sã doutrina, que resulta de acurada e apropriada teologia bíblica.


O procedimento metodológico aqui adotado, nada mais é, que minha confessionalidade nas Sagradas Escrituras como Palavra de Deus autoritativa e infalível em seus ensinos numa linguagem humana (II Tm.3:16), bem como nos XXXIX Artigos de Religião e demais Confissões Reformadas, limitando-as em seu valor e autoridade só até onde confirmem o ensino bíblico.


Sei o quanto essa doutrina tem gerado acalorados debates ao longo da História do Cristianismo, vide, por exemplo, Agostinho de Hipona e Pelágio, Lutero e Erasmo de Roterdã, Calvinistas e Arminianos (Sínodo de Dort). Contudo, não tenho a pretensão de pormenorizar cada ponto, muito menos esgotar esse assunto e ter assim a última palavra.


Meu objetivo principal é promover um pouco de esclarecimento bíblico ao Povo de Deus em nossa DAR, considerando que somos uma Igreja que se confessa Reformada. Portanto, daí o desafio de resgatarmos as doutrinas reformadas, num momento particular em que estamos enfrentando, a ponto de a Palavra de Deus começar a ser minimizada, questionada e reduzida num meio de um “areópago” de ensinos humanos e em meio a uma “Babel” de linguagens desconstrucionistas, conflitantes e refém do pensamento do século (Cl.2:8).



I – A SITUAÇÃO DO HOMEM ANTES DA QUEDA

Após ter Deus realizado a magnífica obra da Sua Criação, conforme o registro em Gn.1:1-25, resolveu que o Jardim do Éden, e tudo mais, deveria ser desfrutado e governado por uma criatura, cuja criação deveria ser à Sua Imagem e Semelhança, possuindo tanto a capacidade de escolher como viver a verdadeira liberdade.


Santo Agostinho afirmou que esse homem fora criado, posse non peccare, ou seja, capaz de não pecar. O homem assim veio a existir no tempo e na história, em um estado de integridade, como nos revela o Sábio em Eclesiastes.7:29 quando nos diz: “Deus fez o homem reto...”. Portanto, podemos concordar com o ensino claro da Escritura que o homem foi criado de forma perfeita em termos morais, e isso é ratificado pela Confissão de Fé de Westminster no capítulo IV – Da Criação – seção II:


“Depois de haver feito as outras criaturas, Deus criou o homem, macho e fêmea, com almas racionais e imortais, e dotou-os de inteligência, retidão e perfeita santidade, segundo sua própria imagem, tendo a Lei de Deus escrita em seus corações e o poder de cumpri-la, mas com a possibilidade de transgredi-la, sendo deixados à liberdade de sua própria vontade, que era mutável. Além dessa lei escrita em seus corações o preceito de não comerem da árvore da ciência do bem e do mal; enquanto obedeceram a este preceito, foram felizes em sua comunhão com Deus e tiveram domínio sobre as criaturas”.



Como uma criatura distinta das demais, tendo em vista que o homem foi considerado coroa dessa criação, o mesmo era dotado de capacidade de fazer escolhas, como também, nesse sentido, de fazê-las certas. Como bem disse certa ocasião um teólogo reformado: “assim o homem, naquela época, possuía a verdadeira liberdade, mas não era ainda a perfeita liberdade”. Isso decorrente do fato dele poder cair em pecado.


Vamos conferir novamente o que nos dia a CFW no capítulo IX – DO LIVRE-ARBÍTRIO – Seção I:

“Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade natural, que ela nem é forçada para o bem nem para o mal, nem a isso é determinada por qualquer necessidade absoluta de sua natureza”.



E ainda na Seção II:

“O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte que pudesse cair dessa liberdade e poder”.



Entendemos que o homem estava completamente, antes da Queda, com suas faculdades de capacidade do livre-arbítrio, ou seja, vivia em plena comunhão com Deus que o visitava “no Jardim pela viração do dia” (Gn 3:8). Este homem podia conhece-lo e amá-lo, porque tudo o que fazia e pensava era para a Glória de Deus.


Vejamos ainda o que nos diz o Catecismo de Heidelberg, no Domingo 3 e resposta 6:

“Mas Deus criou o homem tão mau e perverso? Não, Deus criou o homem bom e à Sua imagem, isto é, em verdadeira justiça e santidade para conhecer corretamente a Deus, seu Criador, amá-lo de todo o coração e viver com ele em eterna felicidade, para louvá-Lo e glorificá-Lo”.



No Jardim do Éden o homem estava com toda sua plena dignidade estabelecida, cujo principal propósito era todo bem espiritual e moral que agradasse a Deus. Ele gozava de total capacidade imaculada, que chamamos de livre-arbítrio, pois era perfeito para o bem espiritual.



II – A SITUAÇÃO DO HOMEM APÓS A QUEDA

Como vimos acima, a liberdade e o poder de querer do homem de fazer aquilo que era agradável a Deus, mas tal liberdade era passível de mudar se assim o quisesse. Foi justamente o que ocorreu. O homem atraído e enganado pela serpente escolheu desobedecer a Deus, pois Satanás tentou o homem a ponto do mesmo desejar ser igual ao seu Criador, e aí se deixou iludir-se pela voz da serpente que disse: Porque Deus sabe que no dia em que dele (o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal) comerdes se abrirão vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo do bem e do mal (Gn.3:5). O resultado foi uma verdadeira tragédia para toda a humanidade. Conforme vimos na advertência de Deus em Gn.2:16-17, a raça humana recebeu como conseqüência deste pecado de Adão e Eva, a morte espiritual e física, bem como, a perda daquela capacidade (o livre-arbítrio) de querer fazer o bem e tudo que era agradável a Deus. Dessa forma, ele se corrompeu totalmente.


Esse homem, agora após sua queda e por conta do pecado original, se tornou incapaz de querer a Deus. Na verdade, nos porões de seu íntimo, O rejeita deliberadamente, pois prefere agora escolher o pecado, pois é seu senhor. E assim, neste estado de DEPRAVAÇÃO TOTAL, “não é capaz de não pecar”.


O próprio Senhor Jesus Cristo atesta isso quando afirmou aos judeus que discutiam com ele acerca de jamais terem sido escravos de alguém, que “todo que comete pecado é escravo do pecado” (Jo.8:34).


