17:32

REFORMA E REAVIVAMENTO


A Igreja Evangélica Brasileira precisa de uma nova Reforma. Muitos daqueles que se dizem protestantes já não protestam mais. Muitos daqueles que se autodenominam evangélicos têm transigido com a verdade e caído na malha sedutora do pragmatismo e das falsas doutrinas. Doutrinas estranhas têm encontrado guarida no arraial evangélico. Novidades forjadas no laboratório do engano têm sido acolhidas com entusiasmo por muitos crentes. Floresce em nossa Pátria uma igreja que tem extensão, mas não profundidade. Cresce em números, mas não em maturidade. Tem influência política, mas não autoridade moral. Faz propaganda de um pretenso poder, mas transige com o pecado.

A Igreja Evangélica Brasileira precisa voltar às Escrituras. Muitos púlpitos estão sonegando aos crentes o pão verdadeiro e dando ao povo um caldo ralo e venenoso. Há aqueles que pregam o que o povo quer ouvir e não o que o povo precisa ouvir. Pregam para entreter os bodes e não para alimentar as ovelhas. Pregam para arrancar aplauso dos homens e não para levá-los ao arrependimento. Pregam prosperidade e não salvação. Pregam curas e milagres e não novo nascimento. Pregam auto-ajuda e não a ajuda do alto. Há muitas igrejas fracas e enfermas por estarem submetidas a um cardápio insuficiente e deficiente. A fraqueza e a doença começam pela boca. Há morte na panela. O veneno mortífero das heresias perniciosas destila em muitas cátedras teológicas. Muitos púlpitos espalham esse veneno e muitos crentes se intoxicam com ele. Precisamos colocar a farinha da verdade nessa panela, a fim de que o povo tenha pão com fartura na Casa do Pão.

A Igreja Evangélica Brasileira precisa voltar às grandes doutrinas da Reforma. Precisamos reafirmar que a Escritura é verdadeira, infalível, inerrante e suficiente e não podemos acrescentar à sua mensagem as revelações, sonhos e visões que emanam de corações errantes. Precisamos reafirmar que a fé em Cristo é suficiente para a nossa salvação e não podemos acrescentar a ela as obras, os méritos nem o misticismo variegado tão incentivado em tantos arraiais. Precisamos reafirmar que a graça de Deus é a única base sobre a qual recebemos a nossa salvação. O homem não merece coisa alguma a não ser o juízo divino, mas de forma benevolente, Deus suspende o castigo e nos oferece seu favor imerecido. Precisamos reafirmar que não há outro nome dado entre os homens pelo qual importa que sejamos salvos, além do nome de Cristo Jesus. Precisamos reafirmar que a glória pertence a Deus e não ao homem, igreja ou instituição humana.

A Igreja Evangélica Brasileira precisa não apenas de Reforma, mas, também, de Reavivamento. Não basta ter doutrina certa, é preciso ter vida certa. Não basta ter apenas luz na mente, é preciso ter fogo no coração. Não basta apenas conhecimento, é preciso ter fervor espiritual. Não basta apenas conhecer doutrina, é preciso ser transformado e impactado por essa doutrina. A igreja de Éfeso tinha doutrina, mas lhe faltava amor. A igreja de Esmirna tinha amor, mas lhe faltava doutrina. Ambas foram repreendidas por Cristo. Precisamos de doutrina e amor, reforma e reavivamento. Não glorificamos a Deus com o vazio da nossa mente e a plenitude do nosso coração nem glorificamos a Deus com a plenitude da nossa mente e o vazio do nosso coração. Deus não é exaltado quando deixamos de conhecer a verdade nem Deus é glorificado quando deixamos de nos deleitar nessa verdade. Razão e emoção não são coisas mutuamente exclusivas. Elas se completam. A emoção que não provém de uma mente iluminada pela verdade é vazia, rasa e inconsistente. Uma mente cheia do conhecimento da verdade, todavia, que não exulta de alegria e santo fervor está, também, em total desacordo com a vontade divina. Oh! Que Deus nos desperte para o conhecermos verdadeiramente! Oh! Que Deus nos encha daquela alegria indizível e cheia de glória, a fim de que nos deleitemos nele e passemos a viver tão somente para a sua glória!


Rev. Hernandes Dias Lopes

17:14

A Fé que Salva

Postado por Solano Portela

O movimento histórico conhecido como a Reforma do Século 16 ocorreu há quase 500 anos, iniciado quando Martinho Lutero, em 31 de outubro de 1517, pregou 95 teses, ou declarações, na porta da catedral de Wittenberg, que pastoreava. Lutero foi um homem que atravessou uma profunda experiência de conversão, pela qual teve os olhos abertos à simplicidade dos ensinamentos contidos na Bíblia. Comparando esses ensinamentos com o que era pregado e praticado na igreja dos seus dias, Lutero encontrou diferenças marcantes. Ele verificou como, ao longo do tempo, distorções haviam sido introduzidas, de tal forma que o povo era conservado em ignorância espiritual, privado das verdades reveladas na Palavra de Deus que podem levar à salvação. Os reformadores (Lutero e os que se seguiram a ele) procuraram resgatar a mensagem que salva e que pode levar os homens de volta ao seu destino original, reconciliando pecadores com o Deus santo que rege os céus e a terra.

Os historiadores têm, normalmente, identificado quatro pilares da Reforma do Século 16. Quatro temas principais que dominaram os escritos e ensinamentos dos reformadores, por serem essenciais à propagação da sã doutrina. Esses “pilares” são normalmente identificados por palavras latinas, não tão difíceis de compreender: Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide e Solus Christus. Vamos identificar esses significados e ver a relação deles, um para com os outros, bem como a razão da Reforma ter se concentrado nesses temas.

Sola Scriptura, significando que somente as Escrituras providenciam a fonte do nosso conhecimento religioso, das coisas espirituais cujo conhecimento é essencial à compreensão da vida. Essa era uma ênfase necessária, pois a igreja havia incorporado muitas doutrinas que não procediam da Bíblia, mas meramente de tradições humanas. Questões tais como culto às imagens, a existência do purgatório, etc., faziam parte das doutrinas ensinadas ao povo. Os reformadores, investigaram e deram um sonoro “não” a esse ensino e à consideração da “tradição” como fonte de autoridade igual ou superior à Palavra de Deus. Eles consideraram, corretamente, que isso era mortal para a saúde espiritual de qualquer um e da própria igreja.

Sola Gratia, significando que somente a Graça de Deus é a origem da nossa salvação. Na época da reforma, e mesmo nos nossos dias a tendência humana é a de exaltar a habilidade humana de salvar-se a si mesmo. Os reformadores apontaram que a Bíblia indica sem sombra de dúvidas que somente a graça de Deus, o favor não merecido da parte dele, origina um meio de salvação. Estamos todos mortos em delitos e pecados e, conseqüentemente, nada podemos fazer para nossa própria salvação. A iniciativa, de providenciar um plano de salvação, é de Deus e dele procedem todas as providências, nesse sentido.

Sola Fide, significando que somente a Fé é o meio pelo qual nos apropriamos da salvação efetivada por Cristo Jesus para o seu povo. Se a iniciativa da salvação é a graça de Deus, a Fé representa a resposta a essa iniciativa. Essa ênfase, extraída da Bíblia, era muito necessária, pois enfatizava-se as ações humanas como forma de se adquirir a salvação. Vendiam-se indulgências – pedaços de papel que, segundo os vendedores, representavam uma espécie de passaporte para o céu. Quanto mais se contribuía, mais certeza se obtinha, diziam eles, do perdão de pecados – do próprio comprador ou de parentes ou amigos que desejava beneficiar. Lutero e os demais reformadores, não encontraram qualquer base para esses ensinamentos nas Escrituras. Eles identificaram a Fé como sendo a resposta humana, provocada pelo toque regenerador do Espírito Santo de Deus, no processo de salvação.

Solus Christus, significando que somente Cristo é a base da nossa salvação. Somos salvos somente pelos méritos e pelo sacrifício de Cristo e não com base em qualquer outra situação ou ação humana. Cristo é o nosso único intermediário – assim a Bíblia especifica – e isso contrasta com tudo o que se ensinava, e ainda se ensina, relacionado com a intermediação de Maria e de outros “santos”.

Além dos “quatro pilares”, acima explicados, adiciona-se normalmente mais um: Soli Deo Gloria– Glória a Deus somente, significando o propósito da existência de nossas pessoas e de tudo o que temos ao nosso redor. Essa ênfase, igualmente bíblica, foi surgindo com o trabalho dos reformadores que se seguiram a Lutero, especialmente com o de João Calvino, que ensinou a doutrina da vocação – o chamado de Deus para que nos envolvamos em todos os aspectos da vida, sempre centralizando nossas ações na glória que é devida a Deus. Deus fez todas as coisas para sua própria glória e nos enquadramos em nossa finalidade e encontramos a felicidade quando abraçamos esse ensino em nossas vidas.

No meio desses pontos cardeais, dessas ênfases centrais nas doutrinas bíblicas, é interessante notarmos que Martinho Lutero considerava a questão da fé: Sola Fide – Somente a Fé, como sendo aquela ênfase crucial, que devia ser propagada e defendida a qualquer custo. Obviamente que, para ele, todas as demais eram importantes, mas com a questão da fé – como único e exclusivo meio pelo qual nos apropriamos da salvação – ele tinha um cuidado todo especial. Possivelmente isso ocorreu porque foi estudando a doutrina da fé que ele foi atingido pela contundência da mensagem divina de salvação. Lutero, atribulado porque estava acostumado a ouvir a pregação das indulgências, ou a validade de relíquias e amuletos, como meios de se tornar agradável a Deus, identificou-se como “um pecador perante Deus com a consciência atribulada”. Ele estudava a carta de Paulo aos Romanos, mais especificamente o capítulo 3, quando se deparou com a declaração: “o justo viverá pela fé”, no verso 28. Lutero escreveu o seguinte: “...então eu compreendi que a justiça de Deus é o fundamento de direito pelo qual, pela graça e pela misericórdia, ele nos justifica através da fé. Imediatamente eu me senti como se tivesse atravessado uma porta aberta e penetrado no paraíso”.

