17:57

O Antigo Evangelho

Por: Aldair Ramos Rios

"Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede; perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele, e achareis descanso para as vossas almas..." (Jr 6:16)


Quem nunca leu o livreto " O Antigo Evangelho" da editora Fiel, devia dar uma conferida no seu conteúdo. Na verdade o livro é um "ensaio introdutório ao livro de John Owen, A morte da morte na morte de Cristo". O autor do livro J. I. Packer procura mostrar as diferenças de conteúdo entre o Antigo e o novo evangelho, analisando também o impacto causado por cada uma deles na vida dos pecadores...
"Não há dúvidas de que o mundo evangélico de nossos dias encontra-se em um estado de perplexidade e flutuação...se descermos até a raiz da questão, descobriremos que estas perplexidades, em última análise, deve-se ao fato que temos perdido de vista o evangelho bíblico...durante os últimos cem anos temos trocado o evangelho por um substituto que, embora lhe seja semelhante quanto a determinado pormenores, trata-se de um produto totalmente diferente... O Assunto abordado pelo antigo evangelho era Deus e os Seus caminhos com os homens; e o assunto abordado pelo novo é o homem e a ajuda que Deus lhe dá" (J. I. Packer / páginas 2 e 3)
A precisão com que ele analisa os fatos é de admirar; o autor procura mostrar, que se quisermos pregar o evangelho Bíblico, não existe outro caminho, a não ser pregar aquilo que hoje é apelidado de Calvinismo. Gostaria de aproveitar o texto e fazer uma reflexão sobre a situação evangélica atual:
"Não há dúvidas de que o mundo evangélico de nossos dias encontra-se em um estado de perplexidade e flutuação
"
Seria exagero da parte do autor, afirmar tal coisa?

É claro que não...muitos de nós; estamos cansados de ver na mídia, escândalos envolvendo líderes evangélicos, o que tem levado a igreja perder o prestígio que tinha anteriormente perante a sociedade. Afinal, afirmam hoje "Templo é dinheiro"...a situação que chegamos é lamentável, a casa de oração virou comércio, o verdadeiro evangelho foi trocado por um outro evangelho, pelo FALSO EVANGELHO, não se fala mais na Cruz de Cristo, não se fala mais contra o pecado...não sabemos mais o que realmente é o Cristianismo, quais são as verdades que influênciaram multidões de pessoas no passado, perdemos a nossa identidade, não sabemos mais, nem mesmo que nós somos.

"se descermos até a raiz da questão, descobriremos que estas perplexidades, em última análise, deve-se ao fato que temos perdido de vista o evangelho bíblico..."

O que temos ouvido, hoje em dia em cima de nossos púlpitos é de arrepiar os cabelos. Um certo escritor disse, que "precisaríamos ser onisciente, para saber, tudo o que estão pregando por ai"

O que você sabe sobre, Regeneração ? Justificação? Providência de Deus?....Com certeza quase nada, não é mesmo? Como saber ,se não nos ensinam? Como defender a nossa fé, sem ao menos conhecê-la?
Realmente o evangelho antropocêntrico está em alta em nossos dias, quando abordamos assuntos como a Soberania de Deus, somos logo rotulados de "fatalistas e deterministas", por que Será? A verdade é que não conseguem ouvir a sã doutrina, sentem coceiras nos ouvidos, quando as proclamamos...na verdade qual é a mensagem pregada por eles?
A mensagem do humanismo... quem está no centro de todas as coisas para os humanistas? "o homem"
Dessa mesma, a igreja tem deixado de render ,toda a glória a Deus somente, para dividi-la com os homens.

"durante os últimos cem anos temos trocado o evangelho por um substituto que, embora lhe seja semelhante quanto a determinado pormenores, trata-se de um produto totalmente diferente... "

E o quanto mudou mesmo...leia os textos de homens de Deus como Spurgeon, Calvino, Lutero, John Bunyan, George Withfield, Jonathan Edward´s, dentre outros, veja as principais confissões de fé da igreja do passado e compare com tudo o que temos ouvido hoje.
Mudou a forma de ver Deus, de ver a morte de Jesus, de ver a salvação, de ver o pecado e de ver o homem...poderia seguir como uma lista de mudanças que ocorreram...afinal quem está no rumo certo?
É evidente que não somos nós, e é vergonhoso encontrar declarações como essas..."Quanto mais os evangélicos crescem, menos eles mudam a cara do país" Por que Será?
Que Deus tenha misericórdia de nós
Olhemos para o passado e contemplemos, multidões e mais multidões de cristão que morreram confiando no evangelho da graça de Deus, você já se perguntou por que eles morriam muitas vezes cantando? Na verdade eles conheciam o evangelho, que multidões de "cristãos" hoje ainda não conhecem...
"...perguntai pelas veredas antigas"

Sola Gratia.

14:35

O que os Reformados Entendem por Livre Arbítrio?

A questão e as controvérsias sobre a existência ou não do livre arbítrio são antigas. A discussão se faz presente, com freqüência, no meio presbiteriano, porque somos reformados. Esse termo, reformados, significa que entendemos que as doutrinas resgatadas pela reforma do século 16, e expressas nos documentos e escritos históricos dos reformadores e dos que seguiram em suas pisadas, expressam da melhor maneira os ensinamentos da Palavra de Deus.

Ocorre que nem sempre os que defendem, ou os que negam o livre arbítrio, se preocupam em um entendimento maior do conceito, nem em uma abordagem mais ampla dos textos bíblicos pertinentes ao tema compreendido nessa “liberdade”. Nesse sentido, tanto a defesa, como o ataque, podem levar a uma distorção do ensinamento bíblico e por isso é importante examinarmos em maior detalhe o que realmente entendemos por livre arbítrio.

Podemos fazer isso indo até o nosso símbolo de fé – a Confissão de Westminster (CFW: 1642-47), não porque tenhamos ali a palavra final, mas porque a Confissão nos direciona à Escritura, sistematizando, em proposições concisas, as doutrinas chaves da fé cristã. É nela que encontramos exatamente todo um trecho exatamente sobre o livre arbítrio. O capítulo 9 da CFW tem cinco sessões. Nelas lemos que a Bíblia nos ensina que:

1. A natureza humana não possui determinação intrínseca (natural) para o bem ou para o mal. Essa é a liberdade da natureza humana, procedente da estrutura da criação, e a Bíblia, com freqüência e naturalidade, faz referência a essa situação, apelando ao “querer” das pessoas (“te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas” – Dt 30.19; “... não quereis vir a mim para terdes vida” – Jo 5.40; “... Elias já veio, e não o reconheceram; antes, fizeram com ele tudo quanto quiseram” – Mt 17.12).

2. Entretanto, essa plena liberdade existiu no que a CFW chama de “estado de inocência”, ou seja, até a queda em pecado. No Cap. 4, seção 2, falando “da Criação”, a CFW indica que nossos primeiros pais foram “deixados à liberdade da sua própria vontade, que era mutável”. Voltando ao Cap. 9, quando o pecado entrou no mundo o homem perdeu essa “liberdade e poder” (“...Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” – Ec 7.29).

3. O livre arbítrio, portanto, faz parte da natureza criada, mas não subsiste na natureza caída. Como pecadores, não podemos realizar qualquer “bem espiritual” que leve à salvação. Nesse sentido, toda a raça humana está morta “no pecado”. As pessoas são incapazes, cegas pelo pecado, de converter-se, ou mesmo “de preparar-se para isso”. Perdemos, portanto, o livre arbítrio, com a queda em pecado (“... o pendor da carne é inimizade contra Deus... os que estão na carne não podem agradar a Deus” – Ro 8.7-8; “... Não há justo, nem um sequer... não há quem busque a Deus; todos se extraviaram...” – Ro 3.10 a 12; “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer” – Jo 6.44).