O Catecismo de Heidelberg sintetiza essa situação, no Domingo 3 resposta 7, com essas palavras:

“De onde vem, então, essa natureza corrompida do homem? Da queda e da desobediência de nossos primeiros pais, Adão e Eva, no paraíso. Ali, nossa natureza tornou-se tão envenenada, que todos nós somos concebidos e nascidos em pecado”.



Isso é confirmado pelo apóstolo Paulo em Rm.5:12 quando nos ensina que: “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram”.


Vejamos ainda a CFW em seu Capítulo VI e Seção II:


“Por este pecado eles decaíram de sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as faculdades e partes do corpo e da alma”.



Assim, após a Queda, o homem ao invés de preferir servir e obedecer a Deus, na verdade, se encontra “morto em seus delitos e pecados” (Ef.2:2-3). E é isso que a teologia reformada denomina de DEPRAVAÇÃO TOTAL. Não possui mais o livre-arbítrio para fazer a vontade de Deus porque está morto espiritualmente, como Lázaro que estava morto com seus pés e mãos atados e sepultado há três dias no túmulo, da mesma forma está toda a humanidade.


Vejamos o que nos ensina o Artigo X de nossos XXXIX Artigos de Religião:


“A condição do homem depois da queda de Adão e Eva é tal que ele não pode converter-se e preparar-se a si mesmo, por sua própria força natural e boas obras, para a fé e invocação a Deus. Portanto, não temos o poder de fazer boas obras agradáveis e aceitáveis a Deus, sem que a graça de Deus por Jesus Cristo nos preceda, para que tenhamos boa vontade, e coopere conosco enquanto temos essa boa vontade”.



Observem essa declaração contundente do Dr. Martyn Lloyd-Jones acerca da DEPRAVAÇÃO HUMANA, resultante da Queda:

“Por que é que o homem sempre escolhe pecar? A resposta é que o homem abandonou a Deus, e como resultado, toda a sua natureza tornou-se depravada e pecaminosa. Toda a tendência do homem está distante de Deus. Por natureza, ele odeia a Deus e sente que Deus é contrário a ele. Ele é seu próprio deus, sua própria capacidade e poder, seu próprio desejo. Ele contesta toda a idéia de Deus e as exigências que Deus coloca sobre ele... Além disso, o homem gosta das coisas que Deus proibiu e as cobiça, e não gosta das coisas e do tipo de vida para as quais Deus o chama. Essas não são meras afirmações dogmáticas. São fatos... Eles por si só explicam a desordem moral e a feiúra que caracterizam a vida atual em tamanha extensão”.



Não deixe de conferir o que Paulo nos ensina em Rm.3:10-19 e Ef.2:1-3, sobre a condição do homem após a queda, e responda as seguintes questões: Como um morto pode arrepender-se por si mesmo e crer? Como pode o homem, cujos sentidos espirituais estão em trevas, compreender e decidir-se por Cristo Jesus? Qual homem consegue cumprir e amar o sumário da Lei conforme Lucas 10:27?



CONCLUSÃO

Como pudemos observar, todo o ensino bíblico e reformado, apontam claramente para um homem que perdeu, após a Queda, a condição e capacidade de, por ele mesmo, poder voltar-se para Deus. Todavia, necessita de uma intervenção do próprio Deus para “os que predestinou, a esses também justificou, e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8:30).


Lutero e Calvino sempre ensinaram e se preocuparam em enfatizar essa doutrina, de que o homem decaído está totalmente escravo do pecado, pois perdera a verdadeira liberdade, não podendo converter-se a Deus desempenhando um papel ativo (cooperando) no processo que o conduz a salvação.


Jesus Cristo afirmou certa vez que “não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo.5:40). Sabe por que? “A luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal, aborrece a luz” (Jo.3:19-20). O ensino bíblico é que arrependimento e fé não podem ser produzidos por um coração corrompido, pois somente “pela graça somos salvos, por meio da fé; e isto não vem de nós, é dom de Deus” (Ef 2:8).


Portanto, se o Espírito Santo não agir eficazmente no coração e mente desse homem corrompido, vivificando-o e regenerando-o, ele jamais se arrependerá sozinho de seus pecados, reconhecendo o sacrifício expiatório e vicário de Jesus Cristo.


Gosto muito dessa afirmação de feita pelo grande expositor bíblico, Dr. Martyn Lloyd-Jones já citado anteriormente: “O pecador não se decide por Cristo”, mas ele “foge para Cristo em total desamparo e desespero, clamando por misericórdia: ‘Converte-me e serei convertido, porque tu és o Senhor meu Deus’ (Jr.31:18). É como alguém que está se afogando e não simplesmente se “decide” pegar a corda que o salvará, mas agarra-se a ela pois é a única escapatória, a única esperança. ‘Decidir-se por Cristo’ é uma expressão imprópria”.


Não nos enganemos quanto ao verdadeiro estado espiritual e natureza humana. Porque estando o homem morto em seus delitos e pecados, não será persuadido com retórica eloqüente, muito menos por apelos emotivos (e o que preocupa hoje é justamente isso, muita gente “convencida” e “massageada em seu ego”, e nunca convertidas realmente), uma vez que será única e plenamente através de Deus que o homem irá “abrir seu coração” para atender a mensagem do Evangelho, como no caso de Lídia em At.16:14.


Mas como bem afirmou Charles Spurgeon: “A graça de Deus não viola a vontade humana, mas triunfa docemente sobre ela” (Fp.2:13).


Busquemos aprender quanto a teologia reformada tem a nos oferecer, com doutrinas cujas raízes são reveladas na Sagrada Palavra de nosso Deus.


Só a Deus Toda Glória!

+ Rev. Raniere Oliveira

17:44

O Que é o Evangelicalismo?


O Que é o Evangelicalismo?