Assim, a justificação pela fé passou a ser uma das doutrinas centrais dos que abraçaram a fé reformada, que ficaram historicamente conhecidos como “protestantes”. Lutero escreveu, ainda: “esta doutrina é a principal e a angular. Somente ela gera, nutre, constrói, preserva e defende a igreja de Deus; sem ela a igreja de Deus não sobreviverá por uma hora”. O ensinamento bíblico, principalmente contido no terceiro capítulo de Romanos, sobre a justificação pela fé, não significa que nós somos considerados justos com base na fé. A base de nossa justificação é Cristo e o seu sacrifício na cruz, com a subseqüente vitória da morte, obtida em sua ressurreição. Somos salvos, portanto, pela Graça de Deus, por meio da fé, com base no trabalho de Cristo. Explicando o que é justificação, João Calvino nos ensina que ela “consiste no perdão dos pecados e na imputação da justiça de Cristo”. Uma das expressões que ele utiliza, é a de que os cristãos são “inseridos na justiça de Cristo”. Ou seja, não temos justiça própria, mas recebemos a justiça de Cristo sobre nós.

Na carta de Paulo aos Efésios (capítulo 2, versos 8 a 10), lemos: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. A fé, aqui mencionada, é essa fé que salva. Aprendemos, nestes versos, que somos salvos somente pela graça proveniente de um Deus soberano. A fé, é o meio – “mediante a fé”. Mas note que não temos qualquer razão ou motivo de nos orgulharmos de termos exercitados fé. Nem temos qualquer prerrogativa ou direitos perante Deus. Somente exercemos a fé, porque ela é dom de Deus. Ele é que nos concede esse meio de resposta ao seu toque salvador. Aprendemos, também, que a salvação não vem das obras – não podemos nos orgulhar, ou nos gloriar, das nossas ações, pois elas não levam à salvação. No entanto, somos instruídos sobre o verdadeiro relacionamento entre graça, fé e obras (ações). Não existe graça verdadeira, sem a respectiva fé que salva. Não existe fé salvadora, sem as evidências dessa salvação, dessa transformação de vida – as obras, as ações de mérito, representadas pelo cumprimento dos mandamentos e das diretrizes divinas contidas nas Escrituras e que existem “para que andemos nelas”.

Essa é a fé que salva. A fé que não é simplesmente uma manifestação mística em algumas coisas. Muitos têm fé sincera em objetos que não podem salvar – em ídolos, em ritos de umbanda, em espíritos desencarnados. Mesmo em sinceridade, essa fé leva à perdição. Somente a fé em Cristo Jesus é fé salvadora (Atos 4.12: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”). A fé que salva é conseqüência natural da graça. A fé que salva não é incompatível com as obras, mas as obras são uma conseqüência necessária a essa fé. Há quase 500 anos os reformadores entenderam isso e resgataram essa doutrina que não estava sendo ensinada e se encontrava velada debaixo do entulho de tradição humana que a havia soterrado. Você entende que essa fé é o único meio para a sua salvação?

Fonte:http://tempora-mores.blogspot.com

10:34

Os Paradoxos de Cristo*

Gregório Naziazeno†

Cristo sentiu fome, como homem, e satisfez no homem a sua fome de Deus.
Que contraste – sentiu fome e era o Pão da Vida!
Cristo padeceu sede como homem e, contudo, havia dito: “O que tenha sede,
venha a mim e beba!”
Sentiu-se cansado algumas vezes e, entretanto, é nosso descanso.
Pagou tributo como vassalo, e era o Rei dos reis.
Foi chamado de diabo, e todavia expulsou os demônios.
Orou, e é o que escuta as nossas orações.
Chorou, e no entanto é o que enxuga as nossas lágrimas.
Foi vendido por trinta moedas de prata e, a despeito desse ignominioso fato, é
o resgate do mundo.
Emudeceu como uma ovelha, e todavia é a Palavra Eterna.
Não teve lugar próprio onde reclinar a sua cabeça, e contudo pertencem-lhe
todas as possessões terrenas.
Todos o abandonaram; ficou sozinho, e malgrado dispunha na Eternidade de
incontáveis legiões de anjos prontos a cumprir as suas ordens.
Foi rejeitado e crucificado pelos homens, embora “tivesse vindo para o que
era seu!” (Jo 1.11).‡

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* Paradoxos não é uma expressão feliz, já que, sendo Cristo “a Verdade” (Jo 14.6), nEle não pode haver
contra-sensos, contradições ou antinomias, ainda que aparentes, que é como os dicionários definem
aquela palavra. Mesmo assim, entendemos ser o presente texto útil e proveitoso à meditação e devoção do
crente piedoso. (Nota do Monergismo - Vanderson de Moura)
† Gregório Naziazeno (330 - 390 d.C.) foi bispo de Constantinopla e um dos 33 agraciados com o título
de Doutor da Igreja, os quais influenciaram grandemente o pensamento teológico na Idade Média.
‡ Texto extraído da contracapa da revista Lições Bíblicas, CPAD. 3.º trimestre de 1989.

Fonte: http://www.monergismo.com/textos/meditacoes/Paradoxos-Cristo_G-Naziazeno.pdf

07:19

As confissões de fé sobre as Sagradas Escrituras


SEGUNDA CONFISSÃO HELVÉTICA

1. Da Sagrada Escritura como a verdadeira Palavra de Deus
Escritura Canônica. Cremos e confessamos que as Escrituras Canônicas dos santos
profetas e apóstolos de ambos os Testamentos são a verdadeira Palavra de Deus, e têm
suficiente autoridade de si mesmas e não dos homens. O próprio Deus falou aos patriarcas,
aos profetas e aos apóstolos, e ainda nos fala a nós pelas Santas Escrituras.
E nesta Escritura Sagrada a Igreja Universal de Cristo tem a mais completa exposição de
tudo o que se refere à fé salvadora e à norma de uma vida aceitável a Deus; e a esse respeito
é expressamente ordenado por Deus que a ela nada se acrescente ou dela nada se retire.
A Escritura ensina plenamente toda a piedade. Julgamos, portanto, que destas Escrituras
devem derivar-se a verdadeira sabedoria e piedade, a reforma e o governo das igrejas,
também a instrução em todos os deveres da piedade; enfim, a confirmação de doutrinas e a
refutação de todos os erros, assim como todas as exortações segundo a palavra do apóstolo:
‘Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão”, etc. (II Tim
3.16-17). E ainda: “Escrevo-te estas cousas”, diz o apóstolo a Timóteo, “para que fiques
ciente de como se deve proceder na casa de Deus”, etc. (I Tim 3.14-15).
A Escritura é a Palavra de Deus. O mesmo apóstolo diz aos tessalonissenses: “Tendo vós
recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes, não como palavra de
homens, e, sim, como, em verdade é, a palavra de Deus”, etc. (I Tes 2.13). E o Senhor disse
no Evangelho: “Não sois vós os que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em
vós” (Mat 10.20); portanto, “quem vos der ouvidos, ouve-me a mim; e, quem vos rejeitar, a
mim me rejeita; quem, porém, me rejeitar, rejeita aquele que me enviou”, (Mat 10.40; Luc
10.16; João 13.20).
A pregação da Palavra de Deus é a Palavra de Deus. Portanto, quando esta Palavra de
Deus é agora anunciada na Igreja por pregadores legitimamente chamados, cremos que a
própria Palavra de Deus é anunciada e recebida pelos fiéis; e que nenhuma outra Palavra de
Deus pode ser inventada, ou esperada do céu: e que a própria Palavra anunciada é que deve
ser levada em conta e não o ministro que a anuncia, pois, mesmo que este seja mau e
pecador, contudo a Palavra de Deus permanece boa e verdadeira.
Nem pensamos que a pregação exterior deve ser considerada infrutífera pelo fato de a
instrução na verdadeira religião depender da iluminação interior do Espírito; porque está
escrito: “Não ensinará jamais cada um ao seu próximo... porque todos me conhecerão” (Jer
31.34), e “nem o que planta é alguma cousa, nem o que rega, mas Deus que dá o
crescimento”, (I Cor 3.7). Pois, ainda que ninguém possa vir a Cristo, se não for levado
pelo Pai (cf. João 6.44), se não for interiormente iluminado pelo Espírito Santo, sabemos
contudo que é da vontade de Deus que sua palavra seja pregada também externamente.

Deus poderia, na verdade, pelo seu Santo Espírito, ou diretamente pelo ministério do anjo,
sem o ministério de São Pedro, ter ensinado a Cornélio (cf. At 10.1 ss); não obstante, ele o
envia a São Pedro, a respeito de quem o anjo diz: “Ele te dirá o que deves fazer”. (cf. At
11.14).
A iluminação interior não elimina a pregação exterior. Aquele que ilumina interiormente
dando aos homens o Espírito Santo é o mesmo que deu aos discípulos este mandamento:
“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16.5). E assim, em
Filipos, São Paulo pregou a Palavra externamente a Lídia, vendedora de púrpura; mas o
Senhor, internamente, abriu o coração da mulher (At 16.14). E o mesmo São Paulo, numa
bela gradação, em Rom 10.17, chega, afinal, a esta conclusão: “E assim, a fé vem pela
pregação e a pregação pela palavra de Cristo”.
Reconhecemos, entretanto, que Deus pode iluminar quem ele quiser e quando quiser,
mesmo sem ministério externo, pois isso está em seu poder; mas aqui falamos da maneira
usual de instruir os homens, que nos foi comunicado por Deus, tanto por mandamento
como pelo exemplo.
Heresias. Detestamos, portanto, todas as heresias de Artêmon, dos maniqueus, dos
valentinianos, de Cerdon e dos marcionitas, os quais negaram que as Escrituras procediam
do Espírito Santo; ou não aceitaram algumas partes delas, ou as interpelaram e
corromperam.
Apócrifos. Contudo, não dissimulamos o fato de que certos livros do Velho Testamento
foram chamados Apócrifos pelos antigos autores, e Eclesiásticos por outros, porquanto
alguns admitiam que fossem lidos nas igrejas, não, porém, invocados para confirmar a
autoridade da fé. Assim também Santo Agostinho, em sua De Civitate Dei, livro 18, cap.
38, observa que “nos livros dos Reis, nomes e livros de certos profetas são citados”; mas
acrescenta que “eles não se encontram no Cânon”; e que “os livros que temos são
suficientes para a piedade”.