4. A situação atual da humanidade, sem livre arbítrio, é de escravidão ao pecado, mas a conversão, operada pelo toque regenerador do Espírito Santo é a libertação dessa escravidão. É a graça de Deus que habilita o homem a querer fazer o que é espiritualmente bom. Como permanecemos ainda pecadores e vivemos em um mundo que é pecado em pecado, não podemos realizar o bem perfeito, e eventualmente caímos também em pecado, mesmo depois de salvos ( “... todo o que comete pecado é escravo do pecado... Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” – Jo 8.34 e 36; “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” – Cl 1.13; “... uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça” – Ro 6.18; “... nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto” – Ro 7.15),.

5. Somente na eternidade, em nossa glorificação, é que a nossa vontade “se torna perfeita e imutavelmente livre para o bem só” ( “Ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele” – 1 Jo 3.2).

Esses pontos estabelecem o significado teológico da expressão livre arbítrio – a possibilidade de querer realizar o bem, que tem validade espiritual. Nesse sentido, as pessoas não o possuem em função do pecado e da natureza pecaminosa, que as conservam sob escravidão, fazendo-as escolher o pecado.

A CFW ainda faz outras referências ao livre arbítrio, por exemplo, diz que Deus executa o seu plano “segundo o seu arbítrio” (Cap. 5, seção 3); diz ainda que a perseverança dos santos, ou seja a segurança dos crentes em um estado de salvação “não depende do livre arbítrio deles”, mas “do livre e imutável amor de Deus Pai” (Cap. 17, seção 2). Simultaneamente, uma liberdade de ação, e conseqüentes responsabilidades, é reconhecida, na CFW. No Cap. 20, seção 1, ela indica que os crentes procuram seguir os preceitos de Deus “... não movidos de um medo servil, mas de amor filial e espírito voluntário”. Por último, a CFW fala da liberdade de consciência (Cap. 20, seção 2), registrando que “só Deus é o senhor da consciência”; fala da “verdadeira liberdade de consciência”, e avisa contra “destruir a liberdade de consciência”, bem como contra nunca utilizar essa liberdade como pretexto para cometer “qualquer pecado” ou concupiscência, pois o propósito dela é servir “ao Senhor em santidade e justiça, diante dele todos os dias da nossa vida”.

Devemos entender, assim, que quando indicamos que não possuímos livre arbítrio, não significa que somos robôs, agindo mecanicamente em um teatro da vida. Esse é o grande mistério: como Deus consegue nos dar essas faculdades decisórias, mas, ainda assim, cumprir o seu plano de forma imutável. Mais uma vez, é a CFW, que nos esclarece (Cap 3, seção 1 – “Dos eternos de Deus”), indicando que Deus “ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece”, porém “nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias”.

Como reformados, precisamos cuidar, portanto, ao contestarmos o livre arbítrio, de não suprimirmos esse aspecto – de que decidimos organicamente as questões da nossa vida, mas Deus, soberanamente cumpre seus propósitos. Se assim fizermos, reduzimos os atos de Deus a um modus operandi que não é o dele, nem é o ensinado na Bíblia. Talvez uma distinção que pode auxiliar a nossa compreensão e dar maior precisão ao tratamento desse conceito, é a utilização do termo livre agência. Livre arbítrio, no sentido já explicado, foi perdido. Esteve presente em Adão e Eva, mas não se encontra na humanidade caída. Livre agência seria a capacidade recebida de Deus de planejarmos os nossos passos (Ti 4.13), de decidirmos o nosso caminhar. Quando entendemos bem esse aspecto, nunca vamos achar que essas decisões são autônomas, ou “desligadas” do plano de Deus (Ti 4.14-15). É ele que opera em nós “tanto o querer como o realizar” (Fl 2.13) e o faz milagrosamente, imperceptivelmente, sem “violentar a vontade da criatura”. Longe de ser uma contradição, esse entendimento reformado, retrata Deus em toda sua majestade, ao lado de criaturas preciosas. Livres agentes, que perderam a possibilidade de escolha do bem (livre arbítrio), mas continuam formadas à imagem e semelhança da divindade, necessitadas da redenção realizada em Cristo Jesus e aplicada nas vidas dos que constituirão o Povo de Deus, pelo seu Espírito Santo.

Solano Portela

retirado do blog:http://tempora-mores.blogspot.com/2009/07/o-que-os-reformados-entendem-por-livre.html

18:33

Porque devo ser um Calvinista

Explicando a soberania de Deus sobre o homem e o pacto com o homem

por

P. Andrew Sandlin

“Pois, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, porque me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!” —1 Coríntios 9:16

Nosso mundo pós-moderno diz muito sobre “opções”. É dito muito pouco sobre convicções. Supõe-se que todos sejam felizes com suas próprias “preferências”, e o acordo tácito é que eu não me preocuparei demais com suas preferências (digamos, por exemplo, homossexualidade, corn flakes [N.T.: sucrilhos de milho], Oldsmobilne [N.T.: marca de automóvel], pedofilia, ou Dan Rather) se você não se preocupar demais com as minhas. Nós simplesmente fazemos “escolhas”, e estamos certos que não nos tornamos dogmáticos demais sobre elas. A Bíblia, por outro lado, tem pouco a dizer sobre o que chamaríamos “preferências”. Tem muito que dizer sobre o que definimos como “convicções”. Preferências são escolhas que nos agradam; convicções são crenças que nos compelem.

Paulo estava convencido de que Deus o havia chamado para pregar o evangelho. Isto não era uma preferência. Era uma convicção. Este é o porque ele declarou que “era imposta essa obrigação” sobre ele. Ele era dirigido por uma obrigação interna – uma compulsão que o próprio Deus tinha instilado nele para pregar o evangelho.

Hoje vou falar sobre porque eu devo ser um Calvinista. Não estou falando principalmente porque você deveria ser um Calvinista, embora se você não seja um Calvinista, espero que se torne um. Não estou abordando o tema, “Porque sou um Calvinista”. Isto poderia simplesmente terminar sendo uma dissertação desapaixonada. Sobre o que estou falando hoje arde em minha alma e inflama a minha mente. Isto é o que verdadeiras convicções fazem. Não são simplesmente assuntos de discussão vagarosa. São assuntos de convicção apaixonada. Porque eu devo ser um Calvinista?

Razões Insuficientes
Primeiro, deixe-me discutir razões insuficientes para eu ser um Calvinista. Eu não sou um Calvinista porque tenho uma visão exaltada de João Calvino. Ele foi um grande homem, piedoso e erudito. Mas era, apesar de tudo, um ser humano como o resto de nós; e ele cometeu alguns enganos – até mesmo sérios enganos. Eu não sou um Calvinista porque eu exalto Calvino, mas antes porque eu creio que as crenças de Calvino estavam inteiramente próximas do que a Bíblia ensina. Calvino (em minha opinião) basicamente a entendeu direito.

Algumas vezes se pensa que Calvino é o pai das igrejas Reformadas, e uso os termos “Calvinista” e “Reformado” preferencialmente de maneira sinônima. Menciono as igrejas Reformadas. Há muitas delas, e freqüentemente estas igrejas estão alinhadas com denominações. Eu não sou um Calvinista simplesmente sobre a base de que sou um denominacionalista. Muitos Calvinistas não são membros de alguma denominação particular, embora todos deveriam ser membros de uma igreja sadia. Há boas denominações e há más denominações; e a verdade do Calvinismo não descansa no estado ou visão de algumas denominações (ou alguma igreja particular, para essa matéria).

