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80 Razões Pelas Quais o Crente Não Pode Perder a Salvação

por :Autor Desconhecido


01. Gênesis 7:16 - Sendo a arca um tipo de Cristo (IPe.3:20,21; Rm.3:6:4), o crente está seguro nele (Cl.3:3; Ap.3:7).
02. Efésios 4:30 - O crente está selado no Espirito Santo (Ef.1:13; IITm.2:19), e este selo é inviolável e irrevogável (Es.8:8; Dn.6:12).
03. II Coríntios 1:22 - O crente tem o penhor do Espirito Santo como garantia segura e inabalável (IICo.5:5).
04. Gálatas 3:15 - Deus fez com o crente, na pessoa de Abraão (Gl.3:29), uma aliança irrevogável.
05. I Coríntios 11:25 - Deus fez com o crente, na pessoa de Abraão, uma aliança incondicional, selada com sangue (Jr.34:18, 19; Gn.15:12-21), e não com sapato (Rt.4:7,8) ou com sal (Nm.18:19; Lv.2:13).
06. Gênesis 15:12 - Deus fez com o crente, na pessoa de Abraão, uma aliança unilateral (o rompimento da aliança só seria possível se Deus morresse).
07. Jeremias 31:31-33 - Mediante a nova aliança (com sangue), o temor do Senhor é insuflado no coração do crente (Jr.32:39,40) para que não se aparte de Deus (Hb.3:12;8:8-13; Ez.36:26,27).
08. Salmos 12:7 - O crente é guardado por Deus, do mal que há no mundo.
09. Salmos 17:8 - O crente é guardado por Deus como a menina dos Seus olhos.
10. Salmos 25:20 - A alma do crente é guardado por Deus (Sl.97:10).
11. Salmos 37:28 - O crente é preservado para sempre.
12. Salmos 12l:5-8 - O Senhor guarda o crente; guarda a sua alma de todo o mal; guarda a sua saída; guarda a sua entrada; e o guarda para sempre.
13. Salmos 145:20 - O Senhor guarda os crentes que O amam.
14. Jeremias 31:3 - O amor de Deus para com o crente é eterno.
15. Jó 5:19 - O crente é guardado do mal (Sl.91: Jo.17:9-26).
16. I João 5:18 - O crente é guardado do maligno (IITs.3:3; Jr.31:11).
17. Judas 24 - O crente é guardado para não tropeçar (ISm.2:9; Is.63:13).
18. João 11:9 - A fé do crente não lhe permite tropeçar (Rm.9:31-33).
19. Provérbios 10:25 - O crente tem perpétuo fundamento (IITm.2:19; ICo.3:11).
20. I Pedro 1:5 - O crente é guardado pela fé no poder de Deus.
21. Hebreus 12:2 - Jesus é o Autor da fé, e por isso, o crente não pode perdê-la (Fp.1:29; ICo.3:5; At.18:27; Gl.5:22; IITs.3:2).
22. Romanos 16:25 - O crente é guardado pelo poder de Deus (IITm.1:12; Jd.24).
23. Hebreus 6:17 - A salvação do crente se fundamenta em duas coisas imutáveis: a) a promessa (Js.21:45; At.13:32; IICo.1:20; Ef.3:6; Hb.9:14,15;10:23; IJo.2:25); b) o juramento (Hb.6:16). Só a promessa, sem o juramento já era em si mesma suficiente, mas Deus querendo mostrar a imutabilidade daquilo que Ele decretou, foi além da promessa, fazendo juramento. E Deus foi ainda mais além quando jurou pelo Seu próprio nome, porque não havia outro nome superior ao Seu (Hb.6:13,16; Jr.44:26;Nm.23:19).
24. Salmos 37:33 - O crente jamais será condenado (Sl.89:30-35; ICo.11:32).
25. Salmos 37:23,24 - Se o crente cair, não ficará prostrado (Sl.145:14; Pv.24:16; Jó 4:4; Rm.14:4;Mq.7:8).
26. Salmos 121:3 - O crente pode cair da graça (Gl.5:4), mas jamais cairá para a perdição (Sl.17:5;66:9).
27. Isaías 46:3,4 - O crente é conduzido por Deus até o fim (Sl.121:8).
28. I Coríntios 10:13 - A tentação não pode condenar o crente (Rm.6:14,18; IIPe.2:9).
29. João 4:14 - O crente jamais terá sede (Lc.16:24).
30. João 5:24 - O crente já passou da morte para a vida.
31. Romanos 6:8,9 - O crente já morreu com Cristo (IITm.2:11).
32. I Pedro 1:3,4 - O crente foi regenerado para uma viva esperança.
33. I Pedro 1:23 - O crente foi regenerado pela Palavra de Deus.
34. I João 3:9 - O crente foi regenerado pelo Espirito Santo (Jo.3:5; Tt.3:5).
35. João 6:37-40 - O crente jamais será lançado fora.
36. João 6:47 - O crente já possui a vida eterna (IJo.5:11-13; ITm.6:12).
37. João 10:28 - O crente não pode ser arrancado da mão do Filho.
38. João 10:29 - O crente não pode ser arrancado da mão do Pai.
39. Lucas 15:3-10 - Há alegria no céu por um pecador que se arrepende.
40. João 10:27 - O crente é conhecido do Senhor (Jo.10:14; IITm.2:19; ICo.8:3; Gl.4:9; Mt.7:21-23).
41. Mateus 28:20 - Jesus está com o crente todos os dias até o fim dos séculos.
42. Romanos 8:1 - Nenhuma condenação há para o crente (Rm.8:33,34).
43. Romanos 8:30 - Sendo justificado, o crente também será glorificado.
44. Romanos 8:28 - Todas as coisas cooperam para o bem do crente (Gn.50:20).
45. Romanos 8:35-39 - Nada poderá separar o crente do amor de Deus (Jo.13:1).
46. I Coríntios 3:15 - O crente infiel será salvo como pelo fogo (ICo.5:1-5;11:29-32).
47. I Coríntios 1:8 - O crente será confirmado até o fim (Rm.16:25; IITs.3:3).
48. Filipenses 1:6 - Deus mesmo terminará a obra no crente (Fp.2:13).
49. Colossenses 3:3 - A vida do crente está escondida com Cristo em Deus.
50. Efésios 5:27 - A igreja será sempre irrepreensível (IICo.11:2; ICo.12:26,27).
51. I Tessalonicenses 5:1-10 - O crente não será surpreendido na vinda do Senhor.
52. II Timóteo 2:13 - O crente infiel será salvo pela fidelidade de Deus (Rm.3:3).
53. Hebreus 13:5 - O crente jamais será abandonado por Deus.
54. I João 5:1 - O crente é nascido de Deus, e não pode "desnascer"
55. I Pedro 1:4 - O crente possui a natureza divina.
56. Romanos 8:9-11 - O crente é propriedade de Cristo (ICo.6:19,20).
57. I Tessalonicenses 5:23,24 - O crente é conservado irrepreensível.
58. I João 5:16 - O crente não pode pecar para a morte eterna (IJo.3:9;5:18).
59. I Coríntios 12:3 - O crente não pode blasfemar contra o Espírito Santo (Mt.12:32; Mc.9:39,40;Lc.11:23; IJo.5:10; Jo.3:33).
60. I João 2:19 - O crente é perseverante na fé (Mt.10:22;24:13; IIJo.9; Ap.13:10;14:12).
61. João 10:26 - O crente é ovelha e não porca lavada (IIPe.2:20-22).
62. João 13:10 - O crente já está limpo do seu pecado (Jo.15:3).
63. I Coríntios 1:30 - Cristo é a justiça do crente.
64. I Coríntios 1:30 - Cristo é a santificação do crente.
65. I Coríntios 1:30 - Cristo é a redenção do crente.
66. Salmos 25:20 - Deus é o refúgio do crente (Hb.6:18).
67. I João 2:22,23 - O crente não pode negar o filho (Mt.10:33; IITm.2:12).
68. Romanos 8:37 - O crente sempre será vencedor (Jo.16:33; Ap.2:7,11,17,26;3:5,12,21).
69. I João 5:4 - O crente vence o mundo.
70. I João 2:14 - O crente vence o diabo (IJo.4:4; Ap.12:11).
71. Romanos 6:14 - O crente vence o pecado (a carne).
72. Romanos 11:29 - O dom de Deus é irrevogável.
73. João 19:30 - Todo o pecado do crente está consumado.
74. Gálatas 3:13 - O crente foi resgatado para sempre da maldição da lei.
75. Apocalipse 5:9 - O crente foi comprado com sangue (ICo.6:20;7:23; IPe.1:18,19).
76. Salmos 90:17 - É Deus quem efetua a obra no crente (Jo.3:21; Ef.3:20; Is.26:12;64:4; Fp.2:13).
77. João 17:20 - Cristo intercedeu pelos crentes, e continua intercedendo (Hb.7:25; IJo.2:1; Rm.8:34).
78. Romanos 8:26,27 - O Espírito Santo intercede pelo crente.
79. II Coríntios 1:20 - Jesus é o "Amém" das promessas de Deus (Jo.6:47).
80. I Pedro 4:1 - O crente já cessou do pecado (Rm.6:14; IJo.3:9).

