08:31

Compreendendo a fé




A fé está no centro da experiência religiosa. Alguns falam passar por uma “crise de fé”, ou oram “Senhor, aumenta a minha fé”. Há vários tipos de “fé”:

a) a fé natural, que é uma capacidade inata em todas as pessoas para crer além dos dados, das evidências e do racional (viajar de avião, casar, receber um cheque...). Sem ela seria impossível a vida em sociedade;

b) a fé idolátrica, que é dirigida a criaturas (pessoas, objetos, instituições), tomando o lugar do Criador, como um objeto equivocado;

c) a fé supersticiosa, que atribui a coisas ou fatos atributos de poder exclusivos da Divindade (amuletos, números, ritos, horóscopos);

d) a fé mágica, quando se procura por o Criador a serviço das criaturas, em uma trágica inversão, em que se “negocia” com o sagrado (promessas, despachos, votos);

e) a fé antropocêntrica, em que o ser humano pretende ser, ao mesmo tempo, o sujeito e o objeto da fé, prescindindo de Deus (apelando para um “deus” dentro de si mesmo);

f) a fé fidocêntrica, em que o poder não está nem no sujeito, nem no objeto, mas na própria experiência: o importante é ter “fé” (“fé na fé”...). Esses equívocos não solucionam a necessidade espiritual de uma relação correta com o Criador, que ressalta na descoberta de um significado permanente para a vida.

Por isso, encontramos nas Sagradas Escrituras um outro tipo de fé: a fé salvífica, fruto da ação do Espírito Santo em nossos corações, que conduz à verdade encarnada: Jesus Cristo, único Senhor e Salvador. Uma fé que nos religa a Deus, e que é “a certeza das coisas que se esperam, e a firme convicção das coisas que se não vêem”, nas palavras do apóstolo Paulo. Uma fé que conduz à escuta, à obediência, à mudança interior, e a novos valores e projetos existenciais, alimentada na “comunidade de fé” (a Igreja) e vivenciada no mundo, no cotidiano da vida. “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie” (Ef.2:8).



Dom Robinson Cavalcanti é escritor evangélico e bispo da Diocese Anglicana do Recife

Fonte: http://www.dar.org.br/bispo/50-artigos/164-compreendendo-a-fe.html

09:56

Uma conversa com a alma




Alma, alma...porque te escondes,
se a vida acontece diante de Deus?
Porque não te derramas diante dele em verdade?
Alma, alma...não adianta fingir, nem mentir,
porque perseveras em fugir daquilo que na real; não podes fugir?
sabes bem que a tua hipocrisia, não pode a Deus resistir,
Então te apresentas como tu és, com a tua nudez,
sem as tuas máscaras.
como diz a musica "mostra a tua cara".
Seja qual for tua vergonha, vem...
O Supremo te formou, ele sabe como és...
venha em verdade, isso te fará bem
Venha desfrutar dessa liberdade,
enxergar a verdade, em Cristo remissão tu tens...
e descanso para as cargas da vida, terás para sempre. Amém.

Aldair Ramos Rios

15:24

O Cara Que Não se Achou “O Cara”




Rev. Marcus O. Throup (¬)



Ultimamente, enquanto o noticiário evangélico traz (mais) más notícias sobre a megalomania de pastores cujo egoísmo dizima a igreja, o Lecionário traz leituras sobre um líder humilde cujo esforço uniu o povo de Deus à beira do rio Jordão. Esse líder cristão do passado demanda a atenção de todo e qualquer que se considera “líder cristão” no presente. Falo, é claro, de João Batista.



No que se refere ao Batista, cada evangelho traz um pedacinho de informação, com efeito, que, juntando os pedaços, como se faria com uma fotografia rasgada em quatro, temos como saber quem e como era João. Por um lado a própria voz dele salta das páginas do Novo Testamento: “Depois de mim vem aquele que é mais poderoso do que eu, de quem não sou digno de, inclinando-me, desatar as correias das sandálias” (Mc 1.7); “Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30); “Tu vens a mim? Eu é que preciso ser batizado por ti!” (Mt 3.14). Evidentemente, o testemunho de cada evangelista ‘bate’ com os demais, e a impressão que temos de João, à base das suas próprias palavras, é de um humilde servo que se curvou diante do Senhor Jesus.



A humildade de João impressiona ainda mais quando levamos em conta os seguintes fatores:

(1) João ficou famoso como figura profética, atraindo para si multidões e agregando discípulos (pode ser que Mc 1.5 se trate de hipérbole, mas a hipérbole tem fundamento);

(2) João foi pregador de renome, ouvido por governantes (que nem sempre gostaram daquilo que ouviram dele);

(3) João era primo legítimo de Jesus, membro, digamos, da família real (e, de fato, de uma família sacerdotal);

(4) João era tido como um segundo Elias, o maior dos profetas clássicos (alguns pensavam que fosse até o Cristo cf. Jo 1.20).



Ora, se alguém tivesse o direito de se achar alguma coisa na vida, era João. Como líder religioso era muito bem sucedido, porém, diferente do atual padrão evangélico, no caso de João, o bom êxito ministerial não o levou à arrogância, prepotência e megalomania. Na frente dos seus muitos seguidores João anunciou ser servo de Jesus e com todas as letras dizia ser indigno dele. Na frente dos governadores se manteve fiel até a morte – morte essa que a mesma fidelidade provocou – abrindo mão de qualquer possível defesa em termos de um apelo à sua fama e popularidade, abraçando, ao invés, seu martírio. Na frente de todos, João podia ter se exaltado em virtude da sua ligação familiar com o Messias, mas ele não se beneficiaria do nepotismo, e nem sequer mencionou o vínculo. Na frente das autoridades religiosas, apesar de ser o último na linha dos profetas (cf. Lc 16.16) em contradistinção aos líderes como Teudas e Judas o Galileu (At 5.36-37), negou “ser alguém” e rejeitou qualquer associação messiânica.



João era um cara que podia ter se achado ‘o cara’. Ele tinha todas as credenciais necessárias, mas, nem a fama nem o sucesso nem o poder subiram à cabeça. Logo chegamos à conclusão que João Batista, em razão da sua humildade, era o cara. É o próprio Jesus quem o diz: “Ele (João) era a candeia que ardia e iluminava” (Jo 5.35); “Entre os nascidos de mulher, não há outro maior que João...” (Lc 7.28); “A lei e os profetas vigoraram até João” (Lc 16.16).



Entendemos que João era grande à medida que se fazia pequeno. E daí nós vemos a reciprocidade que há entre João e Jesus, pois, Jesus se humilhou assumindo a forma de homem a fim de viver entre nós, morrer por nós e ressurgir para nós, abrindo mão do seu status majestoso, preferindo servir a ser servido (cf. Mc 10.45). Assim, João prefigura Jesus perfeitamente, mas passa também a prefigurar todo líder cristão, pois o nosso lema deveria ser: “Convém que Jesus cresça e que eu diminua”.



¬ Rev. Marcus Oliver Throup; é Presbítero da Diocese do Recife; Secretário Diocesano de Relações Internacionais; professor no SAT-PB; membro da Equipe Pastoral da Concatedral Anglicana da Ressurreição, no Arcediagado Paraíba/Rio Grande Norte.

Fonte:http://www.dar.org.br/artigos/28-clero/1898-o-cara-que-nao-se-achou-o-cara-rev-marcus-throup.html