Eu não abraço o Calvinismo sobre a base de que nasci em uma família Calvinista. Na realidade, eu nasci numa bela família, bíblica e temente a Deus, que não era Calvinista. Não sou um Calvinista por nascimento, mas por escolha! Calvino o homem, as denominações Calvinistas, e o ter nascido numa família Calvinista não são (para mim) razões suficientes para abraçar o Calvinismo. Finalmente, não abraces o Calvinismo porque você meramente o selecionou como uma “opção”. Abrace o Calvinismo porque – me atrevo a dizer? – tem que fazer assim. Sua verdade penetra até a medula de teu ser, e não podes fazer outra coisa.

Catolicidade
É importante entender primeiro que os Calvinistas sustentam com outros setores da igreja, certos distintivos. Nós os Calvinistas concordamos com todos os outros Cristãos ortodoxos em abraçar as crenças básicas Cristãs sumarizadas no Credo Apostólico. Sustentamos o Trinitarianismo explicado claramente no Credo Niceno. Afirmamos a Cristologia (visão da Pessoa de Cristo) articulada na fórmula de Calcedônia. Cremos que Jesus Cristo é o Filho de Deus, Deus em carne. Temos fé que Ele derramou Seu sangue sobre a cruz para expiar nossos pecados; que se levantou corporalmente da tumba ao terceiro dia; e que Ele voltará outra vez com visível esplendor e grande glória para julgar as nações. Cremos que o evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê. Como nossos homólogos ortodoxos, cremos na história redentora – aqueles grandes e milagrosos eventos da obra de Deus em Cristo para salvar os pecadores [1]. Nestes e noutros assuntos fundamentais, concordamos com todos os Cristãos ortodoxos. Estes são simplesmente assuntos da fé católica (universal, não Romana) nos quais todos consentimos.

Distintivos
Porém nós Calvinistas temos certas crenças e práticas distintivas. Estas nos distinguem do resto da Cristandade ortodoxa. Não afirmamos que nossos irmãos e irmãs sejam menos Cristãos do que nós somos. Reivindicamos, contudo, que eles têm um entendimento menos perfeito ou maduro, da fé. Se, certamente, crêssemos como eles crêem, seríamos membros de suas igrejas. É precisamente porque estamos convencidos da exatidão da crença e prática Calvinista que somos membros de igrejas Reformadas – e, mais importante ainda, abraçamos o Calvinismo.

Note que digo “crença e prática”. Como todos os outros setores do Cristianismo, o Calvinismo não é somente um sistema de crença; é também um sistema de vida. No que você crê influencia como você vive. No final da década de 40, Richard Weaver, o grande historiador do Sul, escreveu um livro intitulado “As Idéias Têm Conseqüências”. Certamente elas têm. O que você crê e pensa modela como você atua e comporta. Nós Calvinistas não somos “doutrinalistas” [2]. Não cremos que a fé esteja limitada à doutrina, ainda que seja essencial, e certamente não está limitado ao tipo de teologia acadêmica que alguém encontra somente nos seminários de torres de marfim que concedem licenciaturas de Th.D [N.T.: Doctor of Theology = Doutor de Teologia]. Não, o Calvinismo é uma crença e uma vida. Na linguagem de Tiago do Novo Testamento, é fé e obras juntos.

Tendo tudo isto em mente, deixe-me dizer-lhe porque devo ser um Calvinista.

A Soberania de Deus
Eu devo ser um Calvinista, primeiro, porque eu não posso reconhecer nenhum fato maior no universo do que a soberania de Deus. O que é a “soberania de Deus”? Nas palavras de um sábio ministro, a soberania de Deus significa que Deus é...Deus. Deus não é um homem, e não há ninguém a quem possamos compará-LO (Isaías 40:18). Os antigos deuses pagãos – e os falsos deuses de hoje, com a relação a isto – eram simplesmente extensões da humanidade. Eles eram insignificantes, vingativos, caprichosos e tímidos. Expressavam características exageradas do próprio homem. Este não é o Deus revelado na Bíblia, e não é o Deus dos Calvinistas. Cremos que Deus é absoluto, todo-poderoso, onisciente, onipresente, sempre amoroso, sempre justo, sempre perfeito. Ele é autocontido, auto-suficiente e autodeterminado. Ele não é “contingente” em nenhum sentido. Ele não depende de ninguém ou de algo mais para Seu ser ou ações. Quando Moisés perguntou a este Jeová Deus qual era o Seu nome, Deus respondeu simplesmente, “Eu sou”, ou “Eu sou o que sou”. Não há nenhum fator externo ou derivado com o qual possamos comparar a Deus. Deus simplesmente é. Este é o Deus a quem amamos e servimos.

Cremos que Deus faz o que Lhe agrada. Na realidade, Ele nos diz em Sua Palavra, a Bíblia, que isto é precisamente o que Ele faz (Salmos 115:3). Ele não pede permissão para o homem. Ele é o Criador, e o homem é a criatura (Gênesis 2:7). O homem é a sua mais alta criatura, e foi feito à Sua imagem; mas apesar de tudo o homem é uma criatura. Deus é soberano. Ele conhece o fim desde o princípio porque Ele determina o fim desde o princípio. Ninguém pode frustrar a sua vontade, e ninguém pode deter Sua mão. Não podemos escudrinhar Sua mente, e não podemos conhecer Sua vontade aparte de Sua revelação na Bíblia e na criação e em Seu Filho Jesus Cristo. Em Isaías lemos, “assim como meus pensamentos são mais altos que vossos pensamentos” (Isaías 55:9-10). Como o resto de Sua criação, o próprio homem é uma criatura; e Deus faz com o homem o que Ele quer. Romanos 9 faz isto abundantemente claro. Deus é soberano, e isto significa que o homem não é soberano.

É bastante claro como Deus exerce esta soberania. Ele o faz por meio de Seu Filho, Jesus Cristo. Jesus Cristo é o grande Rei. [3] Como resultado de Sua morte e ressurreição, o Pai concedeu a Cristo o domínio universal (Daniel 7:13-14; Mateus 28:18-20; Filipenses 2:5-11). Ele está governando hoje desde os céus (Atos 2:29-36). O grande centro da fé para os Cristãos primitivos era o Senhorio do Cristo elevado e exaltado. [4] Na realidade, a fé Cristã pode ser resumida em três palavras:

Jesus é Senhor
A soberania de Deus é vista na criação e muito mais, porém alcança sua plena expressão no governo de Seu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor, Salvador e Rei.

A morte de Cristo na cruz e sua ressurreição da tumba asseguram a salvação dos homens, e você pode estar seguro que nosso Deus é soberano na salvação do homem, da mesma forma como é soberano em qualquer outro aspecto do universo. Este é o princípio dominante da crença Calvinista na soberania de Deus. Deus salva homens; Ele não os ajuda a se salvarem. Deus não está no negócio de fazer com que os homens que andam dando tombos voltem a afirmar seus pés com segurança. Os pecadores estão mortos em delitos e pecados (Efésios 2:1). Eles não são homens enfermos que necessitem de um remédio: são homens mortos que necessitam de uma ressurreição. Isto é exatamente o que o Espírito Santo dá aos eleitos, os escolhidos de Deus. A salvação de acordo com os Calvinistas não é um esforço cooperativo. Deus enviou a Seu Filho, Jesus Cristo, à terra para salvar pecadores que Ele amou (João 3:16). Sua morte não faz simplesmente a salvação disponível; sua morte na realidade assegurou a salvação dos pecadores. Este é o porque o escritos de Hebreus nos diz, “Não pelo sangue de bodes e novilhos, mas por seu próprio sangue [de Jesus Cristo], entrou uma vez por todas no santo lugar, havendo obtido uma eterna redenção” (Hebreus 9:12, ênfase adicionada). Ele realmente obteve salvação. Deus salva pecadores; Ele não os ajuda a se salvarem. [5]

Nenhuma destas coisas significa que o homem é uma máquina ou um autômato. Deus certamente deu uma vontade e uma escolha ao homem. Repetidamente, Deus apela à vontade do homem. Para o Israel do Antigo Testamento, Jeová disse, “Vê que hoje te pus diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal” (Deuteronômio 30:15). No Novo Testamento, o próprio Jesus declara, “Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28). As escolhas do homem são escolhas reais, e sua vontade é uma vontade real.