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O Pensamento Puritano

por :Rev. Augustus Nicodemos Lopes
Os puritanos davam muita ênfase na certeza plena da sua salvação. Sabiam que o propósito do homem é "glorificar a Deus e gozá-lo para sempre" mas entendiam que, enquanto não se alcançasse essa certeza plena de que você era um eleito, não poderia glorificar a Deus de forma total. Quando nós pensamos que uma das coisas que impulsionava a máquina puritana, ou todo o movimento puritano, e os levava àquela ousadia de enfrentar reis e rainhas, lembramo-nos que tudo era decorrente da convicção e da certeza advindas do fato de estarem plenamente seguros de que Deus estava ao lado deles. Portanto, esta questão da certeza da salvação, da certeza da eleição, é fundamental no movimento puritano. Eles achavam que esta era a maior bênção que alguém poderia ter ainda neste mundo. Por isso este tema é importante de ser conhecido.
O puritano Willliam Guthrie, no seu livro, "O Maior Benefício do Crente" (1658) diz: "Qual a principal ocupação do homem neste mundo?" Resposta: "Ter certeza de que participa de Cristo e viver de acordo com isto". Thomas Brooks, outro puritano famoso, no seu livro "Céu na Terra" de 1654, diz o seguinte: "Estar no estado de graça concede ao homem o céu no futuro; saber que está no estado de graça concede o céu agora e no futuro".
Esta era a base, portanto, das reformas externas que eles pretendiam fazer na Igreja e no Estado; a certeza que eles tinham de que eram povo eleito de Deus, lhes dava coragem para além das portas da Igreja e enfrentar o mundo aplicando a Palavra de Deus em todos os aspectos da vida.
Os puritanos ingleses, em especial, destacavam e enfatizavam o papel de uma vida transformada nesse processo de se obter a certeza de salvação. É interessante observarmos que neste ponto os puritanos foram mais além e, num certo sentido, até divergiram dos reformadores, especialmente Lutero. Martinho Lutero, por causa da sua ênfase contra o Romanismo, fez uma distinção radical entre fé e obras. Os que conhecem a posição luterana sabem disso. O conceito de Graça e o conceito de Lei, ficou dentro do Luteranismo ao ponto de que os estudiosos do Luteranismo alemão de hoje, como por exemplo Bultman, olharem para o Velho Testamento, que Lutero considerava como Lei, e não verem qualquer valor no Antigo Testamento por acharem que a dicotomia, a separação, entre Lei e Graça é total. E Lutero dava muita ênfase a esta distinção radical entre fé e obras. Calvino era mais equilibrado. Ele achava que as obras tinham um papel fundamental na vida cristã mas que, de forma alguma, colaboravam para salvação. Sem dúvida, nenhum deles dizia que o homem era salvo pelas obras, mas acreditavam que as obras tinham um papel preponderante na vida do crente.
Os Puritanos concordavam com Calvino que é por meio das obras realizadas através da graça, que os eleitos "fortalecem o seu chamado e, a exemplo das árvores, são julgados por seus frutos [...] não sonhamos com uma fé destituída de boas obras, nem de uma justificação que poderá subsistir sem elas".
Os puritanos queriam colocar as duas coisas juntas; não porque defendessem salvação pelas obras, como nós iremos ver adiante, mas é que os puritanos estavam lutando num contexto diferente dos reformadores. Os puritanos estavam enfrentando uma Igreja que tinha a sã doutrina; era uma Igreja que tinha vindo da Reforma mas que havia se tornado tolerante; estavam enfrentando uma geração de hipócritas, pessoas que possuíam a doutrina da Reforma e, porque tinham a doutrina certa, porque vieram da Reforma, achavam que isso bastava. Os puritanos diziam: "de forma nenhuma! ninguém pode ter certeza de salvação se não tiver provas concretas na sua vida; evidências da graça de Deus no seu coração!".
Nós podemos, então, quase que fazer a seguinte afirmação: enquanto que a preocupação maior da Reforma foi mostrar como uma pessoa podia ser salva, o Puritanismo se preocupava em mostrar como ela saberia que estava salva. Na época em que os puritanos viveram (século XVII), defendiam que a certeza de salvação era o resultado de um encontro pessoal, contínuo e vivo com o Deus da Aliança. Essa ênfase era uma fonte de irritação para muitos que chamavam os puritanos de presunçosos, legalistas e introspectivos, porque olhavam muito para o seu coração, para a sua vida, examinando-se, para verificar as evidências da obra da Graça de Deus, para que então pudessem afirmar que estavam salvos. 1. A relação entre a fé que salva e a certeza de salvação, no movimento puritano.
Quando os puritanos afirmam na Confissão de Fé que a certeza da salvação não faz parte da essência da fé salvadora, estão querendo dizer que uma pessoa pode estar salva e ainda não ter alcançado a certeza de salvação. E alguém pergunta: por que é que os puritanos, então, foram mais além do que os reformadores, neste ponto? Os puritanos ensinavam que a fé ativa, a fé que salva, não é uma atividade intelectual somente, mas ela se centraliza no coração do homem; e que uma fé que não move o coração, uma fé que não move a vontade, uma fé que não muda a conduta, não pode ser uma fé salvadora. Era nesse ponto, então, que os puritanos iam um pouco mais além dos reformadores. O famoso Thomas Goodwin, chamado de "o maior exegeta de todos os tempos, que do púlpito expôs os escritos de Paulo", diz as seguintes palavras no seu livro "Fé Justificadora" (volume oito das suas obras):
"aquele ato de fé que justifica o pecador é diferente da convicção absoluta de que ele tem a vida eterna, e portanto esta fé pode existir sem a convicção, já que a fé não contém necessariamente uma certeza inabalável inerente em si mesma; quando se afirma que somente os que têm plena e inabalável certeza de salvação são crentes verdadeiros, condena-se uma geração inteira de justos cuja fé, quer seja por causa da fraqueza ou por várias tentações, nunca chegou ainda a atingir um nível inabalável, mas que entretanto apega-se a Cristo de todo coração e caminha obedientemente em Seus mandamentos. O principal ato da fé não é certeza ou convicção plena, visto que a fé reside na vontade do homem e que é pelo consentimento deste que ele se une a Cristo. A fé não reside primariamente no intelecto. Certeza da salvação é o selo que vem confirmar o que a fé fez e portanto vem depois dela".
Então, isso é o que ensinavam os puritanos, especialmente os puritanos ingleses influenciados por Beza.
A Confissão de Fé da Igreja Presbiteriana ensina exatamente a mesma coisa. A Confissão de Fé é um reflexo da teologia puritana, e eu quero citar aqui o capítulo XVIII no parágrafo terceiro da Confissão de Fé: "Esta segurança infalível", de salvação, "não pertence de tal modo à essência da fé, que um verdadeiro crente, antes de possuí-la, não tenha de esperar muito e lutar com muitas dificuldades". Ou ainda o Catecismo Maior na pergunta 81. Pergunta: "Todos os verdadeiros crentes têm sempre a certeza [de salvação,] de que estão agora no estado de graça e de que serão salvos?" Resposta: "A certeza da graça e salvação, não sendo da essência da fé, os crentes verdadeiros podem esperar muito tempo antes de consegui-la". Os puritanos não negavam que se pode ter a certeza de salvação, claro que eles enfatizavam isso, mas eles estavam reagindo a uma situação, a uma igreja onde a graça era "barata", onde pelo simples fato de você ser inglês, e portanto membro da igreja da Inglaterra, era considerado salvo. Os puritanos diziam: "de forma nenhuma! Você têm que primeiro ver as evidências, examinar a sua vidas à luz da Palavra de Deus antes de que possa dizer: eu sou um dos eleitos, eu sou um dos salvos, eu tenho a fé verdadeira".
Outra evidência dessa doutrina puritana, está no Catecismo Maior na pergunta 172, onde se vê a pergunta sobre a Santa Ceia e se questiona se uma pessoa, que não tem plena certeza da sua salvação, pode participar deste sacramento. Os puritanos respondem dizendo que seria ideal que tivesse, mas desde que a certeza de salvação não é parte, não é essência, da fé salvadora, então aquela pessoa que ainda tem dúvida, mas que ama a Jesus e deseja andar nos seus caminhos, pode se aproximar da Ceia do Senhor para participar dela para ser fortalecido pelos meios de graça no Senhor Jesus. Era assim que eles viam a questão da participação na Ceia do Senhor.
Estamos enfatizando a descontinuidade entre a questão da fé salvadora e a certeza de salvação que os puritanos faziam, mas ao mesmo tempo eles enfatizavam uma certa continuidade. Aqui é necessário uma explicação. A distinção que eles faziam entre fé que salva e a certeza de que se está salvo não era qualitativa. Não é que as duas coisas fossem diferentes uma da outra, mas sim quantitativa. Em outras palavras: a fé salvadora, a fé inicial que a pessoa exerce em Jesus, é bastante para faze-lo estender sua mão e receber a oferta de Deus que é Jesus Cristo, e esta fé inicial tem em si mesma, confiança suficiente para dizer: "eu sou um pecador, mas Cristo morreu por mim" e estende a mão e recebe a Jesus. Então existe essa confiança inicial, porém esta fé inicial, esta fé salvadora, ela cresce e amadurece até produzir plena convicção, até produzir absoluta certeza. Eles diziam que esta certeza, ou esta convicção, conquista todas as dúvidas e prevalece contra todas as tentações. Então o alvo maior do puritano, na vida cristã, era crescer na graça ao ponto de atingir esta certeza plena na sua vida, de que era de Cristo e que Cristo era dele.
Não devemos pensar que eles estavam fazendo muita confusão numa coisa tão simples. A diferença é que eles encaravam a questão, de certeza de salvação, de um ponto de vista muito diferente que os evangélicos hoje estão acostumados a encarar, quando pensam o contrário do que ensina a Confissão de Fé de Westminster. Certeza de salvação não vem simplesmente de um ato onde você levanta a sua mão, ou faz uma decisão a favor de Cristo e a partir daí, na mesma hora, lhe é dada certeza de salvação. Os puritanos achariam isso um absurdo, porque você não pode dar certeza de salvação a uma pessoa enquanto aquela pessoa não demonstra na sua vida o resultado da fé, fé ativa. Isso porque eles criam que a fé não era algo do intelecto, mas era centralizada no coração, e se é no coração, deve mover o homem, a suas emoções, a sua vontade, modificar a sua conduta e produzir frutos dignos de arrependimento.
Thomas Brooks mostrou como os puritanos, faziam essa distinção entre fé salvadora e certeza plena, mas ao mesmo tempo dizia que uma cresce e produz a outra. No livro "Céu na Terra", Thomas Brooks diz o seguinte (numa página ele começa dizendo): "certeza da salvação não faz parte da essência do ser um cristão", mas logo alguns parágrafos abaixo ele diz: "entretanto a fé a seu tempo, por si mesma se erguerá e progredirá até a plena convicção". Então, se vê aqui, como os puritanos mantinham os dois lado: a fé inicial é suficiente para nos levar a Cristo, porém ela tem que crescer e progredir até desabrochar em segurança plena. Thomas Goodwin no seu livro, no capítulo sobre Fé Justificadora, diz o seguinte: "no coração do cristão está selado um sussurro secreto da misericórdia da parte de Deus. Eu não afirmo que isso se transforme imediatamente em plena convicção, mas que este sussurro secreto é suficiente para conduzir o coração a Cristo e jamais abandoná-Lo."
Voltemos outra vez à Confissão de Fé de Westminster, citando agora o capítulo XIV no parágrafo III. A Confissão de Fé diz o seguinte: a fé salvadora "é de diferentes graus: é fraca ou forte, pode ser muitas vezes e de muitos modos assaltada e enfraquecida, mas sempre alcança a vitória, desenvolvendo-se em muitos até à plena segurança em Cristo, que é tanto o Autor como o Consumador da fé." Ele é o autor, da fé inicial, e é o seu consumador. Ou seja, à medida que esta fé progride e atinge a sua plena consumação, desabrocha na confiança inabalável que os puritanos possuíam e que os capacitava a enfrentar os reis e os exércitos para levar o Reino de Deus avante.
Em resumo, podemos dizer o seguinte: os puritanos faziam esta distinção entre a plena certeza e a confiança inicial da fé, e insistiam que esta certeza inabalável é o alvo maior na vida cristã e que ela cresce a partir do ato inicial da fé; se desenrola a partir daquele momento inicial, e que cada crente pode atingir este alvo, e deve esforçar-se por isso, sabendo que é um pecado não se esforçar para progredir na graça até esta plena certeza.
Vamos mostrar algumas conseqüências na vida prática dos puritanos, que os fazia pensar assim. Os irmãos sabem que há uma conexão indissolúvel entre o que se acredita e o que se pratica. Já que os puritanos criam assim, a sua prática era organizada ou controlada por esta convicção.
Em primeiro lugar, eles não consideravam certeza de salvação como critério para se analisar alguém, para ver se a pessoa era crente ou não. Infelizmente isso é muito comum hoje em dia. Hoje, quando nós queremos evangelizar uma pessoa e não sabemos se ela é crente, a primeira pergunta é: você tem certeza de salvação? Os puritanos jamais fariam esta pergunta usando-a como critério, se uma pessoa era salva ou não. Porque para eles os testes relacionados, os testes da salvação não eram apenas uma confissão, embora isso fosse importante, mas era a vida e o propósito de se seguir a Jesus. Por isso essa pergunta para eles não fazia parte da sua abordagem evangelística em primeiro lugar.
Em segundo lugar, por outro lado, tão logo uma pessoa se convertia, ela era encorajada a prosseguir na vida cristã crescendo até obter a plena certeza, e os puritanos gostavam especialmente de dois textos (eles gostavam da Bíblia toda mas especialmente de dois textos nessa conexão): Primeiro era Hebreus 6.11: "Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando até ao fim a mesma diligência para a plena certeza da esperança...", e ainda II Pd.1.10: "Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum". E esta ênfase da Palavra de Deus em confirmar a nossa vocação e eleição em todo tempo, era também a ênfase deles; eles acreditavam nisso e todo novo convertido era encorajado a isso. Não era dada a certeza de salvação ao novo convertido, mas eles encorajavam a que o novo convertido progredisse, crescesse na sua confiança inicial em Jesus até alcançar esta plena certeza.