A Tradição Evangélica - Artigo do Rev. John Stott

Gostaria de argumentar, embora corra o risco de simplificar em demasia e de ser acusado de arrogante, que a fé evangélica não é outra senão a fé cristã histórica. O cristão evangélico não é aquele que diverge, mas que busca ser leal em sua procura pela graça de Deus, a fim de ser fiel à revelação que Deus fez de si mesmo em Cristo e nas Escrituras. A fé evangélica não é uma visão peculiar ou esotérica da fé cristã – ela é a fé cristã. Não é uma inovação recente. A fé evangélica é o cristianismo original, bíblico e apostólico.
A marca dos evangélicos não é tanto um conjunto impecável de palavras quanto um espírito submisso, a saber, a resolução a priori de crer e de obedecer ao que quer que seja que as Escrituras ensinem. Eles estão, de antemão, comprometidos com as Escrituras, independentemente do que se possa descobrir que elas digam. Eles afirmam não ter liberdade para lançar seus próprios termos para sua crença e comportamento. Percebem essa perspectiva de humildade e de obediência como uma implicação essencial do senhorio de Cristo sobre eles.
As tradições católica e liberal tendem a exaltar a inteligência e a bondade humana e, portanto, esperam que os seres humanos contribuam de alguma forma para a iluminação e salvação deles mesmos. Os evangélicos, de outro lado, embora afirmem veementemente a imagem divina que a nossa humanidade carrega, têm a tendência de enfatizar nossa finitude humana e queda e, portanto, de insistir que sem a revelação não podemos conhecer Deus e sem a redenção não podemos alcançá-lo.
Essa é a razão pela qual os aspectos essenciais do evangelho focam a Bíblia e a cruz, bem como a indispensabilidade delas, uma vez que foi por meio delas que a Palavra de Deus nos foi comunicada e que a obra de Deus em favor de nós foi realizada. Na verdade, sua graça apresenta a forma trinitária. Primeiro, Deus tomou a iniciativa em ambas as esferas, ensinando-nos o que não poderíamos saber de outra forma, bem como dando-nos o que não poderia nos ser dado de outra maneira. Segundo, em ambas as esferas o Filho desempenha um papel singular, como o único mediador por meio de quem a iniciativa do Pai foi tomada.
Ele é a Palavra que se fez carne, por meio de quem a glória do Pai foi manifestada. Ele é o imaculado que se tornou pecado por nós para que o Pai pudesse nos reconciliar com ele mesmo. Além disso, a Palavra de Deus falada por meio de Cristo e a obra de Deus realizada por intermédio de Cristo eram ambas hapax , completadas de uma vez por todas. Nada pode ser acrescentado a nenhuma delas, sem que com isso se deprecie a perfeição da palavra e da obra de Deus realizada por meio de Cristo. Depois, em terceiro lugar, tanto na revelação quanto na redenção, o ministério do Espírito Santo é essencial. É ele que ilumina nossa mente para compreender o que Deus revelou em Cristo, e é ele quem move nosso coração para receber o que Deus alcançou por meio de Cristo. Assim, nessas duas esferas, o Pai agiu por meio do Filho e continua a agir por meio do Espírito Santo.
Os evangélicos consideram essencial crer não apenas no evangelho revelado na Bíblia, mas também em toda a revelação da Bíblia; crer não apenas que “Cristo morreu por nós”, mas também que ele morreu “por nossos pecados” e, de forma que Deus, em amor santo, pode perdoar os crentes penitentes; crer não apenas que recebemos o Espírito, mas também que ele faz uma obra sobrenatural em nós, algo que, de variadas formas, foi retratado no Novo Testamento como “regeneração”, “ressurreição” e “recriação”.
Eis aqui três aspectos da iniciativa divina: Deus revelou-se em Cristo e no testemunho bíblico total sobre Cristo; Deus redimiu o mundo por meio de Cristo e tornou-se pecado e maldição por nós; e Deus transformou radicalmente os pecadores pela operação interna de seu Espírito. A fé evangélica, assim afirmada, é o cristianismo histórico, maior e trinitário, e não um desvio excêntrico dele. Pois não vemos a nós mesmos oferecendo um novo cristianismo, mas chamando a Igreja ao cristianismo original.
“Se “evangélico” descreve uma teologia, essa teologia é a teologia bíblica. Os evangélicos argumentam que são cristãos bíblicos plenos e que, para ser um cristão bíblico, é necessário ser cristão evangélico. Explicando dessa forma, isso pode soar como arrogância e exclusivismo, mas essa é uma crença sincera. Certamente, o desejo sincero dos evangélicos é não ser um cristão mais ou menos bíblico. A intenção deles não é ser sectário. Isto é, eles não se apegam a certos princípios apenas para manter a identidade deles como um “grupo”. Ao contrário, sempre expressaram sua prontidão para modificar, até mesmo abandonar, quaisquer das crenças que estimam, ou, se necessário, todas elas, se lhes for demonstrado que não são bíblicas.
Os evangélicos, portanto, consideram como a única possível via para a reunião das igrejas a via da reforma bíblica. De acordo com o ponto de vista deles, a única esperança firme para as igrejas que desejam se unir é a disposição comum para se sentarem juntas sob a autoridade da Palavra de Deus, a fim de serem julgadas por ela”.
“O significado da palavra “conservador” quando aplicada aos evangélicos, é que nos apegamos veementemente aos ensinos de Cristo e dos apóstolos, conforme apresentados no Novo Testamento, e que estamos determinados a “conservar” toda a fé bíblica. Isso foi o que o apóstolo determinou que Timóteo fizesse: “Guarde o que lhe foi confiado”, conserve isso, preserve isso, jamais abandone seu apego a isso, nem deixe que isso caia de suas mãos”.

O Rev. John Stott , Ministro Anglicano e escritor, é ex-Capelão da Rainha da Inglaterra e Reitor Emérito da Paróquia de All Souls, em Londres.

Fonte: http://ordemdesantoestevao.blogspot.com/2008/09/o-que-o-evangelicalismo.html

12:16

O Batismo com o Espirito Santo: Uma Analise Teologica






Por Marcelo Lemos

Rejeitamos o cessacionismo, doutrina que restringe a atuação dos chamados “dons extraordinários” apenas a Era Apostólica. Acreditamos na atuação do Espírito Santo na vida da Igreja hoje, inclusive através dos carismas listados nas páginas do Novo Testamento. No entanto não significa validarmos a Teologia Pentecostal, que este ano estará comemorando seu Centenário no Brasil. No artigo de hoje analisaremos alguns pontos problemáticos do pentecostalismo. Nosso objetivo é analisar “os passos para receber o Batismo com o Espírito Santo”, que os professores pentecostais costumam apresentar.