Porém – este é um ponto crucial – acima de toda a vontade e escolhas do homem está a soberana e eterna vontade de Deus (Efésios 1:11).

Como nós, os Calvinistas, explicamos isto? Como a soberania de Deus e a vontade do homem se harmonizam? Uma resposta simples é: nós não sabemos. De fato, é precisamente porque Deus é soberano e nós não, que não professamos entender a relação entre a soberania de Deus e vontade do homem. Sabemos que Deus é soberano em todas as coisas, e sabemos que o homem tem uma vontade e uma capacidade de escolha que tem um significado real; e deixamos isto nesse ponto. Se Deus é soberano, Ele é tão soberano que pode criar um ser como o homem com uma vontade cujas ações não são coagidas por Deus, e não obstante, cumpre de maneira perfeita a vontade de Deus. Como pode ser isto? Eu não sei. Deus é soberano e nós não o somos.

A Centralidade do Pacto
Há uma segunda razão pela qual eu devo ser um Calvinista. Os Calvinistas crêem que o pacto se acha no centro dos relacionamentos de Deus com o homem, e creio que isto é exatamente o que a Bíblia ensina. Este é o segundo grande distintivo do Calvinismo. [6] É um distintivo cuja importância é freqüentemente não reconhecida. Parte da razão para esta falta de reconhecimento é devido à uma época na qual se perdeu a noção total de pacto. Um pacto é um vínculo sagrado. É uma relação na qual o amor e a legalidade se harmonizam da forma mais bela. Nós freqüentemente tendemos a ver estes dois fenômenos de uma maneira antitética: a lei e o amor são opostos. O amor é espontâneo e emocional, enquanto a lei é calculada e racional. Mas a doutrina Bíblica do pacto destrói esta falsa antítese. Nos pactos bíblicos (e eu estou falando dos pactos entre Deus e os homens), Deus entra em uma relação obrigatória com o homem. Não é menos obrigatória porque ela é cheia de amor, e não é menos amorosa porque é obrigatória. Deus ama tanto o homem que está disposto a comprometer a Si mesmo para com o homem. Como resultado do prévio amor de Deus para com o homem, o homem está disposto a se obrigar para com Deus por causa de seu amor por Deus. Ele é tanto espontâneo como calculado, tanto emocional como racional. Deus ama o homem e faz um compromisso para com o homem; o homem ama a Deus e faz um compromisso para com Deus. Esta é a base do pacto bíblico.

O pacto é um tema dominante na Bíblia – desde o pacto de Deus com Noé de que nunca destruiria novamente a terra com um dilúvio, Seu pacto com Abraão de que Ele seria Deus para ele e para sua descendência depois dele e que abençoaria a todas as famílias da terra através daquela semente, Seu pacto com Israel como nação de que lhes abençoaria tanto que eles guardariam Sua lei, Seu pacto com Davi de que levantaria um rei para sempre no trono de Israel do fruto dos lombos de Davi, até o “novo pacto” que Deus colocaria Sua lei nos corações de Seu povo. [7] Jesus ratificou seu novo pacto com o derramamento de Seu sangue na cruz, da qual Sua última refeição com os discípulos, ou a Ceia do Senhor, é um poderoso sinal ou selo. Paulo, o grande apóstolo do Novo Testamento, definiu seu ministério em termos do novo pacto (2 Coríntios 3:6).

O fato é: o pacto é a maneira como Deus se relaciona com o homem. Ele poderia ter escolhido outra maneira, mas Ele não o fez. Ele escolheu entrar em um vínculo sagrado e bilateral com os homens no tempo e na história. Ele amorosamente Se comprometeu para com os homens, e eles respondem por um comprometimento amoroso para com Ele.

Deus nos deu Sua Palavra em revelação como uma palavra pactual. Tem duas partes, o Antigo e o Novo Testamento, ou o antigo e o novo pacto. Esta Palavra, as sagradas Escrituras, confirmam a relação pactual com Seu povo; e esta Palavra, uma palavra infalível, apresenta Seus termos para Suas criaturas. Esta Palavra é a forma escrita do vínculo pactual. [8]

O pacto necessita fé inter-geracional. Somos membros do pacto Abraâmico, únicos a Cristo, a semente prometida. Porém nossos filhos, também, estão no pacto com o Senhor (Genêsis 17:7-14; Atos 2:38-39; 1 Coríntios. 7:14). Como Andrew Murray certa vez observou, Deus deu a Isaque as mesmas promessas que Ele deu a Abraão. [9] Deus é o mesmo Deus, e Suas promessas são as mesmas promessas. Confiamos que Deus salvará nossos filhos e os trará para Si mesmo e que eles O seguirão. Eles são Sua propriedade especial. Eles permanecem no pacto com Ele. E nós permanecemos nas promessas do pacto de Deus na criação de nossos filhos.

Eu devo ser um Calvinista porque creio que o pacto é o meio pelo qual Deus se relaciona com Seu povo.

A Abrangência da Fé
Terceiro, e finalmente, devo ser um Calvinista porque estou convencido que a Fé Cristã deve dominar a totalidade da vida e da existência do homem. Não há expressão do Cristianismo ortodoxo que haja reconhecido este fato tanto como o Calvinismo o fez. Os Calvinistas crêem que Jesus Cristo é Senhor, não somente do serviço de adoração da igreja nos Domingos, mas também das salas de reuniões ou seminários nas Segundas. [10]

Tudo pertence a Cristo e tudo o que presentemente se encontra debaixo do domínio do pecado deve ser reorientado para a justiça bíblica. Os Calvinistas concordam com Francis Schaeffer quando ele declarou que um dos grandes problemas com os Cristãos hoje é que eles vêem as coisas em pequenos pedaços, em vez de vê-las como um todo. [11] Estas boas pessoas vêem os males na sociedade aqui e ali, mas não reconhecem que estes males são parte de um “sistema de vida” particular, ou cosmovisão. No Ocidente, esta cosmovisão é o humanismo secular. Porém pior ainda, os Cristãos não entendem que o mesmo Cristianismo requer seu próprio “sistema de vida” distintivo. Por quase dois mil anos o Cristianismo dominou as vidas dos devotos, e hoje esta necessidade é ainda mais premente. Diferentemente de muitos de nossos antepassados na Europa e nos Estados Unidos, já na vivemos dentro de uma cultura Cristã. Portanto, devemos estar especialmente vigilantes para enfatizar o Senhorio de Cristo em todas as áreas da vida, a fim de que não venhamos simplesmente a afirmar a visão humanista secular das coisas, por falta de outra opção.

A Bíblia declara que o que quer que comamos ou bebamos, devemos fazer tudo para a glória de Deus (1 Coríntios 10:31). Isto significa que todas as áreas da vida devem estar debaixo da autoridade de Cristo. A arte, ciência, tecnologia, vocação, mídia, políticas, economias – todas estas e mais – se encontram debaixo da autoridade de Cristo. O Calvinista não crê que haja áreas “neutras” da vida e que tanto o crente como o não crente possam concordar nos princípios básicos destas áreas. [12] Jesus Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida. Ele não é simplesmente um caminho, uma verdade e uma vida para alguma parte de nossa existência. O próprio Jesus nos diz que vamos ao Pai somente por Cristo; e se não vamos ao Pai, somos espiritualmente cegos (1 Coríntios 2:14). Necessitamos interpretar as coisas desde a “perspectiva” de Deus para interpretá-las apropriadamente. Se Jesus Cristo não é o Senhor da vida de alguém, o homem não pode esperar interpretar (inclusive a si mesmo) o mundo com exatidão.