Em terceiro lugar, uma outra conseqüência, era que os puritanos advertiam os novos convertidos de que a fé salvadora é sempre acompanhada de santidade de vida; que ela inevitavelmente há de produzir mudanças, ou de produzir evidências, na vida das pessoas; que serão os sinais, as marcas da obra da Graça de Deus e que se a pessoa não as tem, não as porta, não traz consigo estes sinais, não tem como dizer que está salva. Então, a ênfase era em santidade de vida, antes de que você pudesse dizer que estava salvo. E também no seu aconselhamento, quando o pastor puritano encontrava alguém que estava em profunda depressão, e que estava incerto do seu relacionamento com Deus, ele não começava dizendo: "você então precisa se converter, se você não tem certeza de salvação você tem que se converter". Eles não começavam assim. Eles sabiam que a pessoa podia ser um crente verdadeiro cuja fé tinha sido abalada ou diminuída porque negligenciou os meios de graça, negligenciou o estudo da Palavra, negligenciou a oração, negligenciou o atendimento aos cultos, negligenciou ouvir a Palavra de Deus pregada. Estes são os meios chamados "Meios Ordinários", comuns, através dos quais o Espírito produz a convicção, e se a pessoa os abandona, como ela pode vir a ter certeza do seu relacionamento com Deus? Primeiramente, o pastor puritano, o conselheiro puritano, ele examinava como estava a vida devocional daquela pessoa; como estava o seu uso dos meios de graça. Ou então, uma outra coisa que ele podia pensar, é que a pessoa havia cometido algum pecado, que havia de forma especial ferido a sua consciência e entristecido o Espírito Santo. Portanto, a pessoa não podia mais desfrutar daquela alegria, daquele gozo que eram características de alguém que é salvo. Assim ele fazia uma análise, convidava a pessoa a se auto-examinar, a examinar a sua consciência, a sua conduta, procurando aquilo que poderia ser o obstáculo ao crescimento até à plena certeza. Além disso, eles sabiam também que o crente podia ser assaltado por Satanás de forma tão súbita e violenta que a sua fé podia ser abalada. Isso é possível. E então, eles também exploravam esta área.
Eles também acreditavam - isto está inclusive refletido na Confissão de Fé - que Deus para provar o crente em algumas ocasiões, retira a luz da Sua presença. Era o que os puritanos chamavam de "a noite da alma". Dessa forma a alma do crente entrava na "noite" e, sentindo-se quase que abandonado, perguntava: "meu Deus por que me desamparastes?". Mas não era nada, era Deus testando seu filho, querendo saber se ele o seguia apenas pelas bênçãos recebidas ou porque O amava. O puritano sabia que existia "a noite da alma", e também dava valor a isso quando estava aconselhando as pessoas. Sabia também que a pessoa podia ser uma nova convertida que ainda estava querendo compreender a Graça de Cristo, entender plenamente, enquanto a fé amadurecia e lutava contra as dificuldades. Também, o pastor puritano ao aconselhar uma pessoa que não tinha certeza de salvação, sabia também que a razão podia ser que ela não era salva e que precisava, então, deixar os seus pecados, a sua incredulidade, e se converter ao Senhor Jesus, ou então precisava de uma instrução mais clara a respeito do caminho da Graça.
Percebemos assim, como essa ênfase, essa separação que os puritanos faziam entre fé e certeza de salvação, leva-nos a um lugar de mais seriedade quando examinamos um candidato ao batismo, quando evangelizamos, ou quando queremos examinar os outros e dizer se ele é crente ou não. Às vezes isso é necessário. Mas o caminho dos puritanos era por aqui, eles entendiam que tinha de ser uma avaliação da vida do indivíduo, buscando os sinais da operação da Graça de Deus. E eu acredito que isso já é um corretivo para as tendências do evangelicalismo brasileiro, onde uma "graça barata" é oferecida: um Cristo que não faz exigências; uma fé que não muda o coração; uma certeza de salvação que é dada simplesmente porque uma pessoa fez uma decisão, levantou a mão, ou qualquer coisa deste gênero. Não estou negando que uma pessoa pode ser salva assim, pode. Mas o que estou dizendo é que a certeza de salvação não vem do fato de que você atendeu um apelo ou levantou uma mão. Mas, a certeza de salvação é decorrente da sua observação, de você perceber na sua vida os sinais da Graça Salvadora de Deus mudando a sua vida e o seu coração. Essa é a ênfase dos puritanos, na relação entre fé e certeza.
Somos obrigados a falar sobre outra questão muito importante. A relação entre a razão, o intelecto, e a obra do Espírito Santo. Os puritanos faziam isso quando tratavam dessa questão de certeza de salvação. Nós precisamos deixar muito claro aqui um ponto. E não me entendam mal, pois se me entenderem mal vão entender mal os puritanos. E eles agora não podem nem se defender a não ser através dos livros; então leia os seus livros. Os puritanos não diziam que a base da certeza de salvação era a análise que o crente fazia da sua vida. Não, de forma nenhuma. A base e a convicção da salvação, segundo os puritanos, era externa, era a obra de Cristo na cruz do Calvário, que era suficiente para salvar todo aquele que crê, como está revelado na Escritura. Era essa a base, não somente da salvação, mas da certeza.
Mas a questão é: como eu sei que estou salvo? Como eu sei que a minha fé é a fé que salva? Como é que eu sei que de fato participo de Cristo? Os puritanos atacaram essa questão que não era uma questão nova. Essa questão de como é que uma pessoa, um crente, pode conhecer a vontade de Deus era uma questão que vinha ocupando já a Igreja durante muitos séculos. Na época medieval Tomaz de Aquino fez uma dicotomia, uma separação muito grande, entre a capacidade da razão em compreender, analisar, em chegar a uma conclusão e a fé, que era um reino completamente diferente. Havia esta dicotomia. Daí então se fazia a pergunta: de que forma eu sei que estou salvo? É pela minha razão? Eu examinando, verificando as evidências da minha vida, ou fazendo uma comparação, fazendo um cálculo dizendo: "a Bíblia diz que eu sou salvo se eu for assim, eu sou assim, logo eu sou salvo". É um processo intelectual em que eu chego a conclusão de que estou salvo? Ou é um processo místico, um processo espiritual, quando o Espírito Santo vem, e de forma direta sem nem passar pela minha razão ele testifica no meu coração.
Esse é um conflito que a Igreja vinha debatendo durante muito tempo. Se você ler os puritanos, você vai ver que de vez em quando eles mudam de ênfase. Você vê que alguns puritanos colocam muita ênfase na questão do raciocínio, do intelecto. Eles estavam lutando contra os místicos, contra aqueles monges, contra aqueles falsos piedosos que falavam de um misticismo extraordinário mas que não tinha frutos. O puritano dizia: "Não, não. Você tem que analisar, você tem que ver a sua vida. Use a sua mente. Some um mais um e veja se bate dois, veja se você é crente".
Quando eles enfrentavam os intelectuais, os hipócritas, que achavam que estavam salvos só porque tinham a sã doutrina, então, a ênfase deles era no testemunho do Espírito Santo. Diziam: "Não, não, você tem que vê se tem o testemunho do Espírito Santo no seu coração, se o seu coração está aquecido, se está mudado, de fato transformado". Em outras palavras, na lógica puritana da doutrina da salvação não havia qualquer dicotomia, porque eles acreditavam que a plena certeza de salvação decorre de um exame sincero e humilde das evidências internas e externas da sua salvação juntamente com o testemunho interno do Espírito Santo. Ou seja, para eles não havia separação, já que o Espírito Santo opera na mente humana e através da mente humana. E assim nós encontramos esta síntese, esta combinação equilibrada dos puritanos sobre esta questão que havia se levantado na Idade Média.
Cito algum testemunho dos puritanos. John Owen, nas suas obras, no volume 2, dá uma descrição gráfica de como a razão opera juntamente com o Espírito Santo para estabelecer a certeza de salvação. Ele diz: "A alma, pelo poder de sua própria consciência, é trazida diante da Lei de Deus. Lá o homem apresenta o seu caso. Ele argumenta: ‘Eu sou filho de Deus’, e apresenta todas as evidências de sua filiação. Em meio à sua defesa, enquanto ele está diante de Deus argumenta: ‘Eu tenho essas evidências. Na minha vida vejo esses sinais’. Então, o Espírito Santo vem e, através de uma palavra ou de uma promessa, conquista o seu coração com a persuasão consoladora, derruba todas as objeções e confirma que a sua causa é certa". Assim nós vemos como eles criam nas duas coisas. Ou ainda William Guthrie, outro puritano, escreve: "Certeza é obtida através da seguinte argumentação: quem crê em Cristo jamais será condenado, eu creio em Cristo, logo jamais serei condenado", e mais "o Espírito Santo testifica sobre esta avaliação e a torna evidente à mente". Tem que ser as duas coisas. Richard Sibbes no volume um das suas obras diz: "Eu sei que creio porque o Espírito Santo impele a minha alma a isto, porém a forma mais comum de conhecermos o nosso estado diante de Deus é deduzindo a causa a partir dos efeitos". Estou enfatizando estas coisas para mostrar como o movimento puritano, as equilibrou e deixou como legado para Igreja esta doutrina que abrange os dois aspectos: a questão do intelecto e a questão do testemunho do Espírito no coração. Isso nos ajuda muito por causa da situação do evangelicalismo brasileiro. Quando por um lado nós temos a tendência ao formalismo: que leva uma pessoa a acreditar que está salva apenas porque é firme doutrinariamente. A essa o puritano diria: "E o seu coração meu irmão? E o testemunho interno do Espírito Santo?". Por outro lado nós temos o emocionalismo divorciado de uma mente informada. A esse o puritano dizia: "Não, não, você tem que estudar a Palavra, examiná-la, e examinar a sua vida. As duas coisas têm que bater antes de que você diga que você está salvo". Quero ainda mencionar a Confissão de Fé no capítulo XVIII verso dois. Aqui os puritanos dizem: "Esta certeza não é uma simples persuasão conjectural e provável, fundada numa esperança falha, mas uma segurança infalível da fé, fundada na divina verdade das promessas de salvação, na evidência interna daquelas graças nas quais essas promessas são feitas, e no testemunho do Espírito de adoção que testifica com os nossos espíritos que somos filhos de Deus". Então, o puritano acreditava que na operação conjunta destas coisas, o crente podia chegar à plena certeza de salvação.
Quero rapidamente tocar num assunto aqui que tem sido motivo de polêmica entre os irmãos que têm começado a conhecer o movimento dos puritanos, a ler sua literatura. O fato é esse: embora os puritanos enfatizassem os dois lados, ou seja, a dedução racional das evidências para se chegar à certeza de salvação; e por outro lado o testemunho direto do Espírito Santo, eles tinham uma predileção pelo testemunho direto do Espírito Santo na alma. Isso eles valorizavam acima de tudo. Era bom ter os dois, mas o testemunho direto no coração do crente junto com a graça, junto com as evidências da graça, era o que eles valorizavam mais. Essa ênfase estava, num certo sentido, perdida, mas quem começou a chamar a atenção para este aspecto do movimento puritano foi Dr. Martyn Lloyd-Jones, e eu recomendo aos irmãos especialmente o seu comentário em Romanos 8:16 (Editora PES) e Efésios 1:12-14. Quem não tem adquira, porque ali você vai encontrar uma exposição clara desta ênfase dos puritanos sobre o testemunho direto do Espírito no coração. Ou ainda aquele livro "Avivamento" em alguns capítulos.
Quero ler aqui o testemunho de alguns comentaristas puritanos em Romanos 8:16 e Efésios 1:3. Romanos 8:16: "O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus." William Guthrie comentando este texto diz o seguinte: "Existe uma comunicação do Espírito de Deus que algumas vezes é concedida a alguns do seu povo, que vai além do testemunho acerca da filiação divina em Romanos 8:14". Em Romanos 8:14, lemos assim: "Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." então, pode-se dizer, que é esse primeiro passo. Se você é guiado pelo Espírito, e tem as evidências desse andar no Espírito, então você chega à conclusão de que é salvo. E Paulo vai mais além. No verso dezesseis, segundo William Guthrie, Paulo está agora falando de um outro nível de certeza, quando Paulo diz que o Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Então ele continua: "É uma manifestação gloriosa de Deus à alma, derramando seu amor no coração, é algo que se percebe melhor sentindo do que descrevendo. Não é uma voz audível, mas é um raio de glória enchendo a alma da presença de Deus; do Deus que é luz, vida, amor, e liberdade. Ó quão gloriosa é esta manifestação do Espírito! A fé se eleva a uma convicção plena tal, que você se vê diante do próprio Deus! Esta graça não é dada a todos os crentes; muitos passam seus dias em tristeza e temor". Eles acreditavam, então, na soberania de Deus em conceder esse testemunho direto, esse testemunho íntimo à alma do crente que era além da certeza normal que se obtém através dos meios de graça, e eles davam muito valor a isso.
Ou ainda Richard Sibbes, no livro "Uma Fonte Selada", ele diz o seguinte:
"Acontece freqüentemente que nossas almas, apesar de santificadas, não conseguem resistir às súbitas tentações, sutis e fortes. Deus, então, nos adiciona do seu Espírito. A sensação de culpa sempre vence o testemunho dedutivo de que fomos salvos e santificados".
Preste bem atenção. Sibbes está dizendo que esta certeza de salvação que vem da nossa dedução, do exame, do fato de que eu sou santo, que eu deixei disso ou deixei aquilo outro, que eu tenho vontade de ler a Bíblia, que eu tenho vontade de orar; essa análise que você faz da sua vida e a conclusão a que você chega, não é suficiente para resistir a determinadas tentações; "portanto o testemunho direto do Espírito se faz necessário para testificar do amor do Pai por nós. Através desse testemunho o coração é animado e confortado com gozo indizível". Ou seja, nós chegamos à conclusão da nossa salvação através dos meios dedutivos, examinando, olhando. Mas isso às vezes é insuficiente para as tentações, para os ataques do diabo, mas existe então, esta certeza que nos é comunicada pelo Espírito diretamente ao nosso coração, como diz Romanos 8:16. É essa certeza, então, que dissipa toda dúvida, que nos liberta, que nos enche de gozo. É isso que nos diz o puritano Richard Sibbes.
Veja ainda o que diz Thomas Goodwin, expondo Efésios 1:13:
"Existe uma luz que vem e conquista a alma humana e lhe assegura que ela é de Deus e que Deus é dela, e que Deus o ama eternamente. É uma luz além da fé comum; é a coisa que chega mais próxima ao gozo do céu; aqui na terra é o máximo que podemos ter; é a fé elevada à sua máxima potência acima do nível comum; é o amor soberano de Deus vindo de encontro da alma do eleito".
Vou narrar apenas duas experiências dos puritanos nesse sentido. Uma é muito conhecida, é de John Flavel, um puritano que escreveu vários livros e foi descrita por Isaac Watts. Ele diz que esse puritano, John Flavel, estava de viagem a cavalo, quando de repente Deus começou a tratá-lo de uma forma bem íntima. Isaac Watts descreve assim, resumidamente, a experiência:
"Os pensamentos de Flavel começaram a elevar-se cada vez mais altos, como as águas na visão de Ezequiel até se tornarem como uma inundação. Tal era a disposição da sua mente, tal gosto das alegrias celestiais, e tal a certeza plena da sua participação no céu que ele perdeu totalmente a sensação que estava neste mundo, bem como ficou sem qualquer outra preocupação. Durante horas a fio ficou sem saber onde estava, como alguém que acorda de um sono profundo. A alegria do Senhor inundou seu coração de tal forma que durante muitos anos ele chamou aquele dia: ‘Um dia do céu sobre a terra’, e que aprendeu mais sobre o céu naquele dia de que com todos os seus livros".
Era isso que o puritano buscava, essa plena convicção, essa certeza absoluta que era mais do que uma dedução normal e racional, daquilo que nós estamos vendo em nossa vida.
Há também o exemplo (há muitos outros mas eu selecionei apenas estes), de um puritano chamado João Howe, que também é narrado por Isaac Watts. Quando ele morreu encontraram escrito numa página da sua Bíblia: "O que eu senti pela misericórdia do meu Deus, no dia 22 de outubro de 1704, ultrapassa meu poder de descrição. Naquele dia experimentei um agradabilíssimo derreter do meu coração com lágrimas jorrando dos olhos e alegria por Deus ter derramado o Seu amor no coração dos homens, especialmente porque meu próprio coração havia sido tocado desta forma". A experiência tinha sido tão extraordinária, e única, que ele escreveu na página da sua Bíblia, registrando-a para a posteridade até os dias de hoje. E assim vemos este desejo dos puritanos de ter uma certeza, mas que fosse dada pelo testemunho do Espírito no seu coração.
Deixe-me fazer aqui algumas observações necessárias. Os puritanos não encaravam esta forma de se obter plena certeza, que eu acabo de mencionar, como sendo normativa. Isso não acontece todo dia. Eles não encorajavam as pessoas a buscarem experiências místicas. De forma nenhuma. Era algo desejável, porém era algo que era dado, era algo que era da soberania de Deus, e portanto eles procuravam deixar na mão de Deus. Eles não desprezavam o processo dedutivo normal, desde que assistido pelo Espírito. Era o normal, e todos deviam buscar a certeza de salvação pela fé na obra de Cristo e pelo exame de suas vidas, pela evidência que foram tocados pela graça. E eles exerciam muita cautela quando se tratava de experiências místicas. Em geral eles rejeitam revelações extraordinárias e sobrenaturais. Eu não tenho tempo de entrar na análise deste ponto. E inclusive está na própria Confissão de Fé de Westminster. Para que o crente tenha certeza de salvação ele não precisa de uma revelação extraordinária. A Confissão de Fé enfatiza isso. Quando ela vinha, o puritano exigia que ela tinha de ser compatível com as outras evidências. Ou seja, um hipócrita não podia sentir esse tipo de coisa. Mas se acontecia na vida de um santo, na vida de um homem que andava com Deus, um homem que tinhas as evidências da graça, era genuína.
Portanto nós acreditamos que aqui há um equilíbrio que pode ser muito útil também à Igreja brasileira, quando vivemos numa época em que há um misticismo, há uma ênfase tão grande em buscar experiências com Deus. Os puritanos acreditavam que Deus pode dar experiências (não revelacionais), e eles eram gratos e felizes a Deus quando Deus dava, mas eles encaravam como sendo algo da soberania de Deus, que não era algo que era da vida diária e que o crente na sua vida normal é guiado pela Palavra, pelo exame da sua vida em análise com a Palavra de Deus e que quando essa experiência vinha ela tinha que ser atestada por uma vida santa, de acordo com a Palavra de Deus, senão era misticismo, era coisa do maligno ou coisa então da psicologia humana. Percebem como essa ênfase é importante para os nossos dias?
Finalmente, apresento a relação entre a obediência e certeza de salvação. Eu já falei que os puritanos destacavam a importância de uma vida transformada para que uma pessoa viesse a assegurar-se da salvação. Era uma ênfase que eles davam na obediência que o crente tem de exercer praticando as boas obras. Essa ênfase sempre foi mal interpretada. Por exemplo o crítico moderno dos puritanos, Perry Muller, ele diz o seguinte (os puritanos têm muitos críticos até o dia de hoje): "Se é Deus quem salva por que é que os puritanos ficam nos perturbando com essa exigência de obediência?" Se os puritanos insistiam que a salvação era pela graça, como os Reformadores, por que é que eles ficavam citando "que tem que obedecer", "tem que fazer boa obra"? Por quê? E esse crítico não podia entender. Ora, não é somente esse crítico, mas muitos outros têm acusado os puritanos de serem "prisioneiros de um sistema teológico legalista". Que embora fossem herdeiros da Reforma mesmo assim eram legalistas, e isso tem assustado muita gente que pensa que puritanismo sempre descamba no legalismo. Ou então de que os puritanos eram introspectivos, e que punham muita ênfase apenas no auto-exame. A imagem que fazem dos puritanos de que eram pessoas sérias, contritas, abatidas, mortificadas, ascetas, com nariz grande, pode ser vista nos seus retratos no livro "Os Puritanos - Origens e Sucessores " (PES).
Mas eles eram mal entendidos (e ainda são) por causa da ênfase que davam na necessidade de obediência e de santificação. Então, qual o lugar da obediência na teologia puritana, especialmente com relação à certeza de salvação?
Vamos voltar outra vez, então, e fazer uma comparação com os Reformadores. Enquanto que os reformadores, especialmente Lutero, associavam a certeza de salvação com a justificação, ou seja, a certeza de salvação está ligada diretamente à justificação, ao passo que os puritanos, influenciados por Beza, diziam que a certeza de salvação estava ligada à santificação. Não, não está ligada à justificação não. Ser salvo pela graça é uma coisa, outra coisa é ter certeza de salvação. Ela está ligada à santificação. Então se nós não entendermos esse ponto, não vamos entender a ênfase dos puritanos na necessidade de obediência, na necessidade de santidade de vida. A crítica que se faz aos puritanos a essa altura é esta: já que a certeza de salvação está ligada à santificação, quando é que o crente vai ter certeza de salvação? Ele nunca poderá chegar à plena certeza já que a santificação é um processo, alguém pode dizer. Mas a resposta do puritano era esta: Não estamos dizendo que você tem que ser plenamente santificado, para você ter certeza de salvação. Estamos dizendo é que a partir do momento em que você tem os sinais externos mínimos e básicos da operação da graça de Deus, você passa a ter certeza de salvação. A resposta é essa. É aqui, então, o lugar da obediência à Palavra de Deus dentro da teologia puritana. Nós podemos dizer que é um círculo, e esse círculo está expresso na Confissão de Fé. No capítulo XVI, parágrafo 2: "boas obras, feitas em obediência aos mandamentos de Deus, são o fruto e as evidências de uma fé viva e verdadeira;...". Então os puritanos sabiam que a fé produz obras vivas e verdadeiras. Continua: "por elas", por estas obras, "os crentes manifestam a sua gratidão e robustecem a sua confiança (fé)...". Então diziam: A fé produz obras e as obras robustecem a fé, é um círculo. Uma coisa leva à outra. Uma e outra, como diziam os puritanos, as bênçãos de Cristo se fortalecem mutuamente no coração do crente. Funcionava desta maneira.
Em resumo o ensino da Confissão de Fé é este: a plena certeza é privilégio daqueles que desejam obedecer a Cristo. Para ter certeza plena de salvação, precisamos saber que essa certeza é um privilégio daqueles que querem andar no caminho de Jesus. As boas obras, feitas como resultado dessa obediência, vêm fortalecer a plena segurança da salvação. Por outro lado, a obediência que se traduz em obra, já é fruto da convicção e da segurança de salvação que a pessoa possui.
A essa altura é importante fazer um comentário sobre essa questão do auto-exame, do exame íntimo que está relacionado perfeitamente com esta questão. Estudos recentes sobre o puritanismo têm entendido que essa relação entre reflexão, exame interno, e obras, pode ser traduzida como sendo uma espiral viva, como uma espiral crescente. Primeiro o puritano se examina, reflete à luz da Escritura sobre sua vida. Ele procura evidências na sua vida da operação da graça de Deus; coisas como quebrantamento, desejo de fazer a vontade de Deus, temor a Deus, desejo de buscar Sua Glória, boas obras, amor ao próximo, zelo pelo nome de Deus, ódio ao pecado. Então eles examinavam procurando essas coisas que eram a evidência da operação da graça de Deus no seu coração.
Eu quero mencionar o puritano Thomas Brooks no livro "Céu na Terra": "segurança da salvação é um ato reflexo da fé", ou seja, é a fé em reflexão, é a fé se examinando, "é um discernimento experimental de que se está em estado de graça. Esta certeza provém de observar em si próprio as evidências especiais, peculiares e distintas da graça de Cristo". Esse era o ensino. A fé tem essa capacidade de refletir, tem essa capacidade de se examinar. Essa era a primeira parte da espiral. Depois de se examinar à luz da Escritura e debaixo do poder do Espírito Santo, que era alguma coisa que os puritanos enfatizam tremendamente, o passo seguinte era a ação. E nós sabemos como eles iam para a ação. Mas iam para a ação porque tinham feito um auto-exame. Eles sabiam que eram povo de Deus, tinham aquela certeza, demonstrada pelas evidências e pela Palavra. E a mecânica era essa: ação à reflexão, ação à reflexão, ação... e assim numa espiral crescente que acompanhava o puritano a sua vida toda, a fé e a certeza de salvação se fortaleciam, à medida em que ele crescia na graça e no conhecimento do Senhor Jesus Cristo. Era assim que funcionava. Era algo dinâmico. Quero aplicar tudo isso para a Igreja de hoje.
Quero dizer duas coisas antes.
1) Primeiro, é minha convicção de que os puritanos ingleses nesse aspecto capturaram profundamente o ensino Bíblico. Eu gosto dos puritanos, não porque eles são do final do século XVI, ou do século XVII, e sim porque eles acertaram, porque eles, dentro da História da Igreja, fazem parte daquelas gerações, daqueles modelos históricos de cristianismo que melhor refletem a Escritura Sagrada em muitos aspectos. Eu sei que eles cometeram erros. Sei perfeitamente disso. Posso até dizer para os irmãos em que eu não concordo com eles, mas acredito que, na grande maioria, na sua grande parte, aqueles homens de Deus nos expuseram a Palavra de Deus de forma clara e concreta, e este é um dos pontos em que eles estão certos. É uma exegese certa da Escritura, no meu entender.
2) Por outro lado à medida em que entendemos esta questão, precisamos ser cautelosos porque o e o que aconteceu foi que eles colocaram ênfase nos dois lados (reflexão e ação). Quando esta ênfase nos dois lados era apresentada, notamos o quanto os puritanos eram equilibrados. As duas coisas andavam juntas. Quando, na fase final do puritanismo, o lado da graça foi abandonado, caíram no legalismo, perderam o equilíbrio dessa espiral, deixaram o lado da ação e o lado da confiança em Deus e se tornaram reflexivos demais. O puritanismo virou símbolo apenas de auto-exame e de reflexão; aquela pessoa introspectiva que é, infelizmente, a figura que ficou até o dia de hoje. Mas não foi isso que caracterizou o movimento, isso foi um desvio do puritanismo. Nem é puritanismo! Então à medida que queremos aprender com eles, lembremo-nos que temos que manter em equilíbrio estas coisas. Em que isso pode servir à igreja brasileira?
Primeiro, a doutrina puritana sobre a certeza de salvação pode nos ajudar a corrigir a influência da Igreja Católica que diz que a certeza de salvação é impossível nesta vida. Os puritanos diziam: "De forma nenhuma! A obra completa de Cristo, e a obra do Espírito em nós, torna esta certeza possível. É pecado não buscar esta certeza depois do que Cristo fez na cruz do Calvário, depois que o seu Espírito foi derramado no dia de Pentecostes". Isso nos ajuda a combater esta tendência.
Em segundo lugar, nos ajuda também, como já mencionado, a corrigir a influência do evangelho barato, que oferece uma certeza de salvação com base em decisões feitas em resposta a apelos (por decisão), sem que haja sinais que podem ser observados de arrependimento, de mudança, de fé verdadeira. Os puritanos diriam: "Certeza de salvação depende da santificação. É necessário crescer na graça, no auto-exame, na percepção da graça de Deus no coração". E isso, eu acredito, é muito importante e prático, especialmente na hora em que vamos examinar os candidatos à Profissão de Fé.
Em terceiro lugar, essa doutrina puritana pode nos ajudar contra a influência do legalismo proveniente, infelizmente, de alguns círculos pentecostais que torna a certeza de salvação inatingível, porque é baseada no rigorismo do cumprimento da Lei. Ou então baseada em evidências legalistas. O puritano diria: "A certeza de salvação não se baseia na auto-avaliação, como sendo algo pessoal do crente, mas na percepção da graça de Deus agindo em seu coração. Não tem nada de legalismo".
E por fim, em quarto lugar, acredito que é uma influência, um corretivo saudável para o misticismo que existe hoje inundando as igrejas (inclusive presbiterianas) que esquecem que a prioridade do homem é o seu relacionamento pessoal com Deus. O puritano diria: "O fim principal do homem é glorificar a Deus, e isso através da obediência que parte de um coração seguro da sua salvação".
Como estamos nós? Quais são as evidências, quais são as bases que você tem na sua vida para crer que faz parte dos eleitos de Deus? Qual a evidência que você apresenta diante de si mesmo e diante de Deus para reivindicar, se podemos usar esta palavra, de forma limitada, ou pelo menos para se apresentar como um candidato à salvação eterna que Cristo nos oferece? Eu lhe asseguro, pela Palavra de Deus, e com isso nós nos juntamos aos puritanos, que se nós não tivermos na nossa vida as evidências da obra da graça de Deus, de uma fé salvadora sediada no coração, que move o coração, que move a vontade, nós não temos como dizer que estamos salvos.
Digo também uma palavra de conforto aqui, ao crente verdadeiro, e que luta para ter esta certeza. Quero encorajá-lo a prosseguir. Porque é vontade de Deus que você encontre plena certeza. Continue crescendo nessa espiral, analise a sua vida, faça uma reflexão do seu coração, da sua alma, da sua conduta à luz da Palavra de Deus. Corrija o que tem que ser corrigido. Abandone o que tem de ser abandonado. Obedeça a Deus, continue nesse caminho. Volte e examine o seu coração outra vez e nesse processo você chegará à plena certeza de salvação.
Que Deus nos ajude, e que possamos, com esse corretivo que vem da Palavra de Deus, mediada pelo modelo puritano, ser abençoados, crescer e ter um cristianismo equilibrado no Brasil nos dias de hoje.