2. Da interpretação das Escrituras Sagradas;
e dos santos padres, dos concílios e das tradições
A verdadeira interpretação da Escritura. O Apóstolo São Pedro disse que as Escrituras
Sagradas não são de interpretação particular (II Ped 1.20). Assim não aprovamos quaisquer
interpretações; pelo que nem reconhecemos como a verdadeira ou genuína interpretação
das Escrituras a que se chama simplesmente a opinião da Igreja Romana, isto é, a que os
defensores da Igreja Romana claramente sustentam que deve ser imposta à aceitação de
todos. Mas reconhecemos como ortodoxa e genuína a interpretação da Escritura que é
retirada das próprias Escrituras segundo o gênio da língua em que elas foram escritas,
segundo as circunstâncias em que foram registradas, e pela comparação de muitíssimas
passagens semelhantes e diferentes, e que concorda com a regra de fé e amor, e mais
contribui para a glória e a salvação dos homens.

Interpretação dos santos padres. Por isso, não desprezamos as interpretações dos santos
padres gregos e latinos, nem rejeitamos as suas discussões e os seus tratados sobre assuntos
sagrados, sempre que concordem com as Escrituras; mas respeitosamente divergimos deles,
quando neles encontramos coisas estranhas às Escrituras ou contrárias a elas. E não
julgamos fazer-lhes qualquer injustiça nesta questão, visto que todos eles, unanimemente,
não procuram igualar seus escritos com as Escrituras Canônicas, mas nos mandam verificar
até onde eles concordam com elas ou delas discordam, aceitando o que está de acordo com
elas e rejeitando o que está em desacordo.
Concílios. Nessa mesma ordem colocam-se também as definições e cânones dos concílios.
Por esse motivo, nas controvérsias religiosas não aceitamos como imposição as simples
opiniões dos Santos Padres ou os decretos dos concílios; muito menos, os costumes
herdados ou, até, o fato de ser uma opinião partilhada por uma multidão ou consagrada por
um longo tempo. Quem é o juiz? Portanto, em questão de fé, não admitimos juiz algum, a
não ser o próprio Deus, que, pelas Santas Escrituras, proclama o que é verdadeiro, o que é
falso, o que deve ser seguido ou o que deve ser evitado. Assim, apoiamo-nos
exclusivamente nos julgamentos de homens espirituais, por eles tomados à Palavra de
Deus. Jeremias e outros profetas condenaram severamente os concílios de sacerdotes
estabelecidos contra a lei de Deus; e nos advertiram diligentemente que não ouvíssemos os
nossos pais, nem trilhássemos os seus caminhos, porque eles, andando segundo suas
próprias invenções se desviaram da lei de Deus.
Tradições de homens. Rejeitamos, igualmente, as tradições humanas, mesmo que venham
adornadas de títulos atraentes, como se fossem divinas e apostólicas, entregues à Igreja de
viva voz pelos apóstolos e, como pelas mãos de varões apostólicos, aos bispos que os
sucederam, as quais, quando comparadas com as Escrituras delas discrepam, e por essa
discrepância revelam que, de modo nenhum, são apostólicas. Como os apóstolos não se
contradisseram entre si quanto à doutrina, assim os varões apostólicos não ensinaram nada
contrário aos apóstolos. Ao contrário, seria ímpio afirmar que os apóstolos, de viva voz,
tivessem ensinado coisas contrárias aos seus escritos. São Paulo afirma claramente que ele
ensinava as mesmas coisas em todas as igrejas (I Co 4.17). E mais: “Porque nenhuma outra
cousa vos escrevemos, além das que ledes e bem compreendeis” (II Co 1.13). Também, em
outra passagem, testifica que ele e seus discípulos - a saber, os varões apostólicos -
andavam do mesmo modo e, ligados pelo mesmo Espírito, faziam todas as coisas (II Co
12.18). Os judeus também tiveram, no passado, as tradições dos seus anciãos, mas essas
tradições foram severamente repetidas pelo Senhor, que mostrou que a sua observância põe
entraves à lei de Deus, e que por meio delas Deus é em vão adorado (Mat. 15.1 ss; Mc 7.1
ss)

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AS SAGRADAS ESCRITURAS

(A Confissão de Fé Batista de Londres de 1689)



1. A Sagrada Escritura é a única regra suficiente, certa e infalível de conhecimento para a salvação, de fé e de obediência. [1] A luz da natureza, e as obras da criação e da providência, manifestam a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, de tal modo que os homens ficam inescusáveis; contudo não são suficientes para dar conhecimento de Deus e de sua vontade que é necessário para a salvação. 2

Por isso, em diversos tempos e por diferentes modos, o Senhor foi servido revelar-se a si mesmo e declarar sua vontade à sua igreja. 3 E para a melhor preservação e propagação da verdade, e o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja, contra a corrupção da carne e a malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazer escrever por completo todo esse conhecimento de Deus e revelação de sua vontade necessários à salvação; o que torna a Escritura indispensável, tendo cessado aqueles antigos modos em que Deus revelava sua vontade a seu povo. 4

[1] 2 Tm 3.15-17: E que desde a infância sabes as sagradas letras que podem tornar-te sábio para salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça,

a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.

Is.8.20: À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva.

Lc.16.29,31: Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos.

Abraão, porém, lhe respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos.

Ef.2.20: ...edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; ...

2 Rm.1.19-21: ...porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou.

Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder como também a sua própria divindade claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das cousas que foram criadas. Tais homens são por isso indesculpáveis;

porquanto tendo conhecimento de Deus não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato.

Rm.2.14,15: ... quando, pois, os gentios que não têm lei, procedem por natureza de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos;

estes mostram a norma da lei gravada nos seus corações, testemunhando-lhes também a consciência, e os seus pensamentos mutuamente acusando-se ou defendendo-se;

Sl.19.1-3: Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.

Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite.

Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som;

3 Hb.1.1: Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas;

4 Pv.22.19-21: Para que a tua confiança esteja no SENHOR, quero dar-te hoje a instrução, a ti mesmo.

Porventura não te escrevi excelentes cousas acerca de conselhos e conhecimentos,

para mostrar-te a certeza das palavras da verdade, a fim de que possas responder claramente aos que te enviarem?

Rm.15.4: Pois tudo quanto outrora foi escrito, para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência, e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança.

2Pe.1.19,20: Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vossos corações;

sabendo, primeiramente, isto, que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação;



2. Sob o nome de Sagradas Escrituras ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho Testamento e Novo Testamento, que são os seguintes:
O VELHO TESTAMENTO

Gênesis


1 Reis


Eclesiastes


Obadias

Êxodo


2 Reis


Cantares


Jonas

Levítico


1 Crônicas

Isaías


Miquéias

Números


2 Crônicas


Jeremias


Naum

Deuteronômio


Esdras


Lamentações


Habacuque

Josué


Neemias


Ezequiel


Sofonias

Juizes


Ester


Daniel


Ageu

Rute





Oséias


Zacarias

1 Samuel


Salmos


Joel


Malaquias

2 Samuel


Provérbios


Amós



O NOVO TESTAMENTO

Mateus


Efésios


Hebreus

Marcos

Filipenses


Tiago

Lucas


Colossenses


1 Pedro

João


1 Tessalonissenses


2 Pedro

Atos


2 Tessalonissenses


1 João

Romanos


1 Timóteo


2 João

1 Coríntios


2 Timóteo


3 João

2 Coríntios


Tito


Judas

Gálatas


Filemom


Apocalipse



Todos os quais foram dados por inspiração de Deus, para serem a regra de fé e vida prática. 5

5 2 Tm.3.16: Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, ...



3. Os livros comumente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon ou compêndio das Escrituras. Portanto, nenhuma autoridade têm para a Igreja de Deus, e nem podem ser de modo algum aprovados ou utilizados, senão como quaisquer outros escritos humanos. 6

6 Lc.24.27,44: E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras.

A seguir Jesus lhes disse: São essas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco; que importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.

Rm.3.2: Muita, sob todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus.



4. A autoridade da Sagrada Escritura, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas provém inteiramente de Deus, sendo Ele mesmo a verdade e o seu autor. A Escritura, portanto, tem que ser recebida, por ser a Palavra de Deus. 7

7 2 Pe.1.19-21: Temos assim tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vossos corações;

sabendo, primeiramente, isto, que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação;

porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana, entretanto homens [santos] falaram de parte de Deus movidos pelo Espírito Santo.

2 Tm.3.16: Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, ...

2 Ts.2.13: Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus, por vós, irmãos amados pelo Senhor, por isso que Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade.

1 Jo.5.9: Se admitimos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior; ora, este é o testemunho de Deus, que ele dá acerca do seu filho.



5. Pelo testemunho da Igreja de Deus podemos ser movidos e persuadidos a ter em alto e reverente apreço as Sagradas Escrituras. A santidade do assunto, a eficácia da doutrina, a majestade do estilo, a harmonia de todas as partes, o propósito do todo (que é dar toda glória a Deus), a plena revelação que faz do único meio de salvação para o homem, e muitas outras excelências incomparáveis e perfeição completa, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia serem elas a Palavra de Deus. Contudo, a nossa plena persuasão e certeza quanto à sua verdade infalível e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela Palavra e com a Palavra testifica aos nossos corações. 8

8 Jo.16.13,14: ...quando vier, porém, o Espirito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as cousas que hão de vir.

Ele me glorificará porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.

1Co.2.10-12: Mas Deus no-lo revelou pelo Espirito; porque o Espirito a todas as cousas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus.