Se o conhecimento de Cristo domina nosso próprio ser, devemos, como as Escrituras dizem, trazer todo pensamento cativo a Cristo (2 Coríntios 10:5). Simplesmente não podemos ser Cristãos de “meio tempo”. [13] O Cristianismo se estende muito além da esfera entre nossas duas orelhas – ele deve dominar a totalidade da cultura, a totalidade da vida.

Conclusão
Deus é soberano. Deus se relaciona com o homem por meio de pacto. E a fé é abrangente, não limitada à poucas áreas. Há muito mais que poderia ser dito, mas isto é o porque eu devo ser um Calvinista. Oro para que você também se torne um.

[1] Oscar Cullman, Salvação na História (New York: Harper, 1967)
[2] Richard J. Mouw, “A Bíblia no Protestantimos do Século Vinte: Uma Taxonomia Prelimiar”, A Bíblia na América, eds., National O. Hath e Mark A. Noll (New York: Oxford, 1982), 142-143.

[3] William Symington, O Messias, o Príncipe (Edmonton: Still Waters Revival Books, [1884] 1990).
[4] Oscar Cullmann, “O Reinado de Cristo e a Igreja no Novo Testamento”, A Igreja Primitiva (Philadelphia: Westminster, 1956), 105.

[5] David N. Steele e Curtis C. Thomas, Os Cinco Pontos do Calvinismo Definidos, Defendidos, Documentados (Phillipsburg: P&R, 1971)

[6] Geerhardus Vos, “A Doutrina do Pacto na Teologia Reformada”, História Redentora e Interpretação Bíblica, ed. Richard B. Gaffin Jr. (Phillipsburg,; P&R, 1971), Cap. 7.

[7] O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos (Phillipsburg: P&R, 1980).
[8] John M. Frame, “A Escritura Fala por Si Mesma", A Palavra Inerrante de Deus, ed., John Warwick Montgomery (Minneapolis: Bethany, 1973), 178-200.

[9] Andrew Murray, Como Criar Teus Filhos para Cristo (Minneapolis: Bethany, 1975), 35-39 and passim.
[10] Abraham Kuyper, Conferências sobre o Calvinismo (Grand Rapids: Eerdmans, 1931).
[11] Francis Schaeffer, Um Manifesto Cristão nas Obras Completas de Francis A. Schaeffer (Westchester: Crossway, 1982), 423-425.

[12] Cornelius Van Til, A Defesa da Fé (Phillipsburg: P&R, 1967).
[13] P. Andrew Sandlin, Totalismo (Vallecito: Chalcedon, 2001).

Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 20 de Janeiro de 2004.

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17:23

Nem tudo o que é amarelo é ouro








"...faça-se tudo decentemente e com ordem." 1Co 14:40


"Ele dizia: "Eu sou fanático".
Em meio a caretas, sapateados e tapas no púlpito, aquele pregador ou animador de auditório como queira você interpretar, prometeu acabar de pregar antes da meia-noite...como já tinha ouvido isso antes, levei na brincadeira; mas acho que ele não.

O culto passou das 21:00 horas e o emocionalismo desenfreado continuava...senti que ele "forçou a barra", alguns irmãos não aguentaram a pressão e foram para casa, afinal era domingo.

Enquanto isso, "meu pai e eu" já não estavamos mais aguentando cantar, se soubesse que o pregador pediria "bis" teria cantado todo o nosso repertório.

A música "É proibido pensar" de João Alexandre, representa bem o que vem acontecendo no meio evangélico; os modismos e heresias destruidoras de toda sorte invadiram nossos arraiais, e não existe quem se levante para defender a verdade de Deus, vivemos em uma geração morimbunda que não reage, que não se levanta em defesa do evangelho, que é relativista e vive a procura de sinais e mais sinais, mas não sabem discernir, quais sinais são provenientes de Deus e quais não são.

Quando o apóstolo Paulo fala sobre a ordem no culto, eu não consigo entender, se isso esta só registrado em minha bíblia, pois muitos cristãos tem ignorado esta orientação do apóstolo. Os dons foram para a edificação da igreja(1 Co 14:26), não é para ser usado como "status" ou "exibicionismo".

Fico perplexos ao ver, o evangelicalismo moderno obsecado pelo sobrenatural, mas se recusando a conhecer o poder sobrenatural da palavra escrita. Uma coisa é necessário destacar...

Não são as experiências que determinam nossa interpretação da Escritura Sagrada, mas é a palavra de Deus que determina se a nossa experiência é de fato proveniente de Deus e verdadeira. Alguns me acusarão de incredulidade, mas sem razão, creio na atualidade dos dons espirituais e creio em milagres sim, pois sei que Deus é Onipotente, mas devemos ser cautelosos pois os falsos mestres estão em nosso meio, são nossos "irmãos", são membros de nossas igrejas, não estou dizendo que são salvos, pois tais pessoas nunca foram regeneradas, mas são o "joio" no meio do trigo.

"Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodigios que se possível fora, enganariam até os escolhidos" (Mt 24:24)

"Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demónios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade."(Mt 7:15-23)


Eles são sutis e mentirosos e desenvolveram a tática do camaleão (assim como o diabo se transfigura em anjo de luz), estes são ótimos imitadores das coisas de Deus. Vem até nós " vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores."

Não consigo ver os apóstolos agindo assim, não vejo Paulo em sua pregação gritando ou abusando do dom de linguas e nem mesmo entrando neste movimento chamado "reteté"...

"Todavia eu antes quero falar na igreja cinco palavras na minha própria inteligência, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras em língua desconhecida. "1 Co 14:19

Alguns pregadores não tem consideração alguma pelos visitantes infieis, e acabam tendo comportamentos totalmente iracionais.

Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão porventura que estais loucos? 1 Co 14:23

Eu espero confiantemente no agir de Deus e a minha oração é que Deus nos conceda discernimento e sabedoria.Quanto a nós voltemos ao evangelho, ao que a escritura anuncia, para poder testar neste laboratório santo, aquilo que procede de Deus e aquilo que não procede, pois nem tudo o que é amarelo é ouro.

Soli deo glória

Aldair Ramos Rios

16:17

Somos "servos" e isso já é um privilégio



“Paulo, servo de Jesus Cristo...” Romanos 1:1


Na maioria de sua cartas, o apóstolo Paulo, logo de inicio, evoca seu oficio apostólico (1 Co 1:1/ 2 Co 1:1/ Gl 1:1/ Ef 1:1/ Cl 1:1/ 1 Tm 1:1/ 2 Tm 1:1) porém, começou Romanos identificando-se como “servo de Jesus Cristo”...
Nossa época tem sido marcada pela obsessão por titulos e posições...e a atitude do apóstolo em reconhecer a sua verdadeira posição( a de servo), vem de encontro com a nossa a necessidade, porque "servir", parece não mais ser o interesse de muitos cristãos, o verdadeiro interesse deles tem sido “se servirem"...