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12:56

Está Consumado!

por :Arthur W. Pink

“Quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” — João 19:30.
Quão terrivelmente estas benditas palavras de Cristo têm sido mal-entendidas, mal-apropriadas e mal-aplicadas! Quantos parecem pensar que, sobre a cruz, o Senhor realizou uma obra que torna desnecessário que os beneficiários dela viva vidas santas sobre a terra. Muitos têm sido enganados com o pensamento de que, até onde diz respeito o se alcançar o céu, não importa como eles andem, desde que eles estejam “descansando sobre a obra consumada de Cristo”. Eles podem ser infrutíferos, desonestos, desobedientes, todavia, conquanto que eles repudiem toda justiça própria e tenham fé em Cristo, eles imaginam que estão “eternamente seguros”.
Ao redor de todos nós há pessoas que são mundanas, amantes do dinheiro, buscadores-do-prazer, quebradores do Dia do Senhor, mas que pensam que tudo está bem com elas, pois “aceitaram a Cristo como seu Salvador pessoal”. Em sua aspiração, conversação e recreação, não há praticamente nada que os diferencie daqueles que não fazem nenhuma profissão de fé. Nem em sua vida familiar ou social há algo, exceto pretensões vazias, para distingui-los dos outros. O temor de Deus não está sobre eles, os mandamentos de Deus não têm autoridade sobre eles, a santidade de Deus não os atrai.
“Está consumado”. Quão solene é perceber que estas palavras de Cristo devem ter sido usadas para tranqüilizar milhares com uma falsa paz. Todavia, tal é o caso. Nós temos tido contato próximo com pessoas que não têm nenhuma vida de oração privada, que são egoístas, cobiçosas, desonestas, mas que supõem que um Deus misericordioso fará vistas grossas para tais coisas, desde que eles tenham alguma vez colocado sua confiança no Senhor Jesus. Que horrível perversão da verdade! Que transformação da graça de Deus “em libertinagem”! (Judas 4). Sim, aqueles que agora vivem as vidas mais egoístas e agradáveis à carne, falam sobre sua fé no sangue do Cordeiro, e supõem que estão salvos. Como o diabo os tem enganado!
“Está consumado”. Estas benditas palavras significam que Cristo satisfez de tal forma o requerimento da santidade de Deus, que mais nenhuma santidade tem qualquer reivindicação real e premente sobre nós? Deus não o permita pensarmos tal! Até mesmo para o redimido Deus diz: “Sede santos, assim como Eu sou Santo” (1 Pedro 1:6). Cristo “magnificou a lei e a fez honrosa” (Isaías 42:21), para que pudéssemos ficar sem lei? Ele “cumpriu toda justiça” (Mateus 3:15) para comprar para nós uma isenção de amar a Deus com todo o nosso coração e servi-Lo com todas as nossas faculdades? Cristo morreu para assegurar uma divina indulgência, para que pudéssemos viver para agradar a nós mesmos? Muitos parecem pensar assim. Não, o Senhor Jesus deixou ao Seu povo um exemplo para que eles pudessem “seguir (não ignorar) os Seus passos”.
“Está consumado”. O que está “consumado”? A necessidade dos pecadores se arrependerem? Deveras não. A necessidade de se voltar dos ídolos para Deus? Deveras não. A necessidade de mortificar os meus membros que estão sobre a terra? Deveras não. A necessidade de ser santificado completamente, no espírito, alma e corpo? Deveras não. Cristo não morreu para fazer minha tristeza, meu ódio e o meu empenho contra o pecado desnecessários. Cristo não morreu para me absolver de todas as minhas responsabilidades diante de Deus. Cristo não morreu para que eu pudesse continuar retendo a amizade e comunhão do mundo. Quão extremamente estranho é que alguém possa pensar que Ele tenha feito isso. Todavia, as ações de muitos mostram que esta é a sua idéia.
“Está consumado”. O que está “consumado”? Os tipos sacrificiais foram consumados, as profecias de Seus sofrimentos foram cumpridas, a obra dada a Ele pelo Pai foi perfeitamente realizada, um fundamento certo foi posto, no qual um Deus justo pode perdoar o mais vil transgressor da lei que jogou as armas de sua guerra contra Ele. Cristo já realizou tudo o que era necessário para que o Espírito Santo viesse e operasse nos corações do Seu povo; convencendo-lhes de sua rebelião, destruindo sua inimizade contra Deus, e produzindo neles um coração amoroso e obediente.
Oh, querido leitor, não cometa engano neste ponto. A “obra consumada de Cristo” não lhe beneficia em nada, se o seu coração nunca foi quebrantado através de uma consciência agonizante de sua pecaminosidade. A “obra consumada de Cristo” não lhe beneficia em nada, a menos que você tenha sido salvo do poder e da poluição do pecado (Mateus 1:21). Ela não lhe beneficia em nada, se você ainda ama o mundo (1 João 2:15). Ela não lhe beneficia em nada, a menos que você seja uma “nova criatura” nEle (2 Coríntios 5:17). Se você valoriza sua alma, examine as Escrituras para ver por si mesmo; não tome nenhuma palavra de homem no lugar disso.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo NetoCuiabá-MT, 22 de Janeiro de 2005.
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12:53