Porque, qual dos homens sabe as cousas do homem, senão o seu próprio espirito que nele está? assim também as cousas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espirito de Deus.

Ora, nós não temos recebido o espirito do mundo, e, sim, o Espirito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente.

1Jo.2.20,27: E vós possuís unção que vem do Santo, e todos tendes conhecimento.

Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as cousas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou.



6. Todo o conselho de Deus, concernente a todas as coisas necessárias para a sua própria glória, para a salvação do homem, a fé e a vida, está expressamente declarado ou necessariamente contido na Sagrada Escritura. A ela nada em tempo algum se acrescentará, quer por nova revelação do Espírito, quer por tradições de homens. 9

Entretanto, reconhecemos ser necessária a iluminação interior, da parte do Espírito de Deus, para a compreensão salvadora daquilo que é revelado na Palavra. 10 Reconhecemos que há algumas circunstâncias, concernentes à adoração a Deus e ao governo da igreja, que são peculiares às sociedades e costumes humanos, e que devem ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as normas gerais da Palavra que sempre devem ser observadas. 11

9 2Tm.3.15-17: E que desde a infância sabes as Sagradas letras que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus.

Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para correção, para a educação na justiça,

a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.

Gl.1.8,9: Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu, vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.

Assim como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.

10 Jo.6.45: Está escrito nos Profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim.

1Co.2.9-12: ...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.

Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus.

Porque qual dos homens sabe as coisas do homem senão o seu próprio espírito que nele está? assim também as cousas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.

Ora , nós não temos recebido o espírito do mundo, e, sim, o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente.

11 1Co.11.13,14: Julgai entre vós mesmos: é próprio que a mulher ore a Deus sem trazer o véu?

Ou não vos ensina a própria natureza ser desonroso para o homem usar cabelo comprido?

1Co.14.26,40: Que fazer, pois irmãos? quando vos reunis, um tem salmo, outro doutrina, este traz revelação, aquele outra língua, e ainda outro interpretação. Seja tudo feito para edificação.

Tudo, porém, seja feito com decência e ordem.



7. Na Escritura não são todas as coisas igualmente claras, nem igualmente evidentes para todos. 12 Mesmo assim, as coisas que precisam ser conhecidas, cridas e obedecidas para a salvação estão claramente propostas e explicadas em uma passagem ou outra; e, pelo devido uso de meios comuns, não apenas os eruditos, mas também os indoutos, podem obter uma compreensão suficiente de tais coisas. 13

12 2 Pe.3.16: ...ao falar acerca desses assuntos, como de fato costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.

13 Sl.19.7: ...a lei do Senhor é perfeita, e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel, é dá sabedoria aos símplices.

Sl.119.130: A revelação das tuas palavras esclarece. e dá entendimento aos simples.



8. O Antigo Testamento em hebraico (que era a língua vernácula do povo de Deus na antigüidade), 14 e o Novo Testamento em grego (que em sua época era a língua mais conhecida entre as nações), tendo sido diretamente inspirados por Deus e, pelo seu singular cuidado e providência, conservados puros no correr dos séculos, são, portanto, autênticos, de maneira que, em toda controvérsia de natureza religiosa, a Igreja deve apelar para eles como palavra final. 15

Mas visto que essas línguas originais não são conhecidas de todo o povo de Deus – Que tem direito e interesse nas Escrituras, e que é ordenado a ler 16 e examinar 17 as Escrituras no temor de Deus – os Testamentos devem ser traduzidos para a língua de cada nação, 18 a fim de que, permanecendo a Palavra no povo de Deus, abundantemente, todos adorem a Deus e maneira aceitável, e pela paciência e consolação das Escrituras possam ter esperança. 19

14 Rm.3.2: Muita, sob todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus.

15 Is.8.20: À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva.

16 At.15.15: Conferem com isto as palavras dos profetas, como está escrito:

17 Jo.5.39: Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim.

18 1Co.14.6,9,11,12,24,28: Agora, porém, irmãos, se eu for ter convosco falando em outras línguas, em que vos aproveitarei, se não vos falar por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina?

Assim vós, se, com a língua, não disserdes palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis? porque estareis como se falásseis ao ar.

Se eu, pois, ignorar a significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala; e ele, estrangeiro para mim.

Assim também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para a edificação da igreja.

Porém, se todos profetizarem, e entrar algum incrédulo, ou indouto, é ele por todos convencido, e por todos julgado;

Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus.

19 Cl.3.16: Habite ricamente em vós a Palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda sabedoria, louvando a Deus, com salmos e hinos e cânticos espirituais, com gratidão, em vossos corações.



9. A regra infalível de interpretação das Escrituras é a própria Escritura. Portanto, sempre que houver dúvida quanto ao verdadeiro e pleno sentido de qualquer passagem (sentido este que não é múltiplo, mas um único), essa passagem deve ser examinada em confrontação com outras passagens, que falem mais claramente. 20

20 2Pe.1.20,21: ...sabendo, primeiramente, isto, que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação;

porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana, entretanto homens [santos] falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo.

At.15.15,16: Conferem com isto as palavras dos profetas, como está escrito:

Cumpridas estas cousas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e, levantando-o de suas ruínas, restaura-lo-ei, ...



10. O juiz supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas devem ser resolvidas e todos os decretos e concílios, todas as opiniões de escritores antigos e doutrinas de homens devem ser examinadas, e os espíritos provados, não pode ser outro senão a Sagrada Escritura entregue pelo Espírito Santo. Nossa fé recorrerá à Escritura para a decisão final. 21

21 Mt.22.29,31: Respondeu-lhes Jesus: Errais não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus.

E quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou:

Ef.2.20: ... edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular, ...

At.28.23: Havendo-lhe eles marcado um dia, vieram em grande número ao encontro de Paulo na sua própria residência. Então, desde a manhã até à tarde, lhes fez uma exposição em testemunho do Reino de Deus, procurando persuadi-los a respeito de Jesus, tanto pela lei de Moisés, como pelos profetas.

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DA ESCRITURA SAGRADA

(Confissão de Fé de Westminster)

I. Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo.

Sal. 19: 1-4; Rom. 1: 32, e 2: 1, e 1: 19-20, e 2: 14-15; I Cor. 1:21, e 2:13-14; Heb. 1:1-2; Luc. 1:3-4; Rom. 15:4; Mat. 4:4, 7, 10; Isa. 8: 20; I Tim. 3: I5; II Pedro 1: 19.

II. Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, que são os seguintes, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e de prática:

O VELHO TESTAMENTO

Gênesis
Êxodo
Levítico
Números
Deuteronômio
Josué
Juízes
Rute
I Samuel
II Samuel
I Reis
II Reis
I Crônicas
II Crônicas
Esdras
Neemias
Ester

Salmos
Provérbios
Eclesiastes
Cântico dos Cânticos
Isaías
Jeremias
Lamentações de Jeremias
Ezequiel
Daniel
Oséias
Joel
Amós
Obadias
Jonas
Miquéias
Naum
Habacuque
Sofonias
Ageu
Zacarias
Malaquias


O NOVO TESTAMENTO

Mateus
Marcos
Lucas
João
Atos
Romanos
I Coríntios
II Coríntios
Gálatas
Efésios
Filipenses
Colossenses
I Tessalonicenses
II Tessalonicenses
I Timóteo
II Timóteo
Tito
Filemon
Hebreus
Tiago
I Pedro
II Pedro
I João
II João
III João
Judas
Apocalipse


Ef. 2:20; Apoc. 22:18-19: II Tim. 3:16; Mat. 11:27.

III. Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon da Escritura; não são, portanto, de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados senão como escritos humanos.

Luc. 24:27,44; Rom. 3:2; II Pedro 1:21.

IV. A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de Deus.

II Tim. 3:16; I João 5:9, I Tess. 2:13.

V. Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço da Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, e eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela palavra e com a palavra testifica em nossos corações.

I Tim. 3:15; I João 2:20,27; João 16:13-14; I Cor. 2:10-12.

VI. Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da palavra, que sempre devem ser observadas.

II Tim. 3:15-17; Gal. 1:8; II Tess. 2:2; João 6:45; I Cor. 2:9, 10, l2; I Cor. 11:13-14.

VII. Na Escritura não são todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos; contudo, as coisas que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvação, em um ou outro passo da Escritura são tão claramente expostas e explicadas, que não só os doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas.

II Pedro 3:16; Sal. 119:105, 130; Atos 17:11.

VIII. O Velho Testamento em Hebraico (língua vulgar do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são por isso autênticos e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal; mas, não sendo essas línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras e que deve no temor de Deus lê-las e estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde chegarem, a fim de que a palavra de Deus, permanecendo nelas abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança pela paciência e conforto das escrituras.

Mat. 5:18; Isa. 8:20; II Tim. 3:14-15; I Cor. 14; 6, 9, 11, 12, 24, 27-28; Col. 3:16; Rom. 15:4.

IX. A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros textos que falem mais claramente.

At. 15: 15; João 5:46; II Ped. 1:20-21.

X. O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura.

Mat. 22:29, 3 1; At. 28:25; Gal. 1: 10.
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Autoridade das Escrituras
(A Confissão de Fé Escocesa)

Cremos e confessamos que as Escrituras de Deus são suficientes para instruir e aperfeiçoar o homem de Deus, e assim afirmamos e declaramos que a sua autoridade vem de Deus e não depende de homem ou de anjo.1 Afirmamos, portanto, que os que dizem não terem as Escrituras outra autoridade a não ser a que elas receberam da Igreja são blasfemos contra Deus e fazem injustiça à verdadeira Igreja, que sempre ouve e obedece à voz de seu próprio Esposo e Pastor, mas nunca se arroga o direito de senhora.2

1. 1Tm 3:16-17.