O Senhor Jesus, nosso maior exemplo, "não veio para ser servido, mas para servir..." (Mt 20:28) ele condenou o exibicionismo dos escribas e fariseus e deixou claro que aquele "...que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado." (Mt 23:1-12). Entre os discípulos não era diferente, parecia haver uma obsessão para saber qual deles era o maior (Mt 18:1-4/Mt 23:11/ Mc 9:34/ Lc 9:46)

“E houve, também, entre eles contenda, sobre qual deles parecia ser o maior.E ele lhes disse: Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que têm autoridade sobre eles são chamados benfeitores.Mas não sereis vós assim; antes, o maior entre vós seja como o menor; e quem governa, como quem serve.”Pois, qual é maior: quem está à mesa, ou quem serve? Porventura não é quem está à mesa? Eu, porém, entre vós, sou como aquele que serve.”(Lc 22:24-27)


Tem muito gente querendo “glória” e "reconhecimento" ...mas, o Rei da glória “...a si mesmo se esvaziou, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;”(Fl 2:7)
É importante fazer os seguintes questionamentos:
Quais são as nossas verdadeiras motivações; a glória de Deus ou nossa própria "glória"?

Uma coisa é certa e nunca vai mudar, Deus continuará sendo Senhor e nós seus servos. (Jo 13:16/Jo 15:20)


“Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura.”(Is 42:8)

Se voltarmos para a Escritura, veremos de que forma os homens de Deus eram chamados.

Abraão é chamado de servo


“E apareceu-lhe o Senhor, naquela mesma noite, e disse: Eu sou o Deus de Abraão, teu pai: não temas, porque eu sou contigo, e abençoar-te-ei, e multiplicarei a tua semente, por amor de Abraão, meu servo.”(Gn 26:24)

“Vós, descendência de Abraão, seu servo, vós, filhos de Jacó, seus escolhidos”(Sl 105:6)

“ Porque se lembrou da sua santa palavra, e de Abraão, seu servo.”(Sl 105:42)

Moisés é chamado de servo

“Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa.
Boca a boca falo com ele, e de vista, e não por figuras; pois ele vê a semelhança do Senhor; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moisés?”

“Assim morreu ali Moisés, servo do Senhor, na terra de Moab, conforme ao dito do Senhor.” (Dt 34:5)

Davi é chamado de servo


“Vai, e dize a meu servo, a Davi: Assim diz o Senhor: Edificar-me-ias tu casa, para minha habitação?” (2 Sm 7:5)

“Porque eu ampararei esta cidade, para a livrar, por amor de mim e por amor do meu servo Davi.” (Is 37:35)

Isaias é chamado de servo


“Então disse o Senhor: Assim como o meu servo Isaías andou três anos nu e descalço, por sinal e prodígio sobre o Egito e sobre a Etiópia,...”(Is 37:35)

Os profetas eram chamados de servos

“Certamente o Senhor JEOVÁ não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas.” (Am 3:7)

“Contudo, as minhas palavras e os meus estatutos, que eu mandei pelos profetas, meus servos, não alcançaram a vossos pais? E eles tornaram e disseram: Assim como o Senhor dos Exércitos fez tenção de nos tratar, segundo os nossos caminhos, e segundo as nossas obras, assim ele nos tratou.” (Zc 1:6)

Nunca podemos perder de vista, quem somos e pra que finalidade fomos criados, não temos nada de nós mesmos, nem a nossa própria vida, pois o ar que respiramos é concedido por Ele, todas as coisas estão sob o seu controle.
Creio que Deus pode nos fazer bem sucedidos em tudo, porém nunca deixaremos de ser seus “servos” e isso já é um grande privilégio. Não é mesmo?

Aldair Ramos Rios

Bibliografia

John Murray/ Romanos; Comentário Bíblico Fiel/ Editora Fiel
2 Hernandes Dias Lopes/ o propósito de Deus para os dons espirituais/ fonte: http://www.hernandesdiaslopes.com.br/?area=show®istro=296

08:15

Verdade e Pluralidade no Novo Testamento



Augustus Nicodemus

Com a chegada da nova hermenêutica na academia cristã, tornou-se corrente entre os estudiosos que não existe uma única leitura válida de qualquer passagem da Bíblia, mas muitas. Em decorrência, é dito que também não se pode fazer afirmações teológicas que sejam consideradas como verdadeiras e válidas, visto que toda declaração teológica é construída a partir de um método hermenêutico condicionado ao tempo e à cultura. Assim, seriam as elaborações doutrinárias tradicionais da Igreja Cristã. É necessário que se aceite a pluralidade das expressões teológicas sem se pretender impor um sistema teológico sobre os demais. A conclusão do argumento é que não se pode falar em verdade teológica, mas em pluralidade teológica. E a postura mais adequada a esta visão é a do inclusivismo eclético, que propõe a plena convivência tolerante entre as mais variadas correntes teológicas cristãs e evangélicas, ainda que se contradigam abertamente.

Creio que este assunto deve ser abordado a partir de nossas raízes apostólicas. Talvez se perguntarmos como os apóstolos e demais autores do Novo Testamento lidaram, em sua época, com interpretações divergentes da pessoa e da obra de Jesus Cristo encontremos uma postura para a verdade e a pluralidade que seja realmente cristã.

Uma leitura, ainda que superficial, dos escritos do Novo Testamento traz várias evidências de que seus autores criam que Deus havia revelado um corpo doutrinário definido o bastante para poder caracterizar como falsos e humanos ensinamentos que fossem divergentes. Mencionamos algumas delas.


1. O Surgimento dos Escritos do Novo Testamento

Boa parte da literatura neo-testamentária foi produzida em reação à invasão de falsos ensinamentos nas primeiras comunidades cristãs. Em resposta à propagação do erro, os apóstolos e seus associados produziram material que se destinava a expô-lo, refutá-lo e a instruir e fortalecer os crentes na verdade do Evangelho. O Evangelho de João, por exemplo, cujo propósito declarado é o de confirmar os leitores na fé em Jesus Cristo (João 20.30-31), deve ter sido provocado por alguma situação de cunho doutrinário que exigia tal confirmação. Várias cartas de Paulo também foram escritas em resposta ao desenvolvimento do erro doutrinário em comunidades por ele fundadas. A carta aos Gálatas foi escrita para combater um falso ensino divulgado por oponentes seus sobre as condições pelas quais os crentes gentios poderiam ser aceitos na Igreja. A carta aos Colossenses foi escrita para combater um movimento que havia se infiltrado na igreja de Colossos, que veio a ficar conhecido como a heresia de Colossos. A segunda carta de Paulo aos Tessalonicenses foi escrita, entre outras coisas, para corrigir um falso conceito escatológico relacionado com a parousia . Além de outros propósitos gerais, Paulo escreveu 1 Timóteo para instruir Timóteo quanto a uma heresia que havia se instalado na igreja de Éfeso, que provavelmente é o mesmo erro combatido em 2 Timóteo e Tito.

É evidente que Paulo não considerava a perspectiva dos judaizantes da Galácia, quanto à salvação pelas obras da lei, como sendo uma interpretação alternativa e válida. Também não considerava a teologia dos mestres de Colossos como um enriquecimento para a doutrina cristã, apresentando um outro ponto de vista válido sobre Cristo e sobre a vida cristã. Igualmente, não parece considerar que as doutrinas que estavam sendo disseminadas em Éfeso e Creta por falsos mestres eram maneiras diferentes, válidas e complementares de se ver o Cristianismo. Na realidade, o apóstolo considera estas formas diferentes de Cristianismo como falsas, perigosas e contrárias à verdade do Evangelho.