Adoradores ou Consumidores?O Outro Lado da Herança de Charles G. Finney

por : Augustus Nicodemus Lopes

A palavra "evangélicos" tem se tornado tão inclusiva que corre o perigo de se tornar totalmente vazia de significado — R. C. Sproul
Em certa ocasião o Senhor Jesus teve de fazer uma escolha entre ter 5 mil pessoas que o seguiam por causa dos benefícios que poderiam obter dele, ou ter doze seguidores leais, que o seguiam pelo motivo certo (e mesmo assim, um deles o traiu). Em outras palavras, uma decisão entre muitos consumidores e poucos fiéis discípulos. Refiro-me ao evento da multiplicação dos pães narrado em João 6. Lemos que a multidão, extasiada com o milagre, quis proclamar Jesus como rei, mas ele recusou-se (João 6.15). No dia seguinte, Jesus também se recusa a fazer mais milagres diante da multidão pois percebe que o estão seguindo por causa dos pães que comeram (6.26,30). Sua palavra acerca do pão da vida afugenta quase que todos da multidão (6.60,66), à exceção dos doze discípulos, que afirmam segui-lo por saber que ele é o Salvador, o que tem as palavras de vida eterna (6.67-69).
O Senhor Jesus poderia ter satisfeito às necessidades da multidão e saciado o desejo dela de ter mais milagres, sinais e pão. Teria sido feito rei, e teria o povo ao seu lado. Mas o Senhor preferiu ter um punhado de pessoas que o seguiam pelos motivos certos, a ter uma vasta multidão que o fazia pelos motivos errados. Preferiu discípulos a consumidores.
Infelizmente, parece prevalecer em nossos dias uma mentalidade entre os evangélicos bem semelhante à da multidão nos dias de Jesus. Parece-nos que muitos, à semelhança da sociedade em que vivemos, tem uma mentalidade de consumidores quando se trata das coisas do Reino de Deus. O consumismo característico da nossa época parece ter achado a porta da igreja evangélica, tem entrado com toda a força, e para ficar.
Por consumismo quero dizer o impulso de satisfazer as necessidades, reais ou não, pelo uso de bens ou serviços prestados por outrem. No consumismo, as necessidades pessoais são o centro; e a "escolha" das pessoas, o mais respeitado de seus direitos. Tudo gira em torno da pessoa, e tudo existe para satisfazer as suas necessidades. As coisas ganham importância, validade e relevância à medida em que são capazes de atender estas necessidades.
Esta mentalidade tem permeado, em grande medida, as programações das igrejas, a forma e o conteúdo das pregações, a escolha das músicas, o tipo de liturgia, e as estratégias para crescimento de comunidades locais. Tudo é feito com o objetivo de satisfazer as necessidades emocionais, psicológicas, físicas e materiais das pessoas. E neste afã, prevalece o fim sobre os meios. Métodos são justificados à medida em que se prestam para atrair mais freqüentadores, e torná-los mais felizes, mais alegres, mais satisfeitos, e dispostos a continuar a freqüentar as igrejas.
Esta mentalidade consumista por parte de evangélicos se mostra por vários ângulos. Numa pesquisa recente feita pelo Instituto Gallup nos Estados Unidos constatou-se que 4 em cada 10 americanos estão envolvidos em pequenos grupos que se reúnem semanalmente buscando saída para o envolvimento com drogas, problemas familiares, solidão e isolacionismo. Embora evidentemente muitos estarão em busca de uma oportunidade para aprofundar a experiência cristã e crescer no conhecimento de Deus, a maioria, segundo Gallup, busca satisfazer suas necessidades pessoais. De acordo com a revista Newsweek, 1 em cada 5 americanos sofre de alguma forma de doença mental (incluindo ansiedade, depressão clínica, esquizofrenia, etc.) durante o curso de um ano. E disso se aproveitam os espertos. Uma denúncia contra a indústria evangélica de saúde mental foi feita ano passado por Steve Rabey em Christianity Today. Cada vez mais cresce o marketing nas igrejas na área de aconselhamento, com um número alarmante de profissionais cristãos oferecendo ajuda psicológica através de métodos seculares. A indústria de música cristã tem crescido assustadoramente, abandonando por vezes seu propósito inicial de difundir o Evangelho, e tornando-se cada vez mais um mercado rentável como outro qualquer. A maioria das gravadoras evangélicas nos Estados Unidos pertence às corporações seculares de entretenimento. As estrelas do gospel music cobram cachês altíssimos para suas apresentações. Num recente artigo em Strategies for Today’s Leader, Gary McIntosh defende abertamente que "o negócio das igrejas é servir ao povo". Ele defende que a igreja deve ter uma mentalidade voltada para o "cliente", e traçar seus planos e estratégias visando suas necessidades básicas, e especialmente faze-los sentir-se bem.
Um efeito da mentalidade consumista das igrejas é o que tem sido chamado de "a síndrome da porta de vai-e-vem". As igrejas estão repletas de pessoas buscando sentido para a vida, alívio para suas ansiedades e preocupações. Assim, elas escolhem igrejas como escolhem refrigerantes. Tão logo a igreja que freqüentam deixa de satisfazer as suas necessidades, elas saem pela porta tão facilmente quanto entraram. As pessoas buscam igrejas onde se sintam confortáveis, e se esquecem de que precisam na verdade de uma igreja que as faça crescer em Cristo e no amor para com os outros.
Creio que há vários fatores que provocaram a presente situação. Ao meu ver, um dos mais decisivos é a influência da teologia e dos métodos de Charles G. Finney no evangelicalismo moderno. Houve uma profunda mudança no conceito de evangelização ocorrida no século passado, devido ao trabalho de Charles Finney. Mais do que a teologia do próprio Karl Barth, a teologia e os métodos de Finney têm moldado o moderno evangelicalismo. Ele é o herói de Jerry Falwell, Bill Bright e de Billy Graham; é o celebrado campeão de Keith Green, do movimento de sinais e prodígios, do movimento neopentecostal, e do movimento de crescimento da igreja. Michael Horton afirma que grande parte das dificuldades que a igreja evangélica moderna passa é devida à influência de Finney, particularmente de alguns dos seus desvios teológicos: "Para demonstrar o débito do evangelicalismo moderno a Finney, devemos observar em primeiro lugar os desvios teológicos de Finney. Estes desvios fizeram de Finney o pai dos fatores antecedentes aos grandes desafios dentro da própria igreja evangélica hoje: o movimento de crescimento de igrejas, o neopentecostalismo, e o reavivalismo político".
Para muitos no Brasil seria uma surpresa tomar conhecimento do pensamento teológico de Finney. Ele é tido como um dos grandes evangelistas da Igreja Cristã, e estimado e venerado por evangélicos no Brasil como modelo de fé e vida. E não poderia ser diferente, visto que se tem publicado no Brasil apenas obras que exaltam Finney. Desconheço qualquer obra em português que apresente o outro lado. Meu alvo, neste artigo, não é escrever extensamente sobre o assunto, mas mostrar a relação de causa e efeito que existe entre o ensino e métodos de Finney e a mentalidade consumista dos evangélicos hoje.
Em sua obra sobre teologia sistemática (Systematic Theology [Bethany, 1976]), escrita pelo fim de seu ministério, quando era professor do seminário de Oberlin, Finney revela ter abraçado ensinos estranhos ao Cristianismo histórico. Ele ensina que a perfeição moral é condição para justificação, e que ninguém poderá ser justificado de seus pecados enquanto tiver pecado em si (p. 57); afirma que o verdadeiro cristão perde sua justificação (e conseqüentemente, a salvação) toda vez que peca (p. 46); demonstra que não acredita em pecado original e nem na depravação inerente ao ser humano (p. 179); afirma que o homem é perfeitamente capaz de aceitar por si mesmo, sem a ajuda do Espírito Santo, a oferta do Evangelho. Mais surpreendente ainda, Finney nega que Cristo morreu para pagar os pecados de alguém; ele havia morrido com um propósito, o de reafirmar o governo moral de Deus, e nos dar o exemplo de como agradar a Deus (pp. 206-217). Finney nega ainda, de forma veemente, a imputação dos méritos de Cristo ao pecador, e rejeita a idéia da justificação com base da obra de Cristo em lugar dos pecadores (pp. 320-333). Quanto à aplicação da redenção, Finney nega a idéia de que o novo nascimento é um milagre operado sobrenaturalmente por Deus na alma humana. Para ele, "regeneração consiste no pecador mudar sua escolha última, sua intenção e suas preferência; ou ainda, mudar do egoísmo para o amor e a benevolência", e tudo isto movido pela influência moral do exemplo de Cristo ao morrer na cruz (p. 224).
Finney, reagindo contra a influência calvinista que predominava no Grande Avivamento ocorrido na Nova Inglaterra do século passado, mudou a ênfase que havia à pregação doutrinária para uma ênfase à fazer com que as pessoas "tomassem uma decisão", ou que fizessem uma escolha. No prefácio da sua Systematic Theology ele declara a base da sua metodologia: "Um reavivamento não é um milagre ou não depende de um milagre, em qualquer sentido. É meramente o resultado filosófico da aplicação correta dos métodos."
Finney não estava descobrindo uma nova verdade, mas abraçando um erro antigo, defendido por Pelágio no século IV, e condenado como herético pela Igreja, ou seja, que nenhum de nós nasce pecador; o homem, por nascimento, é neutro, e capaz de fazer escolhas para o bem e para o mal com inteira liberdade. Finney tem sido corretamente descrito por estudiosos evangélicos como sendo semi-pelagiano (ou mesmo, pelagiano) em sua doutrina, e um dos responsáveis maiores pela disseminação deste erro antigo entre as igrejas modernas.
Na teologia de Finney, Deus não é soberano, o homem não é um pecador por natureza, a expiação de Cristo não é um pagamento válido pelo pecado, a doutrina da justificação pela imputação é insultante à razão e à moralidade, o novo nascimento é produzido simplesmente por técnicas bem sucedidas, e avivamento é o resultado de campanhas bem planejadas com os métodos corretos.
Antes de Finney, os evangelistas reformados aguardavam sinais ou evidências da operação do Espírito Santo nos pecadores, trazendo-os debaixo de convicção de pecado, para então guiá-los à Cristo. Não colocavam pressão sobre a vontade dos pecadores, por meio psicológicos, com receio de produzir falsas conversões. Finney, porém, seguiu caminho oposto, e seu caminho prevaleceu. Já que acreditava na capacidade inerente da vontade humana de tomar decisões espirituais quando o desejasse, suas campanhas de evangelismo e de reavivamento passaram a girar em torno de um simples propósito: levar os pecadores a fazer uma escolha imediata de seguir a Cristo. Com isto, introduziu novos métodos nos seus cultos, como o "banco dos ansiosos" (de onde veio a prática de se fazer apelos ao final da mensagem), o uso de qualquer medidas que provocassem um estado emocional propício ao pecador para escolher a Deus, o que incluía apelos emocionais e denúncias terríveis do pecado e do juízo.
O impacto dos métodos reavivalistas de Finney no evangelicalismo moderno são tremendos. Seus sucessores têm perpetuado estes métodos e mantido as características do fundador: o apelo por decisões imediatas, baseadas na vontade humana; o estímulo das emoções como alvo do culto; o desprezo pela doutrina; e a ênfase que se dá na pregação a se fazer uma escolha, em vez da ênfase às grandes doutrinas da graça. As igrejas evangélicas de hoje, influenciadas pela teologia e pelos métodos de Finney, acreditando que reavivamentos podem ser produzidos, e que pecadores podem decidir seguir a Cristo quando o desejarem, têm adotado táticas e práticas em que as pessoas são vistas como clientes, e que promovem a mentalidade consumista nas igrejas evangélicas.
A relação entre os métodos de Finney e o espírito consumista moderno foi corretamente notado por Rodney Clapp, em recente artigo na Christianity Today (Outubro de 1966): "Ao enfatizar a importância de se tomar uma decisão para Cristo, Charles Finney e outros reavivalistas ajudaram na sacramentalização da ‘escolha’, elemento chave do consumismo capitalista de hoje. O reavivalismo [de Finney] encorajava sentimentos de êxtase e a abertura do indivíduo para mudanças costumeiras de conversão e reconversão" (p. 22).
O Senhor Jesus preferiu doze seguidores genuínos a ter uma multidão de consumidores. Creio que a igreja evangélica brasileira precisa seguir a Cristo também aqui. É preciso que reconheçamos que as tendências modernas em alguns quartéis evangélicos é a de produzir consumidores, muito mais que reais discípulos de Cristo, pela forma de culto, liturgias, atrações, e eventos que promovem. Um retorno às antigas doutrinas da graça, pregadas pelos apóstolos e pelos reformadores, enfatizando a busca da glória de Deus como alvo maior do homem, poderá melhorar esse estado de coisas.