Tomaremos como base para nosso artigo a Lição 4 da revista Lições Bíblicas, 3 Trimestre de 2006, publicada pela CPAD. Foi esta uma revista preparativa para as comemorações do Centenário do Pentecostalismo Brasileiro.

Antes de prosseguirmos apontamos ao leitor aqueles que nos parecem os maiores problemas da doutrina pentecostal. Primeiro, que o Batismo com o Espírito Santo seja tido como uma Segunda Benção. “... todos os salvos são batizados pelo Espírito Santo, mas nem todos são batizados com o Espírito Santo”, diz a revista na página 19. Segundo, a tese de que a evidência de tal batismo o seja o falar “em línguas”. Rejeitamos completamente estas duas proposições.

O Batismo com o Espírito Santo não pode ser uma segunda benção já que está associado ao Novo Nascimento. “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo” (I Cor. 12.13). “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (Atos 2.38). Em outras palavras, aquele que nasce de novo é batizado com o Espírito Santo, recebendo a promessa que se cumpriu no Dia de Pentecostes. Este fato é declarado nos lábios do Apóstolo S. Pedro: “Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quanto Deus, nosso Senhor, chamar” (Atos 2.39).

Nem pode a evidencia do Batismo com o Espírito Santo ser exclusivamente o “falar em línguas”. Tal afirmação contradiz abertamente o ensino do Novo Testamento a respeito dos dons espirituais. “Porventura são todos apóstolos? São todos profetas? São todos doutores? São todos operadores de milagres? Tem todos dom de curar? Falam todos diversas línguas? Interpretam todos?” (I Coríntios 12.29).

Todavia é verdade que existe uma graduação no poder espiritual concedido a um e outro cristão. Podemos negligenciar os dons e falharmos em atingir a Plenitude que o Espírito tem a nos oferecer. Ou podemos nos exercitar nos dons e crescermos, incluindo a conquista de novos dons. “Segui a caridade e procurai com zelo os dons espirituais” (I Coríntios 14.1).

Mas isso não é tudo que temos a dizer hoje, além de rejeitarmos o coração da doutrina pentecostal, queremos também analisar o ensino que é dado sobre o “como receber o Batismo com o Espírito Santo”. A seguir analisaremos cada uma das exigências que se costuma apresentar.

Sendo a pessoa já salva. Inquestionavelmente o Batismo com o Espírito Santo não será dado a uma pessoa incrédula. No entanto, o ensino pentecostal é que o Batismo acontece não no Novo Nascimento, mas em algum momento depois, podendo, inclusive, nunca vir a acontecer. De fato, a doutrina pentecostal implica dizer que milhões de cristãos morreram e morrerão sem terem recebido o Batismo com o Espírito Santo. Grandes nomes do Cristianismo como Lutero, Calvino Tomas Cramner, Whiterfield, Spurgeon e tantos outros, revolucionaram o mundo a sua volta sem terem recebido o cumprimento de tal promessa. Essas são implicações da tese pentecostal.

O argumento é que quando os discípulos foram batizados com o Espírito Santo eles já “a) Tinham seus nomes escritos no céu (Lucas 10.20); b) Eram limpos diante de Deus (João 15.3); c) Possuíam em si a vida espiritual (João. 15.5,16); d) Haviam sido enviados para o seu trabalho, dotados de poder divino (Mateus 10.; Lucas 9.1,2; 10.19)” (pg. 20).

Tal exegese viola o contexto de Atos 2. Evidentemente que os discípulos receberam o cumprimento da Promessa depois de alguns anos de conversão, mas isso se deve apenas ao fato de que o Espírito Santo ainda não havia sido derramado. Como poderiam ter sido batizados antes do Dia de Pentecostes? Absolutamente impossível! Porém, quando a promessa do Espírito Santo se cumpriu naquele Dia de Pentecostes o apóstolo diz aos que ainda não eram convertidos: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (Atos 2.38). Vê-se que não existe um intervalo, nem a possibilidade de deixarem de receber a Promessa – a todos os que crerem em Jesus Cristo assegura-se que receberam do Dom do Espírito Santo. A doutrina de uma “Segunda Benção”, portanto, caí por terra diante da clareza das Escrituras.

Crendo e buscando com sede a promessa divina. Ensina o pentecostalismo que para receber o Batismo com o Espírito Santo você precisa: a) aceitar Jesus; b) Crer e buscar com sede o Batismo. Como acabamos de ver este ensino não pode ser verdadeiro, pois separa o “crer em Jesus” do “receber a promessa”. Isso basta para que o rejeitemos completamente. Além disso, são afirmações completamente desprovidas de apoio Escriturístico. Onde a Bíblia ensina tal coisa? Observe o leitor que o Batismo com o Espírito Santo nunca é ordenado nas Escrituras, mas sempre descrito como sendo um fato alcançado pelos cristãos. Mesmo na Igreja de Coríntios, onde tanta carnalidade imperava, Paulo afirma terem sido “todos” batizados com o Espírito: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito” (I Coríntios 12.13). Não existe um único mandamento nas Escrituras para que o cristão seja batizado com o Espírito Santo, pois após o Dia de Pentecostes é impossível ser cristão sem ter recebido tal batismo.

Os pentecostais costumam apontar o fato de que os discípulos passaram vários dias orando no Cenáculo até que a promessa do Espírito se cumprisse. Isso é fato. Todavia, este fato não comprova o ensino pentecostal de que para receber o Batismo com o Espírito santo seja necessário um período de “busca”. Lembramos mais uma vez que até então o Espírito Santo não havia sido derramado sobre a Igreja, e ordem de Cristo era que “não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai” (Atos 1.4). Certamente ao verem Jesus ressuscitado desejavam sair anunciando o Evangelho a todo Israel e ao mundo. Mas Cristo ordena que fiquem em Jerusalém até que a Promessa se cumprisse. E eles ficam em oração. Observem, no entanto, que o cumprimento da promessa era um fato e não uma possibilidade que poderia ou não acontecer dependendo do quanto orassem!