2. Jo 10:27.
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Confissão de Fé Batista de New Hampshire, 1833

Cremos que a Bíblia Sagrada foi escrita por homens divinamente inspirados, e é um perfeito tesouro de instrução celestial; que tem Deus como seu autor, salvação como seu fim, e verdade sem qualquer mistura de erro como seu conteúdo; que ela revela os princípios pelos quais Deus nos julgará; e por isso é, e continuará sendo até o fim do mundo, o verdadeiro centro da união cristã, e o supremo padrão pelo qual toda conduta, credos, e opiniões humanas devem ser julgados.
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A Confissão de Fé de Londres de 1644
(Publicada originalmente no ano de 1646)


A regra do conhecimento, a fé, a obediência, a adoração de Deus, na qual está escrita
toda a obrigação do homem, não é a lei dos homens, ou suas tradições, senão a
palavra de Deus contida nas Sagradas Escrituras; nas quais está plenamente escrito
tudo o que necessitamos saber, crer e praticar; elas são a única regra de santidade e
obediência para todos os santos, em todos os tempos, em todos os lugares.

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Declaração de Chicago Sobre a Inerrância da Bíblia

Uma Breve Declaração

Deus, sendo Ele Próprio a Verdade e falando somente a verdade, inspirou as Sagradas Escrituras a fim de, desse modo, revelar-Se à humanidade perdida, através de Jesus Cristo, como Criador e Senhor, Redentor e Juiz. As Escrituras Sagradas são o testemunho de Deus sobre Si mesmo.

As Escrituras Sagradas, sendo apropria Palavra de Deus, escritas por homens preparados e supervisionados por Seu Espírito, possuem autoridade divina infalível em todos os assuntos que abordam: devem ser cridas, como instrução divina, em tudo o que afirmam; obedecidas, como mandamento divino, em tudo o que determinam; aceitas, como penhor divino, em tudo que prometem.

O Espírito Santo, seu divino Autor, ao mesmo tempo no-las confirma através de Seu testemunho interior e abre nossas mentes para compreender seu significado.

Tendo sido na sua totalidade e verbalmente dadas por Deus, as Escrituras não possuem erro ou falha em tudo o que ensinam, quer naquilo que afirmam a respeito dos atos de Deus na criação e dos acontecimentos da história mundial, quer na sua própria origem literária sob a direção de Deus, quer no testemunho que dão sobre a graça salvadora de Deus na vida das pessoas.

A autoridade das Escrituras fica inevitavelmente prejudicada, caso essa inerrância divina absoluta seja de alguma forma limitada ou desconsiderada, ou caso dependa de um ponto de vista acerca da verdade que seja contrário ao próprio ponto de vista da Bíblia; e tais desvios provocam sérias perdas tanto para o indivíduo quanto para a Igreja.


Artigos de Afirmação e Negação

Artigo I.

Afirmamos que as Sagradas Escrituras devem ser recebidas como a Palavra oficial de Deus.

Negamos que a autoridade das Escrituras provenha da Igreja, da tradição ou de qualquer outra fonte humana.


Artigo II.

Afirmamos que as Sagradas Escrituras são a suprema norma escrita, pela qual Deus compele a consciência, e que a autoridade da Igreja está subordinada à das Escrituras.

Negamos que os credos, concílios ou declarações doutrinárias da Igreja tenham uma autoridade igual ou maior do que a autoridade da Bíblia.


Artigo III.

Afirmamos que a Palavra escrita é, em sua totalidade, revelação dada por Deus.

Negamos que a Bíblia seja um mero testemunho a respeito da revelação, ou que somente se torne revelação mediante encontro, ou que dependa das reações dos homens para ter validade.


Artigo IV

Afirmamos que Deus, que fez a humanidade à Sua imagem, utilizou a linguagem como um meio de revelação.

Negamos que a linguagem humana seja limitada pela condição de sermos criaturas, a tal ponto que se apresente imprópria como veículo de revelação divina. Negamos ainda mais que a corrupção, através do pecado, da cultura e linguagem humanas tenha impedido a obra divina de inspiração.


Artigo V

Afirmamos que a revelação de Deus dentro das Sagradas Escrituras foi progressiva.

Negamos que revelações posteriores, que podem completar revelações mais antigas, tenham alguma vez corrigido ou contrariado tais revelações. Negamos ainda mais que qualquer revelação normativa tenha sido dada desde o término dos escritos do Novo Testamento.


Artigo VI

Afirmamos que a totalidade das Escrituras e todas as suas partes, chegando às próprias palavras do original, foram por inspiração divina.

Negamos que se possa corretamente falar de inspiração das Escrituras, alcançando-se o todo mas não as partes, ou algumas partes mas não o todo.


Artigo VII

Afirmamos que a inspiração foi a obra em que Deus, por Seu Espírito, através de escritores humanos, nos deus Sua palavra. A origem das Escrituras é divina. O modo como se deu a inspiração permanece em grande parte um mistério para nós.

Negamos que se possa reduzir a inspiração à capacidade intuitiva do homem, ou a qualquer tipo de níveis superiores de consciência.


Artigo VIII

Afirmamos que Deus, em Sua obra de inspiração, empregou as diferentes personalidades e estilos literários dos escritores que Ele escolheu e preparou.

Negamos que Deus, ao fazer esses escritores usarem as próprias palavras que Ele escolheu, tenha passado por cima de suas personalidades.


Artigo IX

Afirmamos que a inspiração, embora não outorgando o­nisciência, garantiu uma expressão verdadeira e fidedigna em todas as questões sobre as quais os autores bíblicos foram levados a falar e a escrever.

Negamos que a finitude ou a condição caída desses escritores tenha, direta ou indiretamente, introduzido distorção ou falsidade na Palavra de Deus.


Artigo X

Afirmamos que, estritamente falando, a inspiração diz respeito somente ao texto autográfico das Escrituras, o qual, pela providência de Deus, pode-se determinar com grande exatidão a partir de manuscritos disponíveis. Afirmamos ainda mais que as cópias e traduções das Escrituras são a Palavra de Deus na medida em que fielmente representam o original.

Negamos que qualquer aspecto essencial da fé cristã seja afetado pela falta dos autógrafos. Negamos ainda mais que essa falta torne inválida ou irrelevante a afirmação da inerrância da Bíblia.


Artigo XI

Afirmamos que as Escrituras, tendo sido dadas por inspiração divina, são infalíveis, de modo que, longe de nos desorientar, são verdadeiras e confiáveis em todas as questões de que tratam.

Negamos que seja possível a Bíblia ser, ao mesmo tempo infalível e errônea em suas afirmações. Infalibilidade e inerrância podem ser distinguidas, mas não separadas.


Artigo XII

Afirmamos que, em sua totalidade, as Escrituras são inerrantes, estando isentas de toda falsidade, fraude ou engano.

Negamos que a infalibilidade e a inerrância da Bíblia estejam limitadas a assuntos espirituais, religiosos ou redentores, não alcançando informações de natureza histórica e científica. Negamos ainda mais que hipóteses científicas acerca da história da terra possam ser corretamente empregadas para desmentir o ensino das Escrituras a respeito da criação e do dilúvio.


Artigo XIII

Afirmamos a propriedade do uso de inerrância como um termo teológico referente à total veracidade das Escrituras.

Negamos que seja correto avaliar as Escrituras de acordo com padrões de verdade e erro estranhos ao uso ou propósito da Bíblia. Negamos ainda mais que a inerrância seja contestada por fenômenos bíblicos, tais como uma falta de precisão técnica contemporânea, irregularidades de gramática ou ortografia, descrições da natureza feitas com base em observação, referência a falsidades, uso de hipérbole e números arredondados, disposição tópica do material, diferentes seleções de material em relatos paralelos ou uso de citações livres.


Artigo XIV

Afirmamos a unidade e a coerência interna das Escrituras.

Negamos que alegados erros e discrepâncias que ainda não tenham sido solucionados invalidem as declarações da Bíblia quanto à verdade.


Artigo XV

Afirmamos que a doutrina da inerrância está alicerçada no ensino da Bíblia acerca da inspiração.

Negamos que o ensino de Jesus acerca das Escrituras possa ser desconhecido sob o argumento de adaptação ou de qualquer limitação natural decorrente de Sua humanidade.


Artigo XVI

Afirmamos que a doutrina da inerrância tem sido parte integrante da fé da Igreja ao longo de sua história.

Negamos que a inerrância seja uma doutrina inventada pelo protestantismo escolástico ou que seja uma posição defendida como reação contra a alta crítica negativa.


Artigo XVII

Afirmamos que o Espírito Santo dá testemunho acerca das Escrituras, assegurando aos crentes a veracidade da Palavra de Deus escrita.

Negamos que esse testemunho do Espírito Santo opere isoladamente das Escrituras ou em oposição a elas.


Artigo XVIII

Afirmamos que o texto das Escrituras deve ser interpretado mediante exegese histórico-gramatical, levando em conta suas formas e recursos literários, e que as Escrituras devem interpretar as Escrituras.

Negamos a legitimidade de qualquer abordagem do texto ou de busca de fontes por trás do texto que conduzam a um revigoramento, desistorização ou minimização de seu ensino, ou a uma rejeição de suas afirmações quanto à autoria.


Artigo XIX

Afirmamos que uma confissão da autoridade, infalibilidade e inerrância plenas das Escrituras é vital para uma correta compreensão da totalidade da fé cristã. Afirmamos ainda mais que tal confissão deve conduzir a uma conformidade cada vez maior à imagem de Cristo.

Negamos que tal confissão seja necessária para a salvação. Contudo, negamos ainda mais que se possa rejeitar a inerrância sem graves conseqüências, quer para o indivíduo quer para a Igreja.


Explanação

Nossa compreensão da doutrina da inerrância deve dar-se no contexto mais amplo dos ensinos das Escrituras sobre si mesma. Esta explanação apresenta uma descrição do esboço da doutrina, na qual se baseiam nossa breve declaração e os artigos.