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12:52

Sermão Puritano: Um Novo Modelo de Exposição

por :Joseph Pipa

A multidão estava emocionada na Igreja de Santa Maria quando John Cotton subiu ao púlpito para pregar. Ele era tão famoso que muitos vieram para ouvi-lo pregar aquele sermão para a Universidade, pois mesmo ainda jovem já demonstrava muita habilidade e conhecimento. Já havia demonstrado que era um orador poderoso. No seu sermão anterior, pregado na Universidade, tinha deixado o povo “eletrificado” através de seu estilo e da sua eloqüência. Por isso, muitos tinham vindo ouvi-lo com aquele expectativa de ver “fogos de artifício” de eloqüência. Mas, quando ele começou a pregar, uma onda de desapontamento começou a varrer a multidão presente porque este mestre em retórica estava pregando no estilo simples e direto dos puritanos.
O que havia acontecido com John Cotton? No período entre estas suas duas pregações John Cotton havia se convertido através da pregação do grande puritano Richard Sibbes. Sua conversão afetou sua forma de pregar. Seu biógrafo, Cotton Mather, da Nova Inglaterra, diz o que aconteceu com John Cotton: “Mr Cotton, após sua conversão, resolveu que sempre pregaria de forma direta um sermão que, de acordo com sua consciência, fosse o mais agradável a Cristo”. Esta não foi uma decisão fácil, pois se ele pregasse como os puritanos estaria, supostamente, trazendo vergonha para a causa de Deus. Existe este ditado de que a religião faz com que os estudiosos se transformem em tolos, o que, pela graça de Deus, esperamos que não ocorra. Por outro lado John Cotton sentiu que era sua obrigação pregar de forma direta como convinha aos oráculos de Deus. Pois o propósito da Bíblia era converter os homens e não simplesmente fazer ostentação teatral. Este conflito que John Cotton passou nos permite analisar a filosofia da pregação dos puritanos.
Quando Cotton pregou este segundo sermão em 1610, a pregação puritana já havia sido caracterizada e marcada com seu estilo bem definido. Este estilo de pregação não era apenas a marca característica de um grupo, mas havia sido resultado de convicções essencialmente teológicas - pregar de forma direta a Palavra.
Os puritanos usavam o novo método reformado e direto de pregar. Este novo método reformado era um tipo especial de estrutura, de esboço de sermão. Quando lemos os sermões dos puritanos ou o sermão de Jonathan Edwards, “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”, percebemos sua estrutura. O sermão começa com uma análise do contexto, seguida de uma breve explicação exegética e, desta exegese, o pregador extrai as doutrinas que ele vai pregar. Logo ele desenvolve estas doutrinas com provas e argumentos. Finalmente faz a aplicação à congregação, o que chamavam de “usos”. Além disso, na forma da pregação, eles usavam o estilo de comunicação que era muito diferente dos demais pregadores britânicos da época.
Muitos hoje concebem o estilo de pregação puritano como sendo cheio de muitas palavras, monótono e escolástico. Entretanto, apesar disso, nos seus próprios dias, a pregação puritana com todo esse estilo revolucionou a Inglaterra.
Para que compreendamos este novo método reformado, vamos inicialmente entender o estado ou a forma como se pregava na segunda parte do século XVI. Na época da Reforma havia basicamente dois tipos de sermão em uso. Muitos, como Calvino, usavam aquilo que se chama de forma antiga. É chamada de antiga porque historicamente se liga até aos primeiros grandes pregadores da história da Igreja como João Crisóstomo. A forma antiga de pregação não tinha nenhuma estrutura elaborada de organização. Se lermos os comentários de Calvino perceberemos que ele simplesmente segue a ordem do texto fazendo a exegese e trazendo a aplicação. Outros usavam uma forma semelhante à moderna, o que se vê hoje. Na verdade, o que chamamos de forma “moderna” vinha desde a Idade Média. Era um estilo de pregação que se desenvolveu com base na oratória de Cícero e, nas mãos dos pregadores da Idade Média, havia se tornado uma forma muito laboriosa e florida de se pregar. Mas os reformadores tomaram esta forma de pregação e eliminaram toda sua ornamentação, e passaram a usar aquele tipo de sermão clássico, muito próximo ao sermão que encontramos nos clássicos livros de homilética. Ou seja, introdução, divisão do texto, pregação de pontos em sucessão e a conclusão. Para alguns pregadores ingleses esse tipo de pregação se tornou uma arma potente em suas mãos. Mas, muitos dos pregadores ingleses daquela época haviam voltado ao método escolástico de pregação. Estavam tão influenciados pela retórica e dialética de Aristóteles que o sermão em suas mãos se tornou simplesmente uma dissecação minuciosa, fria e sem vida do texto, além de não ter aplicação prática à vida. O problema foi que eles, ao invés de desenvolverem uma filosofia própria de pregação, consideraram a pregação como uma subdivisão da retórica e dialética clássica. Nos dias de hoje se faz algo muito parecido. Mas os reformadores insistiram que a homilética, a arte de pregar, deveria ser uma ciência que tivesse existência própria. Sem dúvida ajudada pela retórica e dialética, mas não baseada nestas coisas.
Nos dias modernos, teorias de comunicação têm tomado o lugar da retórica. Cada vez mais os seminários estão falando de formas como comunicar em lugar de como pregar. Aqui existe uma diferença profunda. Hoje perdemos a ciência, a arte bíblica da homilética. A pregação pública perdeu a sua dimensão bíblica e o seu poder bíblico. Nas mãos dos pregadores ingleses este estilo se tornou um instrumento que fazia com que as convicções retóricas do pregador fossem inseridas nos seus sermões, o que naturalmente afetava e alterava o sentido do texto. Mas isso não os preocupava pois seguiam as idiossincrasias da igreja primitiva em termos de exegese. Seus sermões eram cheios de alegorias. Cito um exemplo de um pregador britânico. Seu texto era Lucas 23:28 quando há o relato das mulheres chorando quando Jesus levava a cruz. Ele começa descrevendo os 4 tipos de mulheres que estavam ali chorando. Após fazer a introdução à sua passagem, divide o texto em 8 partes como segue: Nesta passagem podemos observar tantas palavras se referindo a tantos lugares. São oito expressões com oito partes. A primeira expressão: “não chores”; a segunda: “chorai”; a terceira: “não chore mas chore”; a quarta: “por mim”; a quinta: “por vós mesmas”; a sexta: “por mim e por vocês mesmas”; a sétima: “não chorai por mim”; a oitava: “chorai por vocês mesmas”. É patético mas esta era a divisão do sermão. Isso é apenas uma ilustração de como os pregadores ingleses daquela época estavam dividindo e fazendo o esboço de seus sermões.
Naturalmente, além de usar esta forma, este método de esboço, eles usavam muito pouca aplicação. E quando faziam uma aplicação, era mais de uma maneira genérica. Esta perspectiva nasceu da sua filosofia de pregação. Eles não criam que o sermão era o meio principal de graça. Não criam na centralidade da pregação no culto. Na opinião deles a celebração dos sacramentos deveria ter tanto efeito na mente das pessoas quanto o sermão. Assim, a teologia deles influenciava o esboço, a estrutura do sermão e o estilo de suas pregações. O sermão de pessoas com estas convicções são exemplos de fantasias poéticas. A eloqüência artificial que eles demonstravam era conseguida através da rima que faziam nas palavras e frases. Faziam jogo de palavras; usavam palavras com duplo sentido. Seus sermões estavam cheios de citações de grego e latim para demonstrar erudição. O propósito destes pregadores era eletrizar a sua audiência, não com a verdade da Palavra de Deus, mas com sua eloqüência. O paralelo moderno deste tipo de sermão é aquela pregação cheia de piadas e estórias, anedotas, ilustrações humorísticas. Nos Estados Unidos temos pregadores que a cada ponto do seu sermão contam dez estórias diferentes. Mas na realidade o que está por trás é esta visão do sermão: a teoria da comunicação.
Estou falando sobre isto porque acredito que é muito relevante estes exemplos que tiramos da história da pregação. Precisamos ver isto para podermos localizar e entender de que forma os puritanos viam a pregação. Sem dúvida alguma os puritanos estavam completamente insatisfeitos com a forma e o estilo do sermão dos anglicanos. Por isso citei a experiência de John Cotton. Os puritanos rejeitaram o estilo anglicano de pregação e no seu lugar introduziram o novo método reformado com seu estilo direto de pregar.
Teologia Puritana da PregaçãoOs puritanos consideravam a pregação como a função principal do pastor e fundamentavam esta convicção no fato de a pregação ter sido o trabalho principal de Cristo e dos apóstolos. Portanto, aderiram firmemente ao princípio da centralidade da pregação no culto. Para os puritanos, durante a pregação uma “transação” especial estava ocorrendo. Seguindo a tradição dos apóstolos e João Calvino, os puritanos acreditavam que quando um homem ordenado (pela Igreja) para pregar, expunha a Palavra de Deus, Cristo estava falando através dele. Pela pregação, a Palavra escrita se torna a Palavra viva de Deus. O puritano William Perkins escreveu: “Porque quando as promessas da misericórdia de Deus são oferecidas ao Seu povo através da pregação da Palavra por um ministro ordenado, é como se o próprio Cristo, em pessoa, estivesse falando através das Suas ordenanças”.
Este é um ensino claramente expresso no NT. Isso precisa ser redescoberto nos nossos dias. É a base teológica pela qual podemos entender porque a pregação tem de ser central no culto. Tudo que fazemos no culto é importante, e quando estamos adorando no culto estamos falando a Deus. Mas o nosso culto atinge o clímax quando Deus em resposta nos fala. Por isso a pregação era algo tão importante para os puritanos e deve ser, pela mesma razão, importante para nós. Baseados nesta compreensão que eles tinham da natureza da pregação os puritanos consideravam a pregação como o meio principal de graça. Para eles, era através da pregação que Deus primariamente haveria de converter e santificar os pecadores. Eles pregavam com este propósito em mente. O grande alvo dos puritanos era mudar as pessoas e equipar o povo de Deus para trabalhar para a glória de Deus. Eles queriam que o povo percebesse o quanto precisavam de pregação.
Um grande pregador puritano chamado Henry Smith, disse: “Queridos, se vocês considerarem que não podem ser nutridos para a vida eterna senão pelo leite da Palavra de Deus, vocês prefeririam que seus corpos estivessem sem alma do que ter as suas igrejas sem pregadores”. Em outro sermão, para enfatizar a importância do pregador, ele disse: “Vocês precisam que lhes ensine porque Paulo fazia tanta questão de ter pregadores. É porque os pregadores são como lâmpadas (candeeiros) que se consomem a si mesmos para dar luz aos outros e se consomem para trazer luz até vocês; eles são como a galinha que protege os seus pintinhos contra os gaviões; também eles nos protegem da serpente enganadora; e porque eles são como um grito que derrubou as muralhas de Jericó, assim também derrubam as muralhas do pecado; porque são como aquela coluna de fogo que conduzia os israelitas até a terra da promessa, da mesma forma os pregadores vão adiante de vocês levando-os à terra da promessa; porque os pregadores são como André que chamou seu irmão para verem o Messias, assim também eles chamam vocês para venham ver o Messias; portanto, tenham os pregadores em alta estima”.
Com base na compreensão puritana da natureza teológica da pregação foram desenvolvidas o que podemos classificar como sendo as cinco marcas do verdadeiro sermão.
1. Se Cristo vai nos falar através do sermão, ele tem de ser bíblico. A Diretório de Culto de Westminster nos diz: “De forma geral, o tema de um sermão tem de ser um texto da Escritura expondo alguns princípios básicos da religião e que são adaptados ou que são úteis a determinadas ocasiões, ou então o pregador pode pregar expositivamente através de um capítulo, de uma parte de um livro ou de um salmo da Escritura”. A primeira coisa que notamos aqui é que para os puritanos o conteúdo da pregação deveria ser primeiramente a Palavra de Deus. E mesmo que seja um sermão tópico seu objetivo deve ser expor o conteúdo da Escritura. Qualquer parte de um sermão tem de ser baseado na Palavra de Deus. Cada pregador deve perguntar: Será que posso dizer que meus sermões são bíblicos? Com relação ao método, os puritanos recomendavam e praticavam, em termos gerais, a pregação expositiva.
2. A pregação deve atingir a mente. Deve ser lógico.Os puritanos estavam convencidos que o pregador deve se aproximar do coração de sua audiência através de suas mentes. Portanto, o sermão devia ser intensamente lógico, expondo a verdade, linha por linha, preceito por preceito. Por causa disso os sermões puritanos eram cheios de argumentos, provas e demonstrações que partiam das Escrituras. Eles eram “experts” na persuasão e, talvez o maior de todos eles tenha sido Jonathan Edwards.
3. A pregação deve ser de fácil memorização.O povo deve ser capaz de lembrar-se do que o pastor pregou. De acordo com a maneira puritana de pensar, embora o sermão devia operar quando no próprio ato da pregação, ele deveria continuar a sua obra de edificação à medida que o povo levava o sermão para casa. Portanto, os pregadores puritanos encorajavam as pessoas para que elas meditassem em casa sobre o sermão pregado, sobre o que se havia dito. Encorajavam as pessoas a tomarem nota e decorarem os pontos principais do esboço do sermão; que não somente no culto doméstico, mas também na escola, a congregação deveria repetir o sermão do domingo. Se o povo fizesse tudo isso precisava de alguma coisa sólida em que se firmar.
O tipo de pregação que encontramos hoje e que exerce uma pressão apenas sobre a consciência não é passível de memorização. Se o sermão vai ser decorado pela congregação deve ter uma estrutura clara que facilite esta memorização e a estrutura do sermão puritano capacitava o povo a memorizar. Isso ainda é verdade hoje. Quando acabamos de pregar nos dias de hoje, a nossa congregação deveria ser capaz de ir para casa levando em suas mentes pelo menos o esboço do que foi dito. No último dia do Senhor tive uma experiência singular com respeito a esta verdade. Às margens do rio Amazonas, em uma fazenda, tive o privilégio de pregar pela manhã daquele domingo através de um intérprete a muitos que não sabiam ler. Mas, porque o sermão foi claro e direto, muitos puderam compreender e memorizar. No culto da noite um motorista de caminhão ficou de pé e recitou o meu sermão para a congregação, apenas porque a estrutura do sermão tinha sido simples, fácil de memorizar.
Lembremos: o sermão deve ser bíblico, lógico e fácil de memorizar.
4. Mas o sermão deve ser claro.Não deve haver nada no sermão que faça com que as pessoas se desviem da verdade, que distraia a atenção para outra coisa além da verdade. O sermão deve ter uma linguagem popular, com um vocabulário simples e “crucificado”, sem chamar atenção para o ego. Naturalmente que nem todos irão compreender a verdade, mas de qualquer forma a verdade deve ser proclamada numa linguagem de todos.
5. O sermão deve ser transformador.O grande propósito do sermão puritano era transformar a vida das pessoas e equipá-las para viver para a glória de Deus. Portanto deveria ser apresentado com aplicação e ajuda.
Este é um breve sumário da teologia da pregação puritana. Começamos dando uma olhada no estado geral da pregação na segunda metade do século XVI e a reação puritana contra essa situação que se expressa na sua própria teologia da pregação.
Método Puritano de Pregação.Este método chegou a ser conhecido como novo método reformado, e o mentor deste tipo de pregação e que o desenvolveu foi William Perkins. Perkins “encarnava” toda a teologia puritana em seu pastorado e pregação. Era um pregador poderoso e fiel. John Cotton disse que no dia que ouviu as badaladas do sino da igreja chamando para o funeral de William Perkins, secretamente ele vibrou de alegria. Por quê? Porque a sua consciência havia sido severamente ferida debaixo da pregação poderosa de Perkins. Ele disse: “Agora que o atormentador morreu, posso escapar desta convicção de pecado que sempre vinha de seus sermões”. Mas a experiência de John Cotton não é um evento isolado. A pregação de Perkins teve uma influência incalculável em muitas pessoas nos seus dias. Seu biógrafo diz que ele era capaz de se comunicar com pessoas de todos os níveis sociais, desde o operário e o comerciante até o professor de Universidade. Ele podia pregar de forma eficaz e não somente aos perdidos, mas aos crentes. Williams Ames nos diz que quando ele foi a Cambridge, dez anos depois da morte de Perkins, a cidade ainda estava cheia de referências a William Perkins.
Com o propósito de reformar a Igreja e levá-la para dentro daquele programa puritano de reforma, Perkins escreveu um livro: “A Arte de Profetizar”. Ele usava a palavra profetizar no sentido de pregar. O propósito era dar aos pregadores ingleses um livro de Homilética para usarem no preparo dos seus sermões. É interessante que desde a Reforma até a publicação deste livro (1592), nenhum livro havia sido publicado dentro da igreja da Inglaterra a respeito de pregação. Perkins havia procurado suprir esta necessidade. Ele percebia que os pastores não tinham treinamento apropriado para pregar. Seu livro tem duas partes principais. Depois de dar o contexto inicial, ele trata da estrutura do sermão e a proclamação deste sermão. Nesta primeira parte ele falava do esboço do sermão e tratava dos seus princípios teológicos. Ele tem um capítulo final onde trata da questão de como o pastor deve dirigir a congregação em público.
É verdade que Perkins desenvolve a estrutura do sermão baseado numa teoria de comunicação. Isto é importante para nós, pois ele acreditava que a maneira de alcançar as emoções e a vontade das pessoas era indo através do intelecto. Ele estava aplicando as teorias e os métodos pedagógicos de Tirano. Perkins acreditava que o pregador se dirigia primeiro ao intelecto usando verdades irrefutáveis, princípios irrefutáveis da exegese e, se houvesse necessidade, estes princípios poderiam ser repetidos através de demonstração e argumentação. Uma vez que a pessoa havia aceito a verdade que estava sendo proclamada, ela estava em condições de aplicar à sua vida e ao seu pensamento aquilo que o pastor estava falando. Não é somente se dirigir ao intelecto da congregação, mas persuadir as pessoas intelectualmente da verdade da Escritura. Sobre este fundamento ele partia para a aplicação. Isso está bem colocado nas cinco marcas que apresentamos acima.
O centro da estrutura do sermão é chamado de o “esquema triplo”, que consistia de (a) doutrina, (b) demonstração e (c) usos. Na doutrina o pastor declarava a verdade doutrinária que se encontrava na passagem. A demonstração consistia em trazer de outras partes da Escritura textos que reforçassem aquilo que o pastor havia falado para que a verdade exposta se tornasse irrefutável. Finalmente, os usos eram as aplicações que se fazia à congregação à partir da doutrina que tinha acabado de ser estabelecida. Algumas vezes poderia haver uma ou mais doutrinas e nesse caso, cada doutrina seria desenvolvida e conseqüentemente aplicada. Ele partia de uma doutrina e continuava na próxima. Mas, em geral havia no desenvolvimento do sermão apenas uma doutrina.
Não foi Perkins que inventou este estilo de pregação, mas estava convencido de que esta era a melhor maneira de se ter a pregação ideal. Por causa de seu próprio exemplo como pregador e do livro que escreveu, ele acabou transformando o estilo de pregação da época. No fim do século XVI era a única maneira que os puritanos conheciam de pregar.
Doutrina e demonstração. No fim do seu livro, Perkins dá a ordem e o sumário de seu método.
1. O pastor tem de ler o texto diretamente das Escrituras Canônicas.
2. Dar o sentido e a compreensão do que está sendo lido pela própria Escritura e tirar do texto o seu sentido natural, retirando alguns pontos úteis da doutrina e aplicá-los à vida das pessoas numa forma simples e direta.
Se você já leu algum sermão puritano, espero que esteja agora em condições de reconhecer o que ali está presente.
A primeira coisa que o pregador puritano nos dá é o contexto da passagem.
A segunda coisa é nos dar uma breve exposição exegética do texto escolhido. Geralmente divide o texto fazendo um esboço exegético e, a partir daí, ele expõe a doutrina ali contida.
Seguindo este método o puritano mostra de forma clara à sua congregação, que a doutrina que está pregando vem diretamente de uma exegese da Escritura. Então, desenvolve a doutrina que extraiu da Escritura através de demonstrações e argumentos.
Finalmente ele leva tudo isso às consciências dos ouvintes através de uma aplicação direta.
Portanto, segundo Perkins, a doutrina a ser demonstrada no sermão deveria partir de uma exegese da Escritura. Como Calvino e os demais reformadores, eles acreditavam que um texto tem apenas um único sentido. Perkins continua procurando mostrar e dar algumas regras de interpretação úteis ao pregador. Dá os seguintes métodos que acredita serem necessários para se interpretar a Bíblia corretamente.
1. Ter um conhecimento geral de toda doutrina bíblica. Por isso o pregador necessita da Confissão de Fé e dos Catecismos. Calvino enfatizou que, se alguém tem um conhecimento claro da verdade, ele está habilitado a ser um intérprete fiel da Palavra de Deus. Se ele conhece o todo pode interpretar parte.
2. Em segundo lugar, Perkins recomendava que se lesse a Escritura numa seqüência especial usando análise gramatical, retórica e lógica para entender o texto.
3. Fazer uso de comentários escritos por exegetas ortodoxos. Por isso devemos sempre indicar bons livros.
4. Manter um registro do que está lendo. Os puritanos chamavam a isto de “livro de registro de leitura” (dos textos). Era um livro que registrava as passagens lidas, os pontos principais e um esboço do que pregavam.
5. Não esquecer que toda interpretação bíblica deve ser feita em oração. Isso, porque o Espírito Santo é o interprete da Palavra de Deus.
Havendo estabelecido estes princípios de interpretação básicos ele vai mais adiante e coloca mais três princípios específicos que são baseados naquele maior de que a Escritura interpreta a Escritura:
1. Analogia da fé. A Bíblia é uma unidade. Uma vez que você conhece toda doutrina bíblica percebe que não há nenhuma contradição. Portanto, não se pode interpretar o texto de forma a contradizer o que a Bíblia diz em outro lugar.
2. O texto deve ser interpretado à luz do seu próprio contexto.
3. Comparar Escritura com Escritura.
Todos estes princípios estão operando por detrás da maneira como os puritanos desenvolvem sua exegese do texto. Tudo está sumariado no Diretório de Culto de Westminster. Se o texto escolhido para a pregação é longo como em histórias ou parábolas o pastor deve dar um breve resumo dele. Se, ao contrário, o texto é curto, o pastor deve fazer uma paráfrase do texto. O propósito é que, de uma forma ou de outra, se possa olhar e compor o contexto do texto e demonstrar as doutrinas principais que devem ser extraídas daquele texto. Fazendo a análise e organização do texto escolhido, deve-se levar mais em consideração a ordem do assunto do que a ordem das palavras.
Assim feito, o puritano passavam para a exposição da doutrina. Como dissemos, a doutrina nada mais é do que a verdade extraída do texto e exposta de uma forma adaptada à edificação do povo de Deus. O pregador deveria falar de forma tão clara que aqueles que ouvissem, com prazer recebessem a Palavra de Deus.
William Perkins sempre falava de “extrair” uma verdade de um texto. Havia dois métodos de se fazer isto.
1) Anotação e 2) Coleção (ajuntamento).
1) Anotação é usado quando a doutrina está claramente explícita no texto. O que o pregador faz é simplesmente observar aquilo que o texto está dizendo de forma clara. Um exemplo é o Sermão do Monte, quando Cristo diz que aquele que olhar para uma mulher com uma intenção impura, no seu coração comete adultério com ela. Daí, Perkins extrai a seguinte verdade: O texto não somente está afirmando isto, mas dele se deriva a verdade de que o sentido daquele ensino é proibir toda ocasião para o adultério.
2) Coleção (ajuntamento) é o método usado quando a doutrina está implícita no texto. Neste caso a verdade tem de ser deduzida por inferência. Ou seja, a verdade quando não é declarada explicitamente pode estar obviamente contida na passagem. Como exemplo temos a passagem de Sofonias 2:2, quando encontramos a expressão “examinai-vos a vós mesmos”. Baseado nesta expressão Perkins desenvolve a doutrina da necessidade de arrependimento. Isso, porque todo arrependimento deve começar com auto-exame e todo auto-exame deve levar a arrependimento. Uma vez que a doutrina é derivada do texto ela deve ser demonstrada. No desenvolver da doutrina a verdade deve ser claramente demonstrada. Uma vez que isso é feito, os ouvintes estarão prontos para ouvir a aplicação.
Esta é uma idéia do método puritano de preparar um sermão, não somente por causa do contexto histórico, mas porque nos traz lições importantes.
Agora vamos ver algumas implicações práticas.
1) Primeiro, o estudo do método e estrutura do sermão puritano nos ajuda a entender de que maneira a Confissão de Fé de Westminster interpreta o Velho e o Novo Testamento. Lemos no capítulo I. p. VI, desta Confissão: “Todo conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela...”.
Portanto, quando vemos o método que Perkins usava quando organizava as demonstrações bíblicas para provar seu texto escolhido, podemos entender o mesmo tipo de exegese que encontramos na própria Confissão de Fé. Isso também explica a relação entre os textos de demonstração e a doutrina que os puritanos extraíam destes textos.
2) A segunda lição prática é que, se entendermos a estrutura do sermão puritano, poderemos ler de forma mais proveitosa estes sermões. Perceberemos onde eles querem chegar e como chegarão. Nos ajudarão, nos sermões muito elaborados e floridos, o que devemos desprezar.
3) Com tudo isso veremos a ênfase na necessidade de pregar exclusivamente a Palavra de Deus. Se o nosso povo vai ser mudado pela pregação, ele também deve ser convencido da verdade da Palavra de Deus. O seu propósito como pregador é ajudá-lo a ver qual a verdade das Escrituras e que é isso que Deus está dizendo. Existem várias opiniões sobre os propósitos do sermão: persuadir, motivar, instruir, mas sempre com aquele propósito principal, qual seja, explicar a Palavra de Deus. Quero que meu povo vá para casa, depois do sermão do Domingo, tendo uma idéia mais clara do sentido do texto usado. Provavelmente eles esquecerão o que disse, mas na próxima vez que abrirem a Bíblia naquele texto pregado, sem dúvida terão uma compreensão mais clara.
Mas este tipo de pregação que estamos defendendo exige trabalho árduo. O pastor deve ser um exegeta fiel das Escrituras. Deve trabalhar duro nos seus estudos porque somente através deste trabalho árduo e em oração, a “Bíblia se abre” para nós. Como intérpretes devemos tratar o texto de forma fiel. É vergonhoso saber que nós, que temos esta visão da Bíblia como de fato a Palavra de Deus, somos, algumas vezes, exegetas tão desleixados. João Calvino podia dizer do seu ministério que até quanto ele sabia, nunca, conscientemente, interpretou mal a Palavra de Deus. Você pode dizer isto?
Além disso devemos construir e estruturar nossos sermões de forma cuidadosa e não deixar para a última hora. Se o sermão tem de ser lógico e deve ser memorizado pela congregação, ele precisa ser elaborado com cuidado.
Uma palavra dirigida aos presbíteros. Vocês devem dar apoio e encorajamento aos seus pastores para que eles estudem; protejam os pastores! Exija deles este tipo de pregação e estudo.
Aos membros da igreja digo: Este tipo de sermão vai exigir alguma coisa de vocês. Você não vai à igreja apenas para ser entretido; deve se apropriar da Palavra de Deus através de sua mente e fazê-la descer ao coração e nele leve esta Palavra para casa e para que nele surta efeito onde estiver. Para isso tem de ser um ouvinte atencioso. Não culpe o pastor se não tirou nada de um sermão preparado zelosamente. É sua responsabilidade tirar proveito, porque não foi à igreja para se entreter ou se divertir, mas para ser instruído na Palavra e ter Deus tratando com seu coração.
Lembrem-se das cinco marcas do sermão puritano. Não vamos desenvolvê-las como os puritanos desenvolveram; algumas vezes a estrutura do sermão puritano continha muitas palavras e quando havia a tendência de derivar muitas doutrinas de um único texto, o sermão perdia sua unidade; ficava uma colcha de retalhos. Mas a lição é que não devemos seguir os puritanos como robôs, mas “pegar” a visão que eles tinham.
Lembre-se! O sermão deve ser:
1) Bíblico; 2) Lógico; 3) Fácil de ser memorizado; 4) Direto; 5) Transformador.
Amém.
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07:11