Depois daquele glorioso dia, o Pentecostes, as pessoas se convertiam ao Evangelho e eram batizadas com o Espírito Santo. Nada nas Escrituras nos diz sobre “crer na Promessa do Batismo”, ou então sobre “Buscar com sede o Batismo”. A mensagem do Evangelho nos diz sobre “crer em Jesus”, e disso nos vêm todos os benefícios, incluindo o Dom do Espírito Santo (Atos 2.38).

Vivendo em santidade. Diz sobre isso a revista que temos citado: “Para você que busca o batismo, há alguma área da sua vida não submissa totalmente a Cristo?” (pg. 21).

Podemos responder a isto com os mesmos argumentos que usamos até aqui: que o Novo Convertido nasce de novo e recebe o Dom do Espírito Santo. Logo, ele não depende de boas obras para isso, apenas a fé. A luz do que expomos até o momento tão conclusão deverá ser obvia. No entanto, podemos expandir um pouco mais nossa argumentação para avaliar melhor o erro pentecostal. O questionamento feito pela revista carrega consigo a ideia de que para receber o Batismo com o Espírito Santo é preciso que o cristão tenha atingido um alto nível de santidade pessoal, do contrário, por mais que ele busque não receberá a Promessa. Assim, temos vários passos: a) crer em Jesus; b) crer na Promessa; d) Buscar com sede a promessa; e) Atingir um alto nível de santificação. Apesar de todo o sistema estar errado, estes dois últimos (‘d’ e ‘e’) são especialmente preocupantes. Como veremos, trata-se de uma doutrina centralizada no homem e não na Graça de Deus.

Não se trata de diminuir ou rejeitar a importância da santificação na vida cristã, mas de não coloca-la como algo centrado no homem. Nossa santificação é obra da Graça de Deus em nós, incluindo nosso arrependimento: “Na verdade, até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida” (Atos 11.18). É Deus, por sua Graça, que nos faz andar na luz de seus mandamentos: “E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei o coração de pedra da vossa carne e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis” (Ezequiel 36. 26,27).

Por isso afiramos juntamente com a Reforma “sola fide”, ou seja, somente pela fé, sem as obras. Não em desprezo as obras, mas em reconhecimento de que tudo o que temos - inclusive as obras que realizamos - nos é dado pela Graça de Deus, e não por nossos méritos pessoais. “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2.13).

A santidade pretendida na exigência pentecostal é centrada no homem, é meritória. Trata-se da tentativa humana de negociar com Deus, oferecendo-Lhe algo primeiro. Isso nos leva a uma santificação utilitarista, na qual o homem procura fazer o bem almejando os benefícios que poderá alcançar. Não é santidade pela santidade, mas a santidade em troca de algo. Trata-se de um discurso muito popular em nossos dias, e não está restrito aos campos pentecostais, infelizmente. Somos aconselhados à santidade para sermos mais usados na Obra; para sermos mais eficientes e produtivos; para não amargarmos fracassos. Essa mentalidade esquece-se de pregar e viver a santidade como um bem em si.

De fato, santidade é um princípio na nova vida que o cristão recebe. Não se trata apenas de um meio pelo qual atingimos novos patamares na vida cristã – é um princípio existencial. Não existe a possibilidade de uma nova vida alheia ao princípio da santificação - estão interligadas a tal ponto que a Escritura questiona: “Nós que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” (Romanos 6.1). Assim que, não é a santidade um mérito humano, e portanto não se pode usá-la como mercadoria de barganha com Deus, como também é um bem em si mesma, um princípio existencial, e não um mero caminho para chegarmos além.

Acredito que o leitor já terá compreendido o ponto: não podemos buscar a santidade por motivos egoístas. Ser santo para ser mais útil? Ser santo para ser mais usado por Deus? Ser santo para ter um ministério grande? Não, apenas isto: “Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque Eu sou santo” (I Pedro 1.14,15). Vê, santidade como um princípio, não como uma mera ponte.

Para concluir faremos menção a outros detalhes. Em primeiro lugar os riscos inerentes das ênfases errôneas do pentecostalismo. Quantas pessoas usadas por Deus em tantas áreas permanecem atormentadas pela ideia de não terem recebido a Promessa do Espírito, simplesmente porque o ensino pentecostal exige que elas falem “em outras línguas”? Por outro lado, quantas pessoas não se tornaram farisaicas em seu modo de viver, e de julgar os outros, crendo que receberam a Promessa do Espírito devido seus esforços pessoais? E ainda pior: quantos estão tranquilos em sua vida de pecado, imaginando que por possuírem dons Deus está satisfeitas com elas? Sim, pois se para Deus usar alguém é preciso que se esteja agradando a Deus em tudo, então o homem é julgado pelos seus dons e não por sua conduta. Não é de tal pensamento que nasce a recusa e o medo que muitos têm de criticarem “homens usados por Deus”, mesmo que a conduta deles os denuncie como falsos cristãos? Aos tais recordamos o aviso de Mateus 7. 21-23.

Sem espaço para nos estendermos ressaltamos que o erro teológico da “Segunda Benção” ensinada pelos pentecostais não anula uma verdade central das Escrituras: a possibilidade e a necessidade do cristão encher-se constantemente do Espírito Santo: “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Efésios 5.18). Do mesmo modo como o Batismo com o Espírito Santo nunca é apresentado nas Escrituras como um imperativo ou exortação, constantemente a Bíblia ordena que os cristãos sejam cheios do Espírito Santo. Assim, o Batismo com o Espírito Santo não é uma “Segunda Benção”, mas a Plenitude do Espírito pode ser descrita desse modo. Temos aqui um mandamento: “Enchei-vos do Espírito”. Há sim, no oceano do Espírito, tesouros a serem buscados.


Sobre o editor: Marcelo Lemos Gonçalves é Bacharel em Teologia, pastor,apaixonado por pregação, liturgia, anglicanismo e escola dominical. Casado, com Meirelene Gonçalves, é pai de dois filhos, Yago e Yuri; e nas horas nada vagas, atua como blogueiro. De vez em quando, acha que sabe fritar pastéis, fazer churrasco e escrever artigos.