Criação, Revelação e Inspiração

O Deus Triúno, que formou todas as coisas por Sues proferimentos criadores e que a tudo governa pela Palavra de Sua vontade, criou a humanidade à Sua própria imagem para uma vida de comunhão consigo mesmo, tendo por modelo a eterna comunhão da comunicação dentro da Divindade. Como portador da imagem de Deus, o homem deve ouvir a Palavra de Deus dirigida a ele e reagir com a alegria de uma obediência em adoração. Além da auto-revelação de Deus na ordem criada e na seqüência de acontecimentos dentro dessa ordem, desde Adão os seres humanos têm recebido mensagens verbais dEle, quer diretamente, conforme declarado nas Escrituras, quer indiretamente na forma de parte ou totalidade das próprias Escrituras.

Quando Adão caiu, o Criador não abandonou a humanidade ao juízo final, mas prometeu salvação e começou a revelar-Se como Redentor numa seqüência de acontecimentos históricos centralizados na família de Abraão e que culminam com a vida, morte, ressurreição, atual ministério celestial e a prometida volta de Jesus Cristo. Dentro desse arcabouço, de tempos em tempos Deus tem proferido palavras específicas de juízo e misericórdia, promessa e mandamento, a seres humanos pecaminosos, de modo a conduzi-los a um relacionamento, uma aliança, de compromisso mútuo entre as duas partes, mediante o qual Ele os abençoa com dons da graça, e eles O bendizem numa reação de adoração. Moisés, que Deus usou como mediador para transmitir Suas palavras a Seu povo à época do êxodo, está no início de uma longa linhagem de profetas em cujas bocas e escritos Deus colocou Suas palavras para serem entregues a Israel. O propósito de Deus nesta sucessão de mensagens era manter Sua aliança ao fazer com que Seu povo conhecesse Seu Nome, isto é, Sua natureza, e tantos preceitos quanto os propósitos de Sua vontade, quer para o presente, que para o futuro. Essa linhagem de porta-vozes proféticos da parte de Deus culminou em Jesus Cristo, a Palavra encarnada de Deus, sendo Ele um profeta (mais do que um profeta, mas não menos do que isso), e nos apóstolos e profetas da primeira geração de cristãos. Quando a mensagem final e culminante de Deus, Sua palavra ao mundo a respeito de Jesus Cristo, foi proferida e esclarecida por aqueles que pertenciam ao círculo apostólico, cessou a seqüência de mensagens reveladas. Daí por diante, a Igreja devia viver e conhecer a Deus através daquilo que Ele já havia dito, e dito para todas as épocas.

No Sinai, Deus escreveu os termos de Sua aliança em tábuas de pedra, como Seu testemunho duradouro e para ser permanentemente acessível, e ao longo do período de revelação profética e apostólica levantou homens para escreverem as mensagens dadas a eles e através deles, junto com os registros que celebravam Seu envolvimento com Seu povo, além de reflexões éticas sobre a vida em aliança e de formas de louvor e oração em que se pede a misericórdia da aliança. A realidade teológica da inspiração na elaboração de documentos bíblicos corresponde à das profecias faladas: embora as personalidades dos escritores humanos se manifestassem naquilo que escreveram, as palavras foram divinamente dadas. Assim, aquilo que as Escrituras dizem, Deus diz; a autoridade das Escrituras é a autoridade de Deus, pois Ele é seu derradeiro Autor, tendo entregue as Escrituras através das mentes e palavras dos homens escolhidos e preparados, os quais, livre e fielmente, "falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo" (2 Pe 1.21). Deve-se reconhecer as Escrituras Sagradas como a Palavra de Deus em virtude de sua origem divina.


Autoridade: Cristo e a Bíblia

Jesus Cristo, o Filho de Deus, que é a Palavra (Verbo) feita carne, nosso Profeta, Sacerdote e Rei, é o Mediador último da comunicação de Deus ao homem, como também o é de todos os dons da graça de Deus. A revelação dada por Ele foi mais do que verbal; Ele também revelou o Pai mediante Sua presença e Seus atos. Suas palavras, no entanto, foram de importância crucial, pois Ele era Deus, Ele falou da parte do Pai, e Suas palavras julgarão ao todos os homens no último dia.

Na qualidade de Messias prometido, Jesus Cristo é o tema central das Escrituras. O Antigo Testamento olhava para Ele no futuro; o Novo Testamento olha para trás, ao vê-lo em Sua primeira vinda, e para frente em Sua segunda vinda. As Escrituras canônicas são o testemunho divinamente inspirado e, portanto, normativo, a respeito de Cristo. Deste modo, não é aceitável alguma hermenêutica em que Cristo não seja o ponto central. Deve-se tratar as Escrituras Sagradas como aquilo que são em essência: o testemunho do Pai a respeito do Filho encarnado.

Parece que o cânon do Antigo Testamento já estava estabelecido à época de Jesus. Semelhantemente, o cânon do Novo Testamento está encerrado na medida em que nenhuma nova testemunha apostólica do Cristo histórico pode nascer agora. Nenhuma nova revelação (distinta da compreensão que o Espírito dá acerca da revelação existente) será dada até que Cristo volte. O cânon foi criado no princípio por inspiração divina. A parte da Igreja foi discernir o cânon que Deus havia criado, não elaborar o seu próprio cânon. Os critérios relevantes foram e são: autoria (ou Sua confirmação), conteúdo e o testemunho confirmador do Espírito Santo.

A palavra cânon, que significa regra ou padrão, é um indicador de autoridade, o que significa o direito de governar e controlar. No cristianismo a autoridade pertence a Deus em Sua revelação, o que significa, de um lado, Jesus Cristo, a Palavra viva, e, de outro, as Sagradas Escrituras, a Palavra escrita. Mas a autoridade de Cristo e das Escrituras são uma só. Como nosso Profeta, Cristo deu testemunho de que as Escrituras não podem falhar. Como nosso Sacerdote e Rei, Ele dedicou Sua vida terrena a cumprir a lei e os profetas, até ao ponto de morrer em obediência às palavras da profecia messiânica. Desta forma, assim como Ele via as Escrituras testemunhando dEle e de Sua autoridade, de igual modo, por Sua própria submissão às Escrituras, Ele testemunhou da autoridade delas. Assim como Ele se curvou diante da instrução de Seu Pai dada em Sua Bíblia (nosso Antigo Testamento), de igual maneira Ele requer que Seus discípulos assim o façam, todavia não isoladamente, mas em conjunto com o testemunho apostólico acerca dEle, testemunho que ele passou a inspirar mediante a Sua dádiva do Espírito Santo. Desta maneira, os cristãos revelam-se servos fiéis de seu Senhor, por se curvarem diante da instrução divina dada nos escritos proféticos e apostólicos que, juntos, constituem nossa Bíblia.

Ao confirmarem a autoridade um do outro, Cristo e as Escrituras fundem-se numa única fonte de autoridade. O Cristo biblicamente interpretado e a Bíblia centralizada em Cristo e que O proclama são, desse ponto de vista, uma só coisa. Assim como a partir do fato da inspiração inferimos que aquilo que as Escrituras dizem, Deus diz, assim também a partir do relacionamento revelado entre Jesus Cristo e as Escrituras podemos igualmente declarar que aquilo que as Escrituras dizem, Cristo diz.


Infalibilidade, Inerrância, Interpretação

As Escrituras Sagradas, na qualidade de Palavra inspirada de Deus que dá testemunho oficial acerca de Jesus Cristo, podem ser adequadamente chamadas de infalíveis e inerrantes. Estes termos negativos possuem especial valor, pois salvaguardam explicitamente verdades positivas.

Infalível significa a qualidade de não desorientar nem ser desorientado e, dessa forma, salvaguarda em termos categóricos a verdade de que as Santas Escrituras são uma regra e um guia certos, seguros e confiáveis em todas as questões.

Semelhantemente, inerrante significa a qualidade de estar livre de toda falsidade ou engano e, dessa forma, salvaguarda a verdade de que as Santas Escrituras são totalmente verídicas e fidedignas em todas as suas afirmações.

Afirmamos que as Escrituras canônicas sempre devem ser interpretadas com base no fato de que são infalíveis e inerrantes. No entanto, ao determinar o que o escritor ensinado por Deus está afirmando em cada passagem, temos de dedicar a mais cuidadosa atenção às afirmações e ao caráter do texto como sendo uma produção humana. Na inspiração Deus utilizou a cultura e os costumes do ambiente de seus escritores, um ambiente que Deus controla em Sua soberana providência; é interpretação errônea imaginar algo diferente.

Assim, deve-se tratar história como história, poesia como poesia, e hipérbole e metáfora como hipérbole e metáfora, generalização e aproximações como aquilo que são, e assim por diante. Também se deve observar diferenças de práticas literárias entre os períodos bíblicos e o nosso: visto que, por exemplo, naqueles dias, narrativas são cronológicas e citações imprecisas eram habituais e aceitáveis e não violavam quaisquer expectativas, não devemos considerar tais coisas como falhas, quando as encontramos nos autores bíblicos. Quando não se esperava nem se buscava algum tipo específico de precisão absoluta, não constitui erro o fato de ela existir. As Escrituras são inerrantes não no sentido de serem totalmente precisas de acordo com os padrões atuais, mas no sentido de que validam suas afirmações e atingem a medida de verdade que seus autores buscaram alcançar.

A veracidade das Escrituras não é negada pela aparição, no texto, de irregularidades gramaticais ou ortográficas, de descrições fenomenológicas da natureza, de relatos de afirmações falsas (por exemplo, as mentiras de Satanás), ou as aparentes discrepâncias entre uma passagem e outra. Não é certo jogar os chamados fenômenos das Escrituras contra o ensino da Escritura sobre si mesma. Não se devem ignorar aparentes incoerências. A solução delas, o­nde se possa convincentemente alcança-las, estimulará nossa fé, e, o­nde no momento não houver uma solução convincente disponível, significativamente daremos honra a Deus, por confiar em Sua garantia de que Sua Palavra é verdadeira, apesar das aparências em contrário, e por manter a confiança de que um dia se verá que elas eram enganos.

Na medida em que toda a Escritura é o produto de uma só mente divina, a interpretação tem de permanecer dentro dos limites da analogia das Escrituras e abster-se de hipóteses que visam corrigir uma passagem bíblica por meio de outra, seja em nome da revelação progressiva ou do entendimento imperfeito por parte do escritor inspirado.