2. As Denúncias contra Falsos Mestres e Profetas

Não podemos negar que os escritores do Novo Testamento demonstram tolerância para com os crentes que por algum motivo abraçaram desvios práticos decorrentes de erros teológicos. O melhor exemplo disto é a primeira carta de Paulo aos Coríntios. Ao abordar as irregularidades daquela igreja, o apóstolo trata os seus membros de forma bastante tolerante, considerando-os como irmãos em Cristo e como igreja de Deus, muito embora tenha entregado um incestuoso a Satanás e declarado dignos de castigo os que participassem erroneamente da Ceia (1 Coríntios 11). Em oposição à tolerância para com os novos convertidos e desavisados, os escritores do Novo Testamento demonstram uma profunda resistência ao erro teológico divulgado por mestres. Não podiam ficar silenciosos diante do crescimento dos mesmos nas comunidades cristãs. Assim, tomaram da pena para escrever, denunciando, alertando e encorajando. O tom dos autores bíblicos quanto tratam de desvios do corpo doutrinário recebido é de urgência, preocupação e de alerta. Não há concessão, tolerância ou complacência. A diferença entre as duas atitudes é que, quando se tratava de erros práticos cometidos por crentes, os escritores do Novo Testamento adotam uma abordagem tolerante e pastoral. Mas, quando se tratava de ensinamentos de mestres que se afastavam do padrão doutrinário recebido, a atitude passava a ser de inflexibilidade. Os apóstolos tratavam com paciência desvios práticos no culto e mau uso dos dons espirituais (o caso de Corinto), mas rejeitavam veementemente o que determinados mestres ensinavam, como a salvação pelas obras da Lei (Gálatas), negação da ressurreição dos mortos (1 Coríntios 15), ensinamentos estranhos sobre a pessoa de Cristo (Colossenses e 1 João), antinomianismo ou barateamento da graça (2 Pedro e Judas).


3. As Exortações para que a Sã Doutrina Seja Preservada

O apóstolo Paulo faz referência à "sã doutrina" nas Pastorais, uma clara referência a este corpo doutrinário recebido pela Igreja, o qual funciona como paradigma do trabalho pastoral e das questões doutrinárias, em oposição aos falsos ensinamentos (1Timóteo 1.10; 2 Timóteo 4.3; Tito 2.1; cf. "boa doutrina", 1 Timóteo 4.6; "sãs palavras", 1 Timóteo 6.3; 2 Timóteo 1.13). O emprego do termo doutrina , portanto, aponta para a consciência dos autores do Novo Testamento de que havia um conjunto de verdades reveladas que formavam um conjunto definido, que teve seu início no ministério de Cristo e que foi confiado à Igreja mediante os apóstolos. Doutrina é verdade transmitida de forma autoritativa e recebida em confiança.

Os escritores do Novo Testamento também percebiam que a Igreja não somente era a depositária da revelação de Deus, a sã doutrina, mas também a responsável por preservá-la. Paulo considera a Igreja como sendo "coluna e baluarte da verdade" (1 Timóteo 3.15). A tarefa de guardar a verdade era dos cristãos em geral, como Judas escreve " Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos " (Judas 3). Paulo determina aos crentes de Filipos que "preservem" a palavra da vida, uma referência ao ensinamento que lhes havia transmitido (Filipenses 2.16). Porém, era primeiramente um encargo dos pastores e presbíteros fiéis, cuja responsabilidade seria de defender a verdade e combater o erro.

Assim, além de denunciar os falsos mestres e suas idéias, os escritores do Novo Testamento também ensinam que os cristãos – especialmente os pastores e presbíteros – deveriam zelar e preservar o conjunto de verdades reveladas que eles haviam recebido através dos apóstolos, evitando que as mesmas fossem corrompidas pelos erros velhos e novos. Muito embora usado de forma pejorativa em alguns círculos, o termo "guardiões da sã doutrina" cabe perfeitamente neste contexto para definir aquilo que os escritores inspirados desejavam que os cristãos fossem.


4. O Conceito de Apostasia

Uma outra evidência de que os autores do Novo Testamento trabalhavam com o conceito de um corpo doutrinário definido é a consciência que demonstram da realidade da apostasia . Apostatar, no Novo Testamento, é afastar-se de Deus como resultado de uma mudança de pensamento, e levantar-se em rebelião aberta contra Ele e contra a sua verdade revelada, com o objetivo de pervertê-la. Os escritores do Novo Testamento continuamente advertem os crentes quanto aos perigos da apostasia. A presença do conceito de apostasia nos seus escritos por si só depõe eloqüentemente a favor da idéia que os escritores do Novo Testamento operavam a partir da convicção de que havia verdades fixas, desviando-se das quais as pessoas colocavam em perigo sua própria alma.

Em suas cartas, Paulo freqüentemente trata do assunto. Aos Tessalonicenses, por exemplo, Paulo relembra o surgimento da apostasia, substanciada na aparição do anticristo, precedendo o fim (2 Tessalonicenses 2.3). O apóstolo descreve este evento futuro em termos de um desvio e rebelião contra a verdade. Note as palavras e expressões destacadas: "Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira , e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro , para darem crédito à mentira " (2 Tessalonicenses 2.9-11).

O conceito de apostasia ocorre também em outros autores. A carta aos Hebreus parece ter sido escrita exatamente para impedir a apostasia de seus destinatários. Tiago também menciona cristãos que se desviaram da verdade e que correm o risco da morte da alma (Tiago 5.19). João faz uma distinção entre o pecado não para a morte e o pecado para a morte (1 João 5.16-17), que consistia no abandono da doutrina apostólica para seguir o ensinamento dos mestres gnósticos que estavam se infiltrando nas comunidades da Ásia (1 João 2.18-26; 4.1-6).

Os exemplos acima demonstram que os autores bíblicos trabalhavam a partir de um sistema doutrinário referencial, que permitia advertir contra a apostasia. Por definição, só pode haver apostasia se existir um referencial doutrinário, pelo qual se possa aferir se há desvio ou rebelião. Se não havia um sistema doutrinário revelado, definido e autoritativo nos tempos da Igreja apostólica, também não poderia haver desvios, deserções, rebeliões. Tais casos seriam interpretados somente como variações e complementações do ensinamento de Jesus e dos apóstolos.


5. A interpretação das Escrituras do Antigo Testamento

Mencionaremos brevemente ainda um fator, que é o uso que os escritores do Novo Testamento fazem das Escrituras do Antigo Testamento. Eles consideravam o Antigo Testamento como sendo a inspirada Palavra de Deus e usam-na abundantemente em seus escritos, via de regra, com o propósito de fundamentar os seus ensinamentos.

Dois pontos são relevantes aqui. O primeiro deles é que os escritores do Novo Testamento consideravam a sua interpretação do Antigo Testamento correta e a dos judeus errada. Isto teve início com o próprio Jesus, que corrigiu a interpretação tradicional da Lei feita pelos fariseus (Mateus 5.21-22, 27-28, 33-34, 38-39, 43-44), denunciou a interpretação deles como sendo uma distorção da Palavra de Deus (Mateus 15.1-9), acusou-os de desconhecer as Escrituras (Mateus 15.29) e de torcer o sentido delas em benefício próprio (Mateus 23.4, 16-22). O segundo ponto é que havia vários outros grupos e indivíduos interpretando o Antigo Testamento na época em que o Novo Testamento foi formado. Os essênios tinham elaborado sua própria interpretação da Lei e dos Profetas e escrito diversos comentários sobre livros do Antigo Testamento. Havia outros judeus que interpretavam o Antigo Testamento a partir de suas convicções apocalípticas, que incluíam pessimismo quanto ao mundo presente, o irromper súbito, catastrófico e inesperado do Reino de Deus. Eles mesmos produziram literatura que era conhecida na época em que o Novo Testamento foi escrito, como por exemplo Enoque , Assunção de Moisés , 4 Esdras . Os rabinos também tinham seu próprio sistema interpretativo substanciado na tradição oral, que remontava ao tempo de Esdras. Filo de Alexandria, anos antes dos apóstolos, havia escrito comentários sobre o Antigo Testamento, especialmente sobre Gênesis, usando um sistema de interpretação definitivamente alegórico e comprometido com o platonismo. Todas estas interpretações eram conhecidas e correntes no mundo em que os primeiros cristãos viveram. Entretanto, se distanciaram de todas elas, por considerarem-nas como interpretações ilegítimas das Escrituras, visto que não partiam da chave hermenêutica que destrancava o sentido delas, que era Cristo.