Fonte: http://www.olharreformado.com/2011/04/o-batismo-com-o-espirito-santo-uma.html

14:24

A AUTORIDADE DA BÍBLIA




As Escrituras canônicas do Antigo e Novo Testamento são “a palavra de Deus escrita”, inspirada e autorizada, verdadeira e confiável, coerente e suficiente para a salvação. “A Palavra de Deus escrita” tem vida e e poderosa como guia divino tanto para a conduta quanto para a fé crista.

A fé trinitária, cristocêntrica, orientada para a redenção, que se encontra na Bíblia, esta encarnada nos credos ecumênicos históricos... Em cada época, o Espirito Santo conduz o povo de Deus, a Igreja, a submissão as escrituras como seu guia. Para isso, usa sempre como ponto de referencia o respeito as santas tradições, o uso humilde da razão humana e a oração.
A Igreja nao pode se constituir juiz das Escrituras, descartando e selecionando ensinos. As Escrituras mesmas, sob a autoridade de Cristo, julgam a Igreja no que tange a sua fidelidade a verdade por ele revelada.

(Dt 29:29; Is 40:8; 55:11; Mt 5:17,18; Jo 10:35; 14:26; Rm 1:16; Ef 1:17-19; II Tm 2:15; 3: 14-17; II Pd 1:20,21. Ver Artigo VI- VIII, XX).

fonte: http://igrejaanglicana.com.br/archives/a-essencia-do-anglicanismo/

14:19

AFIRMAMOS QUE A PALAVRA SE FEZ CARNE




Cremos em Jesus Cristo

- o filho encarnado de Deus, nascido da Virgem Maria, em vida sem pecado,
- ressuscitado dos mortos corporalmente e agora reinando em gloria, embora presente com seu povo pelo Espirito Santo.
- Ele e ao mesmo tempo, o Jesus da historia e o Cristo das Escrituras.
- É Deus conosco e único mediador entre Deus e a humanidade, a fonte da salvação e o doador da vida eterna a Igreja universal.

(Mt 1:24,25; Mc 15: 20-37; Lc 1:35; Jo 1:14; 17: 20,21; At 1:9-11; 4:12; Rm 5:17; Fp 2:5,6; Cl 2:9; I Tm 2:5,6; Hb 1:2; 9:15. Ver Artigos II-IV; O Credo de Niceia).



Fonte:http://igrejaanglicana.com.br/archives/a-essencia-do-anglicanismo/

19:06

Rejeição de Erros




Depois de haver explanado a verdadeira doutrina da eleição e da reprovação, o Sínodo condena e rejeita os seguintes erros:

Erro 1

— O completo e total decreto da eleição para a salvação é a vontade de Deus de salvar aos que irão crer e perseverar na fé e na obediência. Quanto a esse decreto, nada mais que isso foi revelado pela Palavra de Deus.

Refutação

— Esse erro é um engano e contradiz claramente à Escritura que declara não somente que Deus irá salvar aos que crêem mas também que Ele, desde a eternidade, escolheu pessoas específicas. No tempo oportuno ele concede a esses eleitos, em detrimento de outros, a fé em Cristo e a perseverança. “Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo” (Jo 17.6). “E creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.48). “assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor” (Ef 1.4).

Erro 2

— Há vários tipos de eleição divina para a vida eterna. Uma é geral e indefinida, a outra é específica e definida. Esta última, por sua vez, pode ser: incompleta, revogável, duvidosa e condicional, ou então: completa, irrevogável, cabal e absoluta. Da mesma maneira que há uma eleição para a fé e, uma outra para a salvação. Assim, a eleição pode ser para a fé justificadora sem contudo ser definitiva para a salvação.

Refutação

— Tudo isso é invenção da mente humana sem ne- nhuma base na Escritura. Isso corrompe a doutrina da eleição e rompe a corrente de ouro da nossa salvação: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.30).

Erro 3

— O beneplácito e o propósito de Deus do qual a Escri- tura fala na doutrina da eleição não é que Ele escolheu especifi- camente algumas pessoas e outras não, mas que de entre todas as condições possíveis (assim como as obras da lei) Ele escolheu e selecionou o ato de fé — que não tem nenhum mérito em si mesmo — e também a imperfeita obediência da fé, para que fossem condição de salvação. Em Sua graça Ele quis considerar essa fé como obediência perfeita e digna da recompensa da vida eterna.

Refutação

— Esse erro ofensivo rouba toda a eficácia do bene- plácito de Deus e dos méritos de Cristo, empurra as pessoas para longe da verdade da justificação pela graça e da simplicidade da Escritura; além de contradizer a palavra do apóstolo: “[Deus] nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a Sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2Tm 1.9).

Erro 4

— A eleição para a fé depende das seguintes condições: o homem deve fazer uso da luz da natureza do modo apropriado, deve ser piedoso, humilde, manso e qualificado para a vida eterna.

Refutação

— Se isso fosse verdade a eleição dependeria do homem. Isso assemelha-se ao ensinamento de Pelágio e choca-se diretamente com ensinamento do apóstolo em Efésios 2.3-9: “entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mos- trar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”.

Erro 5

— A eleição incompleta e não-definitiva de pessoas específicas para a salvação dá-se com base na presciência da fé, da conversão, da santidade, da piedade que começaram ou existiram por algum tempo. A eleição completa e definitiva, no entanto, ocorreu por causa da presciência da perseverança na fé, da conversão, da santidade e da piedade até o fim. Esse é o mérito gracioso e evangélico pelo que o eleito é mais digno do que o não eleito. Por isso, a fé, a obediência da fé, a santidade, a piedade e a perseverança não são frutos da imutável eleição para a glória. Antes, são as condições e as causas necessárias requeridas e sabidas de antemão como concretizadas naqueles que serão eleitos integralmente.

Refutação

— Esse erro milita contra toda a Escritura, que constantemente nos incute o seguinte: A Eleição é motivada “não por obras, mas por Aquele que chama” (Rm 9.11); “e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.48); “assim como nos escolheu nEle antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele” (Ef 1.4); “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” (Jo 15.16). “se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Rm 11.6); “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo 4.10).

Erro 6

— Nem toda eleição para a salvação é imutável. Alguns dos eleitos podem e até mesmo perecem eternamente a despeito de qualquer decreto de Deus.