Embora as Sagradas Escrituras em lugar algum estejam limitadas pela cultura, no sentido de que seus ensinos carecem de validade universal, algumas vezes estão culturalmente condicionadas pelos hábitos e pelas idéias aceitas de um período em particular, de modo que a aplicação de seus princípios, hoje em dia, requer um tipo diferente de ação (por exemplo, na questão do corte de cabelo e do penteado das mulheres, cf. 1 Co 11).


Ceticismo e Crítica

Desde a Renascença, e mais especificamente desde o Iluminismo, têm-se desenvolvido filosofias que envolvem o ceticismo diante das crenças cristãs básicas. É o caso do agnosticismo, que nega que Deus seja cognoscível; do racionalismo, que nega que Ele seja incompreensível; do idealismo, que nega que Ele seja transcendente; e do existencialismo, que nega a racionalidade de Seus relacionamentos conosco. Quanto esses princípios não bíblicos e antibíblicos infiltram-se nas teologias do homem a nível das pressuposições, como freqüentemente acontecem hoje em dia, a fiel interpretação das Sagradas Escrituras torna-se impossível.


Transmissão e Tradução

Uma vez que em nenhum lugar Deus prometeu uma transmissão inerrante da Escritura, é necessário afirmar que somente o texto autográfico dos documentos originais foi inspirado e manter a necessidade da crítica textual como meio de detectar quaisquer desvios que possam ter se infiltrado no texto durante o processo de sua transmissão. O veredicto dessa ciência é, entretanto, que os textos hebraicos e grego parecem estar surpreendentemente bem preservados, de modo que tempos amplo apoio para afirmar, junto com a Confissão de Westminster, uma providência especial de Deus nessa questão e em declarar que de modo algum a autoridade das Escrituras corre perigo devido ao fato de que as cópias que possuímos não estão totalmente livres de erros.

Semelhantemente, tradução alguma é perfeita, nem pode sê-;p, e todas as traduções são um passo adicional de distanciamento dos autographa. Porém, o veredicto da lingüística é que pelo menos os cristãos de língua inglesa estão muitíssimo bem servidos na atualidade com uma infinidade de traduções excelentes e não têm motivo para hesitar em concluir que a Palavra verdadeira de Deus está ao seu alcance. Aliás, em vista da freqüente repetição, nas Escrituras, dos principais assuntos de que elas tratam e também em vista do constante testemunho do Espírito Santo a respeito da Palavra e através dela, nenhuma tradução séria das Santas Escrituras chegará a de tal forma destruir seu sentido, a ponto de tornar inviável que elas façam o seu leitor "sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus" (2 Tm 3.15).


Inerrância e Autoridade

Ao confiarmos que a autoridade das Escrituras envolve a verdade total da Bíblia, estamos conscientemente nos posicionando ao lado de Cristo e de Seus apóstolos, aliás, ao lado da Bíblia inteira e da principal vertente da história da igreja, desde os primeiros dias até bem recentemente. Estamos preocupados com a maneira casual, inadvertida e aparentemente impensada como uma crença de importância e alcance tão vastos foi por tantas pessoas abandonada em nossos dias.

Também estamos cônscios de que uma grande e grave confusão é resultado de parar de afirmar a total veracidade da Bíblia, cuja autoridade as pessoas professam conhecer. O resultado de dar esse passo é que a Bíblia que Deus entregou perde sua autoridade e, no lugar disso, o que tem autoridade é uma Bíblia com o conteúdo reduzido de acordo com as exigências do raciocínio crítico das pessoas, sendo que, a partir do momento em que a pessoa deu início a essa redução, esse conteúdo pode em princípio ser reduzido mais e mais. Isto significa que, no fundo, a razão independente possui atualmente a autoridade, em oposição ao ensino das Escrituras. Se isso não é visto e se, por enquanto, ainda são sustentadas as doutrinas evangélicas fundamentais, as pessoas que negam a total veracidade das Escrituras podem reivindicar uma identidade com os evangélicos, ao mesmo tempo em que, metodologicamente, se afastaram da posição evangélica acerca do conhecimento para um subjetivismo instável, e não acharão difícil ir ainda mais longe.

Afirmamos que aquilo que as Escrituras dizem, Deus diz. Que Ele seja glorificado. Amém e amém.

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Retirado do apêndice do livro O ALICERCE DA AUTORIDADE BÍBLICA
James Montgomery Boice
Páginas 183 a 196
Editado por: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova
Edição: 1989; Reimpressão: 1997.
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A Declaração de Cambridge

SOLA SCRIPTURA: A Erosão da Autoridade

Só a Escritura é a regra inerrante da vida da igreja, mas a igreja evangélica atual fez separação entre a Escritura e sua função oficial. Na prática, a igreja é guiada, por vezes demais, pela cultura. Técnicas terapêuticas, estratégias de marketing, e o ritmo do mundo de entretenimento muitas vezes tem mais voz naquilo que a igreja quer, em como funciona, e no que oferece, do que a Palavra de Deus. Os pastores negligenciam a supervisão do culto, que lhes compete, inclusive o conteúdo doutrinário da música. À medida que a autoridade bíblica foi abandonada na prática, que suas verdades se enfraqueceram na consciência cristã, e que suas doutrinas perderam sua proeminência, a igreja foi cada vez mais esvaziada de sua integridade, autoridade moral e discernimento.

Em lugar de adaptar a fé cristã para satisfazer as necessidades sentidas dos consumidores, devemos proclamar a Lei como medida única da justiça verdadeira, e o evangelho como a única proclamação da verdade salvadora. A verdade bíblica é indispensável para a compreensão, o desvelo e a disciplina da igreja.

A Escritura deve nos levar além de nossas necessidades percebidas para nossas necessidades reais, e libertar-nos do hábito de nos enxergar por meio das imagens sedutoras, clichês, promessas e prioridades da cultura massificada. É só à luz da verdade de Deus que nós nos entendemos corretamente e abrimos os olhos para a provisão de Deus para a nossa sociedade. A Bíblia, portanto, precisa ser ensinada e pregada na igreja. Os sermões precisam ser exposições da Bíblia e de seus ensino, não a expressão de opinião ou de idéias da época. Não devemos aceitar menos do que aquilo que Deus nos tem dado.

A obra do Espírito Santo na experiência pessoal não pode ser desvinculada da Escritura. O Espírito não fala em formas que independem da Escritura. À parte da Escritura nunca teríamos conhecido a graça de Deus em Cristo. A Palavra bíblica, e não a experiência espiritual, é o teste da verdade.


Tese 1: Sola Scriptura

Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado.

Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação.
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A Confissão de Fé Escocesa

A Autoridade das Escrituras

Cremos e confessamos que as Escrituras de Deus são suficientes para instruir e aperfeiçoar o homem de Deus, e assim afirmamos e declaramos que a sua autoridade vem de Deus e não depende de homem ou de anjo.1 Afirmamos, portanto, que os que dizem não terem as Escrituras outra autoridade a não ser a que elas receberam da Igreja são blasfemos contra Deus e fazem injustiça à verdadeira Igreja, que sempre ouve e obedece à voz de seu próprio Esposo e Pastor, mas nunca se arroga o direito de senhora.2

1. 1Tm 3:16-17.

2. Jo 10:27.
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Confissão Belga

A AUTORIDADE DA SAGRADA ESCRITURA

Recebemos [1] todos estes livros, e somente estes, como sagrados e canônicos, para regular, fundamentar e confirmar nossa fé [2]. Acreditamos, sem dúvida nenhuma, em tudo que eles contêm, não tanto porque a igreja aceita e reconhece estes livros como canônicos, mas principalmente porque o Espírito Santo testifica em nossos corações que eles vêm de Deus [3], como eles mesmos provam. Pois até os cegos podem sentir que as coisas, preditas neles, se cumprem [4].

1 - 1Ts 2:13.
2 - 2Tm 3:16,17.
3 - 1Co 12:3; 1Jo 4:6; 1Jo 5:6b.
4 - Dt 18:21,22; 1Rs 22:28; Jr 28:9; Ez 33:33.

ARTIGO 6
A DIFERENÇA ENTRE OS LIVROS CANÔNICOS E APOCRIFOS


Distinguimos estes livros sagrados dos livros apócrifos que são os seguintes: 3 e 4 Esdras, Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, os Acréscimos ao livro de Ester e Daniel, a Oração de Manassés e 1 e 2 Macabeus.

A igreja pode, sim, ler estes livros e tirar deles ensino, na medida em que concordem com os livros canonicos. Porém, os apocrifos não tem tanto poder e autoridade que o testemunho deles possa confirmar qualquer artigo da fé ou da religião cristã; e muito menos podem eles diminuir a autoridade dos sagrados livros.

ARTIGO 7
A SAGRADA ESCRITURA : PERFEITA E COMPLETA


Cremos que esta Sagrada Escritura contém perfeitamente a vontade de Deus e suficientemente ensina tudo o que o homem deve crer para ser salvo [1]. Nela, Deus descreveu, por extenso, toda a maneira de servi-Lo. por isso, não e lícito aos homens, mesmo que fossem apóstolos "ou um anjo vindo do céu", conforme diz o apóstolo Paulo (Gálatas 1:8), ensinarem outra doutrina, senão aquela da Sagrada Escritura [2]. É proibido "acrescentar algo a Pa lavra de Deus ou tirar algo dela" [3] (Deuteronômio 12:32; Apocalipse 22:18,19). Assim se mostra claramente que sua doutrina é perfeitíssima e, em todos os sentidos, completa [4].

Não se pode igualar escritos de homens, por mais santos que fossem os autores, às Escrituras divinas. Nem se pode igualar à verdade de Deus costumes, opiniões da maioria, instituições antigas, sucessão de tempos ou de pessoas, ou concílios, decretos ou resoluções [5]. Pois a verdade está acima de tudo e todos os homens são mentirosos (Salmo 116:11) e "mais leves que a vaidade" (Salmo 62:9).