Mais que Vencedores

por :Charles Haddon Spurgeon

“Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Rm. 8:37)
Vamos a Cristo para ser perdoados, e então, com freqüência, procuramos na lei forças para combater os nossos pecados. Paulo nos repreende dessa forma: “Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado? Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?” (Gl. 3:1-3) Leve seus pecados à cruz de Cristo, pois só lá o velho homem pode ser crucificado: fomos crucificados com Ele. A única arma para lutar contra o pecado é a lança que perfurou o lado de Jesus. Para dar uma ilustração - você quer superar um temperamento explosivo - como vai fazer? É bem possível que você jamais tenha tentado o jeito certo - de ir a Jesus com ele. Como obtive a salvação? Vim a Jesus como estava, e confiei Nele para me salvar. Posso derrotar meu temperamento explosivo da mesma forma? É a única maneira pela qual posso derrotá-lo. Devo ir à cruz e dizer a Jesus: “Confio em Ti para me livrar disto.” Este é a única forma de lhe dar um golpe mortal. Você é ambicioso? Sente que o mundo o enreda? Você pode lutar contra este mal tanto quanto lhe agrade, mas se ele for um pecado que constantemente o assedie, de maneira nenhuma será liberto dele, exceto pelo sangue de Jesus. Leve-o a Cristo. Diga-Lhe: “Senhor, confio em Ti, Teu nome é Jesus, Tu salvaste Teu povo de seus pecados; Senhor, este é um dos meus pecados; salva-me dele!”. Regras nada são sem Cristo como meio de mortificação. Suas orações, seus arrependimentos, e suas lágrimas - todos juntos - nada valem longe dEle. “Ninguém, exceto Jesus, pode tornar bons os pecadores desamparados”, tampouco os santos desamparados. Você deve ser vencedor por meio dAquele que o amou, se quer ser vencedor. Nossos lauréis [1] devem crescer entre Suas oliveiras no Jardim do Getsêmani.
[1] - lauréis - coroa de louros dada aos vencedores de uma disputa



Tradução: Mariza Regina SouzaEste artigo é parte integrante do portal
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