Refutação

— Esse erro grosseiro torna Deus mutável, destrói a consolação que os crentes têm na firmeza da sua eleição e con- tradiz a Sagrada Escritura: O eleito não pode ser desviado, Mt 24.24; “E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu” (Jo 6.39). “E aos que predesti- nou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses tam- bém justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.30).
Erro 7

— Nesta vida não há fruto, consciência ou certeza da imutável eleição para a glória, exceto a que se baseia numa condição mutável e incerta.
Refutação

— Falar de uma certeza incerta não é apenas absurdo mas é também contrário à experiência dos crentes. Sendo conscientes da sua eleição, eles se gloriem com os apóstolos nesse favor de Deus (Efésios 1); eles se regozijem com os discípulos de Cristo, por terem os seus nomes escritos no céu (Lucas 10.20); e eles levantem a consciência da eleição contra os dardos inflamados do maligno, quando exclamam: “Quem intentará acusa- ção contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8.33).

Erro 8

— Deus não decidiu, simplesmente com base em sua justa vontade, deixar nenhuma pessoa na queda de Adão e no estado comum de pecado e condenação, nem decidiu preterir ninguém na concessão da graça necessária para fé e conversão.

Refutação

— A Escritura, no entanto, declara: “tem Ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem Lhe apraz” (Rm 9.18). Afirma também: “a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido” (Mt 13.11). E ainda: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado” (Mt 11.25, 26).

Erro 9

— Deus envia o Evangelho a um povo mais que a um outro, não meramente e somente por causa do bom propósito de sua vontade, mas por ser este melhor e mais digno que o outro, ao qual o Evangelho não é comunicado.

Refutação

— Moisés nega isso quando fala ao povo de Israel, como se vê a seguir: “Eis que os céus e os céus dos céus são do SENHOR, teu Deus, a terra e tudo o que nela há. Tão-somente o SENHOR se afeiçoou a teus pais para os amar; a vós outros, descendentes deles, escolheu de todos os povos, como hoje se vê” (Dt 10.14, 15). E Cristo diz: “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido com pano de saco e cinza” (Mt 11.21).

Fonte: Cânones de Dort

06:07

O decreto eterno de Deus


Artigo 6 — O decreto eterno de Deus

Procede do decreto eterno de Deus conceder, no tempo devido, o dom da fé a alguns e não, a outros. Pois Ele conhece todas as Suas obras desde a eternidade, e “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade”. De acordo com este decreto, Ele graciosamente quebranta os corações dos eleitos, por mais duros que sejam, e os inclina a crer; entretanto, segundo o Seu justo juízo, ele deixa os não-eleitos em sua própria malignidade e dureza. E aqui, especialmente, nos é revelada a profunda, misericordiosa e ao mesmo tempo justa distinção entre homens igualmente merecedores de condenação, que é o decreto da eleição e da reprovação, revelado na Palavra de Deus. Embora os homens perversos, impuros e volúveis o distorçam para a própria destruição deles, esse mesmo decreto proporciona consolação indizível às almas santas e tementes a Deus.

• At 13.48; 1Pe 2.8; Ef 1.11.

Artigo 7 — Definição da Eleição

A eleição é o propósito imutável de Deus pelo qual Ele, antes da fundação do mundo, segundo o soberano beneplácito da Sua vontade e por pura graça, escolheu para a salvação em Cristo — de entre toda a raça humana, caída pela própria culpa do estado original de integridade no pecado e na perdição — um número definido de pessoas específicas, em nada melhores nem mais dignas que as outras, porém envolvidas na mesma miséria dos demais.

Também desde a eternidade, Ele constituiu a Cristo como o Mediador e o Cabeça de todos os eleitos e o fundamento da salvação. Assim decretou dar a Cristo os que haveriam de ser salvos e chamá-los e trazê-los eficazmente à Sua comunhão pela Sua Palavra e Espírito. Ele decretou conceder-lhes a fé verdadeira em Cristo, os justificar, os santificar e por fim — depois de os ter preservado poderosamente na comunhão do Seu Filho — os glorificar, para a demonstração da Sua misericórdia e o louvor da riqueza da Sua graça gloriosa. Como está escrito: Deus nos escolheu em Cristo “antes da fundação do mundo, para sermos santos e ir- repreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado”. E em outro lugar: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”.

• Ef 1.4,11; Jo 17.2, 12, 14; Jo 6.37, 44; 1Co 1.9; Ef 1.4-6; Rm 8.30.

Artigo 8 — Um único decreto de eleição

Não há vários decretos de eleição, mas um único e mesmo decreto para todos os que hão de ser salvos, tanto debaixo do Velho quanto do Novo Testamento. Porque a Escritura declara que o beneplácito, o propósito e o conselho da vontade de Deus é único. Segundo este propósito Ele nos escolheu desde a eternidade tanto para a graça quanto para a glória, tanto para a salvação e para o caminho da salvação — o qual preparou para que andássemos nele.

• Dt 7.7; 9.6; Ef 1.4, 5; 2.10.

Artigo 9 — A eleição não se baseia em fé prevista

Tal eleição não se baseia em fé prevista, em obediência da fé, santidade ou de qualquer outra boa qualidade ou disposição que seja a causa ou a condição necessária aos homens para serem eleitos; os homens, todavia, são eleitos para a fé, para a obediência da fé, para a santidade etc. A eleição é, portanto, a fonte de todas as virtudes salvadoras de onde emana a fé, a santidade e os outros dons salvadores, e por fim a própria vida eterna, como frutos e efeitos da eleição. É isso o que o apóstolo ensina quando diz: “assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, (não porque fôssemos santos, mas) para sermos santos e irrepreensíveis perante ele”.

• Rm 8.30; Ef 1.4. 100

Artigo 10 — A eleição baseia-se no beneplácito de Deus

A causa dessa eleição graciosa é tão-somente o beneplácito de Deus, o qual não consiste de haver Deus escolhido de entre todas as condições possíveis umas certas qualidades ou ações dos homens como requisito para a salvação; mas consiste em que Ele, de entre a multidão dos pecadores, adotou para Sua possessão certas pessoas. Pois está escrito: “ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal ... e já fora dito a ela (a Rebeca): O mais velho será servo do mais moço”. E também: “todavia, amei a Jacó, porém aborreci a Esaú”. E ainda: “e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”.