Concluindo, transparece das evidências acima que não faz sentido dizer que os apóstolos e demais autores do Novo Testamento eram pluralistas ou inclusivistas, mesmo no sentido mais brando e suave dos termos. Eles não entendiam que as teologias dos judaizantes, gnósticos, nicolaitas, espirituais, latoeiros, etc., eram interpretações complementares e válidas da pessoa e da obra de Cristo. Combateram-nas veementemente. Tal abordagem ao conceito de verdade e pluralidade deveria servir de modelo para uma postura cristã moderna quanto à diversidade teológica que grassa em nossa academia.

07:25

O Jardineiro Celestial


James Meikle
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1

A sabedoria do jardineiro é vista no cultivo de suas plantas; algumas ele
coloca no sol, outras na sombra; algumas num solo rico e fértil, outras num
terreno árido e estéril; e assim, a habilidade do jardineiro é evidente, pois cada
uma floresce melhor em seu próprio solo. Então, visto que a Sabedoria
Infinita designou uma grande parte da minha vida à tristeza e solidão (não que
eu me queixe) – percebo que não poderia crescer melhor em outro solo.
Atrás do alto muro da adversidade, e na sombra da aflição, os santos
produzirão frutos de humildade, abnegação, resignação e paciência. Essas
graças não podem crescer tão bem nos raios solares da prosperidade.
Ora, se outro solo fosse mais apropriado para o meu crescimento
espiritual, o Jardineiro Celestial já teria me transplantado para lá.
Isso não importa, conquanto eu cresça na sombra; sim, se o Sol da
justiça brilhar em minha alma, e fizer cada graça florescer. Ele sabe mais do
que eu mesmo qual é a melhor porção para mim. Ao escolhê-la, deveria antes
admirar Sua sabedoria, do que reclamar de Sua conduta; e assim o faço,
quando considero que num solo estéril, e numa sombra solitária, Ele pode
cultivar plantas que se aquecerão nos raios eternos de glória!

Fonte: Converse with the Unseen World, James Meikle.2
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04:48

Desconstruindo mitos


Franklin Ferreira

Grande parte da cristandade celebra os 500 anos do nascimento de João Calvino neste ano. Infelizmente, as imagens populares que se tem do reformador francês são muitas vezes distorcidas, cercadas por mitos que não representam o verdadeiro Calvino e seu decisivo ministério de quase 25 anos na cidade suíça de Genebra. Na tabela abaixo, oferecemos ao leitor um rápido panorama dos principais mitos construídos em torno de Calvino, e o quadro real que emerge do estudo sério de sua vida e influência na igreja e sociedade ocidental.

Mito: Calvino inventou a doutrina da predestinação.
Fato: Entre outros, Agostinho, Anselmo, Aquino, Lutero e Zwinglio ensinaram e escreveram sobre a doutrina da predestinação antes de Calvino, enfatizando a livre graça de Deus triunfando sobre a miséria e escravidão ao pecado.

Mito: A doutrina da predestinação é central na teologia de Calvino.
Fato: Em seus escritos, especialmente nos comentários, Calvino trata do tópico quando o texto bíblico exige. E como alguns eruditos têm sugerido, o tema central de sua teologia parece ser a união mística do fiel com Cristo.

Mito: Calvino não tinha interesse em missões.
Fato: Entre 1555 e 1562 um total de 118 missionários foram enviados de Genebra para o exterior – um número muito superior ao de muitas agências missionárias da atualidade. E os primeiros mártires da fé evangélica nas Américas foram enviados por Calvino ao Brasil para encontrar um lugar de refúgio para os reformados perseguidos na Europa e evangelizar os índios.

Mito: A crença na predestinação desestimula a oração.
Fato: Calvino escreveu mais sobre a oração do que a predestinação nas Institutas, enfatizando a oração como um meio de graça por meio do qual a vontade de Deus é realizada e suas bênçãos são derramadas.

Mito:Calvino é o pai do capitalismo.
Fato:As forças que moldaram o capitalismo moderno já estavam presentes na cultura ocidental cerca de 100 anos antes da reforma. O que Calvino valorizou em seus escritos foi o estudo, o trabalho, a frugalidade, a disciplina e a vocação como meios de superar a pobreza. Ele não condenou a obtenção de lucros advindos do trabalho honesto.

Mito: Calvino foi o ditador de Genebra.
Fato: Ele tinha pouca influência sobre as decisões acerca do ordenamento civil da cidade e não tinha direito de voto em decisões políticas ou eclesiásticas no conselho municipal. Sua influência era persuasiva, por meio de seus sermões e escritos. Em países influenciados pelo pensamento calvinista não surgiram ditadores, nem nas esferas políticas muito menos nas eclesiásticas.

Mito:Calvino mandou matar Miguel Serveto.
Fato: Serveto foi executado por ordem do conselho municipal de Genebra por heresia, especialmente por negar a doutrina da Trindade. Ele havia sido condenado pelas mesmas razões por dois tribunais católicos, só escapando da morte por ter fugido da França. Inexplicavelmente ele foi para Genebra. No fim, todos os reformadores europeus apoiaram unanimemente a decisão do conselho de Genebra.

Mito: Os ensinos de Calvino são social e politicamente alienantes.

Fato: Pode-se ver a influência do pensamento de Calvino na revolução puritana de 1641 e na primeira deposição e execução de um rei tirano em 1649, na Inglaterra; no surgimento do governo republicano (com a divisão e alternância do poder, além de ênfase no pacto social); na revolução americana de 1776; na libertação dos escravos e na defesa da liberdade de imprensa.

Mito: Calvino não tinha interesse em educação.
Fato: Calvino não só inaugurou uma das primeiras escolas primárias da Europa como ajudou a fundar a Universidade de Genebra, em 1559. Algumas das mais importantes universidades do ocidente, como Harvard, Yale e Princeton foram fundadas por influência dos conceitos educacionais do reformador francês. A imagem permanente associada às igrejas reformadas é que estas sempre têm uma escola ao lado.

Mito:Os ensinos de Calvino não são bíblicos.

Fato: Calvino enfatizou fortemente a autoridade e prioridade das Escrituras e praticamente inaugurou o método histórico-gramatical de interpretação bíblica. Escreveu comentários sobre quase todo o Novo Testamento e grande parte do Antigo Testamento, além de milhares de sermões. E sua grande obra foi as Institutas da Religião Cristã, que seria “uma chave abrindo caminho para todos os filhos de Deus num entendimento bom e correto das Escrituras Sagradas”. O reformador francês lutou para que toda a sua cosmovisão estivesse debaixo da autoridade da Bíblia.


Não quero tratar Calvino de forma não-crítica ou iconográfica. Ele era consciente de suas fraquezas e pecados, e suas muitas orações preservadas dão testemunho de sua humildade e dependência da graça abundante de Deus em Jesus Cristo. O que almejo é levar o amado leitor a deixar de lado as caricaturas e ir direto à fonte, estudando e meditando nas obras de Calvino, reconhecendo-o e levando-o a sério como mestre da igreja (praeceptor eccleisiae). Os benefícios de tal estudo serão incalculáveis para sua vida e para aqueles ao seu redor.

Agradeço aos amigos Augustus Nicodemus e Solano Portela por sugestões acrescentadas a esta tabela.