• Rm 9.11-13; Gn 25.23; Ml 1.2, 3; At 13.48.

Artigo 11 — A eleição é imutável

Como o próprio Deus é infinitamente sábio, imutável, onisciente e onipotente, assim também a Sua eleição não pode ser desfeita, refeita, alterada, revogada nem anulada; tampouco podem os eleitos ser rejeitados, nem o número deles diminuído.

• Jo 6.37; 10.28.

Artigo 12 — A certeza da eleição

Os eleitos recebem no tempo oportuno — ainda que em vários graus e diferentes modos — a certeza da sua eterna e imutá- vel eleição para a salvação. Eles, todavia, não a obtêm quando curiosamente investigam as coisas ocultas e profundas de Deus, mas quando observam em si mesmos, com alegria espiritual e santo deleite, os infalíveis frutos da eleição indicados na Pala- vra de Deus — como a fé verdadeira em Cristo, o temor filial a Deus, a piedosa tristeza pelos seus pecados, e a fome e a sede de justiça.

• Dt 29.29; 1Co 2.10, 11; 2Co 13.5; 7.10; Mt 5.6.

Artigo 13 — O valor desta certeza

A consciência e a certeza da eleição fornecem aos filhos de Deus maior motivo para se humilharem diariamente diante de dEle, para adorarem a profundidade das Suas misericórdias, para se purificarem e para amarem fervorosamente Àquele que os amou primeiro de modo tão grandioso. Contudo absolutamente não é verdade que a doutrina da eleição e o meditar nela os façam relaxar na observação dos mandamentos de Deus ou os rendam falsamente seguros. No justo juízo de Deus isso normalmente ocorre aos que supõem atrevidamente ter a graça da eleição, ou que dela falam de modo leviano e jactancioso, mas que se recu- sam a andar nos caminhos dos eleitos.

• 1Jo 3.3; 4.19.

Artigo 14 — Como se deve ensinar a eleição

A doutrina da eleição divina, segundo o mui sábio conselho de Deus, foi pregada pelos profetas, pelo próprio Cristo e pelos apóstolos, tanto debaixo do Velho Testamento quanto do Novo Testamento, sendo então registrada por escrito nas Sagradas Es- crituras. Assim, também hoje, essa doutrina deve ser ensinada na igreja de Deus — para qual ela foi particularmente destinada — em tempo e lugar apropriados, com espírito criterioso, de modo reverente e santo, sem curiosa investigação nos caminhos do Altíssimo, para a glória do santíssimo nome de Deus, e para a viva consolação do Seu povo.

• At 20.27; Jó 36.23-26; Rm 11.33; 12.3; 1Co 4.6. 102

Artigo 15 — A descrição da reprovação

As Sagradas Escrituras mostram e nos recomendam esta graça eterna e imerecida da nossa eleição, especialmente quando além disso declara que nem todos os homens são eleitos, mas que alguns não são eleitos, ou foram preteridos na eleição eterna de Deus. Deus, pelo seu beneplácito mui soberano, justo, irrepreensível e imutável, decretou deixá-los na miséria comum em que eles se lançaram por sua própria culpa e não lhes concedeu a fé salvadora, nem a graça da conversão. Para mostrar a Sua justiça, Deus os deixou em seus próprios caminhos e debaixo do Seu justo juízo, decretando, por fim, os condenar e punir eternamente, não apenas pela incredulidade deles, mas também por causa de todos os seus outros pecados. Este é o decreto da reprovação, o qual não faz de Deus o autor do pecado (o só pensar isso é blasfêmia!), antes o revela como o terrível, irrepreensível e justo Juiz e Vingador do pecado.

• At 14.16.

Artigo 16 — Como reagir à doutrina da reprovação

Alguns não ainda discernem claramente em se mesmos uma fé viva em Cristo, nem confiança firme no coração, nem boa consciência, nem zelo pela obediência filial e pela glorificação de Deus por meio de Cristo. Apesar disso, eles usam os meios pelos quais Deus prometeu operar tais coisas em nós. Eles não devem se assustar quando se fala da reprovação, nem devem se incluir entre os reprovados. Pelo contrário, devem continu- ar a usar esses meios com diligência, a almejar com fervor um tempo de graça mais abundante e a esperá-lo com reverência e humildade. Há também outros que desejam se converter a Deus com seriedade, tão somente para O agradar e para serem libertos do corpo da morte, contudo não conseguem chegar até onde gosta- riam no caminho da piedade e da fé. Essas pessoas não deveriam ter tanto medo da doutrina da reprovação, pois Deus, que é mi- sericordioso, prometeu que não esmagará a cana quebrada e não apagará o pavil que fumega. Há ainda outros que desprezam a Deus e ao Senhor Jesus Cristo e que se entregam completamente aos cuidados do mundo e às concupiscências da carne. Para esses, a doutrina da repro- vação é mesmo apavorante, pois não se voltam para Deus com seriedade.

• Tg 2.26; 2Co 1.12; Rm 5.11; Fp 3.3; Rm 7.24; Is 42.3; Mt 12.20; 13.22; Hb 12.29.

Artigo 17 — Os filhos de crentes que morrem na infância

Devemos julgar a respeito da vontade de Deus com base na Sua Palavra, que declara que os filhos dos crentes são santos, não por natureza, mas em virtude do aliança da graça do qual participam juntamente com os seus pais. Por essa causa, pais tementes a Deus não devem duvidar da eleição e da salvação daqueles seus filhos a quem Deus chamou desta vida ainda na infância.

• Gn 17.7; Is 59.21; At 2.39; 1Co 7.14.

Artigo 18 — Não protesto, mas sim adoração

Aos que se queixam da graça da eleição imerecida e da severidade da reprovação justa, replicamos com as palavras do apóstolo: “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?!”, e com essas palavras do nosso Salvador: “Porventura, não me é lícito fazer o que quero do que é meu?”. Nós, porém, adorando com reverência estes mistérios, exclamamos com o apóstolo: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!”.

• Jó 34.34-37; Rm 9.20; Mt 20.15; Rm 11.33-36.

Fonte:Cânones de Dort