Por isso, rejeitamos, de todo o coração, tudo que não está de acordo com esta regra infalível [6], conforme os apóstolos nos ensinaram: "Provai os espíritos se procedem de Deus" (l João 4:1), e: "Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa" (2 João :10).

1 2Tm 3:16,17; 1Pe 1:10-12. 2 1Co 15:2; 1Tm 1:3. 3 Dt 4:2; Pv 30:6; At 26:22; 1Co 4:6. 4 Sl 19:7; Jo 15:15; At 18:28; At 20:27; Rm 15:4. 5 Mc 7:7-9; At 4:19; Cl 2:8; 1Jo 2:19. 6 Dt 4:5,6; Is 8:20; 1Co 3:11; Ef 4:4-6; 2Ts 2:2; 2Tm 3:14,15.
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Os Trinta e Nove Artigos da Religião
ARTIGO VI - DA SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS SAGRADAS PARA A SALVAÇÃO

A Escritura Sagrada contém todas as coisas necessárias para a salvação; de modo que tudo o que nela não se lê, nem por ela se pode provar, não deve ser exigido de pessoa alguma seja crido como artigo de Fé ou julgado como requerido ou necessário para a salvação. Pelo nome de Escritura Sagrada entendemos os Livros canônicos do Velho e Novo Testamentos, de cuja autoridade jamais houve qualquer dúvida na Igreja.

DOS NOMES E NÚMEROS DOS LIVROS CANÔNICOS



Gênesis


Primeiro Livro de Reis


Eclesiastes ou Pregador

Êxodo


Segundo Livro de Reis


Cântico dos Cânticos

Levítico


Primeiro Livro de Crônicas

Os quatro Profetas Maiores

Números


Segundo Livro de Crônicas

Os doze Profetas Menores.

Deuteronômio


Primeiro Livro de Esdras [4]


Josué


Segundo Livro de Esdras [5]


Juizes


Ester


Rute





Primeiro Livro de Samuel


Salmos


Segundo Livro de Samuel


Provérbios



E os outros Livros (como diz Jerônimo) a Igreja os lê para exemplo de vida e instrução de costumes; mas não os aplica para estabelecer doutrina alguma; tais são os seguintes:

Terceiro livro de Esdras


De Bel e o Dragão

Quarto Livro de Esdras


Oração de Manassés

Livro de Tobias


Segundo Livro de Macabeus

Livro de Judite


O restante dos livros de Ester


Livro da Sabedoria


Jesus, filho de Sirac




O Profeta Baruch




O Cântico dos Três Mancebos



A história de Suzana



Recebemos e contamos por canônicos todos os Livros do Novo Testamento, como são comumente recebidos.

ARTIGO VII – DO VELHO TESTAMENTO

O Velho Testamento não é contrário ao Novo; porquanto em ambos, tanto Velho como Novo, se oferece a vida eterna ao gênero humano, por Cristo, que é o único mediador entre Deus e o homem sendo ele mesmo Deus e homem. Portanto não devem ser ouvidos os que pretendem que os antigos pais só esperaram promessas transitórias. Ainda que a Lei de Deus, dada por meio de Moisés, no que respeita a Cerimônia e Ritos, não obrigue os cristãos, nem devem ser recebidos necessariamente os seus preceitos civis em nenhuma comunidade; todavia, não há cristão algum que esteja isento, da obediência aos Mandamentos que se chamam Morais.
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Os 28 Artigos da Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo


Art. 1º - Do Testemunho da Natureza quanto à Existência de Deus

Existe um só Deus(1), vivo e pessoal(2); suas obras no céu e na terra manifestam, não meramente que existe, mas que possui sabedoria, poder e bondade tão vastos que os homens não podem compreender(3); conforme sua soberana e livre vontade, governa todas as coisas(4).

(1) Dt.6:4; (2) Jr 10:10; (3) Sl 8:1; (4) Rm 9:15,16

Art. 2º - Do Testemunho da Revelação a Respeito de Deus e do Homem

Ao testemunho das suas obras Deus acrescentou informações(5) a respeito de si mesmo(6) e do que requer dos homens(7). Estas informações se acham nas Escrituras do Velho e do Novo Testamento(*) nas quais possuímos a única regra perfeita para nossa crença sobre o Criador, e preceitos infalíveis para todo o nosso proceder nesta vida(8).

(5) Hb 1:1; (6) Ex 34-5-7; (7); II Tm.3.15,16; (8); Is.8.19,20.
(*) Os livros apócrifos não são parte da Escritura devidamente inspirada.


Art. 3º - Da Natureza dessa Revelação

As Escrituras Sagradas foram escritas por homens santos, inspirados por Deus, de maneira que as palavras que escreveram são as palavras de Deus(9). Seu valor é incalculável(10), e devem ser lidas por todos os homens(1).

(9) II Pe 1:19-21; (10) Rm 3:1,2. (1) Jo 5:39.
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Fonte: www.monergismo.net.com/ www.monergismo.com

07:05

Sola Scriptura

por: João Calvino


Para que Alguém Possa Chegar a Deus, O Criador,
É Necessário Que Tenha A Escritura Por Guia e Mestra.




O Verdadeiro Conhecimento de Deus está na Bíblia.



Portanto, se bem que o fulgor que se projeta aos olhos de todos, no céu e na terra, retire totalmente toda base para a ingratidão dos homens - e ainda que Deus, para envolver o gênero humano na mesma culpa, mostre a todos esboçada nas criaturas, sua Divina Majestade -, é necessário, contudo, além disso, acrescentar outro recurso melhor, que nos dirija retamente ao próprio Criador do universo. Por isso, não foi em vão que Deus acrescentou a luz de Sua Palavra para fazer-Se conhecido para a salvação do homem. E considerou dignos deste privilégio a todos aqueles aos quais quis trazer, para perto de Si, mais aproximada e intimamente.

Ora, porque Deus via a mente de todos ser arrastada, de um lado para outro, por constante e imutável agitação - depois de escolher os judeus para Si, como povo especial -, cercou-os por todos os lados, para que não se extraviassem com os demais povos. E não é em vão que ele nos mantém, por meio do mesmo remédio, no puro conhecimento de Si próprio, porque, de outra forma, se desfariam bem rapidamente até mesmo os que parecem mais firmes do que os outros. É exatamente como acontece com pessoas idosas ou enfermas dos olhos, e a todos quantos sofre de visão embaraçada: se pusermos diante delas até mesmo um volume vistoso, ainda que reconheçam estar ali algo escrito, mal poderão, contudo, ajuntar duas palavras. Ajudadas, porém, com o auxílio de óculos, essas pessoas começarão a ler de maneira eficiente. Assim a Escritura, reunindo na nossa mente, o conhecimento de Deus - que, de outro modo, seria confuso fazendo desaparecer a escuridão -, mostra-nos, com clareza transparente, o Deus Verdadeiro.

Constitui, pois uma dádiva singular o fato de Deus - para instruir a igreja -, servir-Se não apenas de mestres mudos, mas, ainda, abrir sua boca sacrossanta para não simplesmente proclamar que se deve adorar a Deus, mas também, ao mesmo tempo, declarar que Ele é esse Deus a quem devemos adorar. E não ensina Ele meramente aos eleitos que devem obedecer a Deus, mas mostra-Se como Aquele a Quem eles devem obedecer. Este modo de agir Deus tem mantido para com sua igreja, desde o princípio, de modo que, afora essas evidências comuns, Ele aplicasse também a palavra que é a marca direta e segura para reconhecê-LO.

Nem é para se duvidar de que Adão, Noé, Abraão e os demais patriarcas - em função deste recurso - tenham conseguido mais íntimo conhecimento de Deus, fato que, de certo modo, os destingue dos incrédulos. Não estou falando ainda da doutrina da fé, pela qual eles haviam sido iluminados para a esperança da vida eterna. Ora, para que pudessem eles passar, da morte para a vida, foi necessário que eles conhecessem a Deus não apenas como Criador, mas também como Redentor, pois eles chegaram a conhecer a Deus desses dois modos, seguramente, através da Palavra.

Ora, pela ordem, veio primeiro aquela modalidade de conhecimento mediante o qual lhes foi dado compreender quem é Deus, por meio de Quem o mundo foi criado e é governado. Em seguida, acrescentou-se, depois, a outra modalidade de conhecimento, interior, porque só esse conhecimento vivifica as almas mortas e só por ele se conhece a Deus não apenas como Criador do universo, Autor e Árbitro único de todas as coisas que existem, mas também na Pessoa do Mediador, como Redentor. Contudo, porque não tratei ainda da queda do mundo e da corrupção da natureza, não apresento ainda, aqui, o remédio.

Devem lembrar-se, portanto, os leitores de que não farei ainda considerações a respeito do pacto, mediante o qual Deus adotou, para Si, os filhos de Abraão, mas tratarei ainda daquela parte da doutrina pela qual os fiéis sempre foram apropriadamente separados das pessoas profanas, por aquela doutrina se fundamenta em Cristo (e, por isso, deve ser abordada na seção Cristológica); Agora, entretanto, só focalizarei como se deve aprender, da Escritura, que Deus como Criador, se distingue - por meio de marcas seguras - de toda a inventada multidão de deuses. Oportunamente depois, a própria seqüência dos fatos conduzirá ao estudo da redenção. Embora devamos derivar muitos testemunhos do Novo Testamento, e outros testemunhos da lei e dos profetas - onde se faz clara referência a Cristo -, sabemos que todos estes testemunhos visam mostrar que Deus, o Artífice do universo, se torna patente na Escritura e nela também se ensina o que devemos pensar a respeito de Deus, para que não busquemos, por caminhos tortuosos, alguma divindade incerta.


A Bíblia é a Palavra de Deus Escrita

Quer Deus Se tenha feito conhecido, aos patriarcas, através de visões ou oráculos, quer tenha dado a conhecer - mediante a obra e ministério de homens -, aquilo que, depois, transmitiria a pósteros pelas próprias mãos, está fora de dúvida que Deus gravou, no coração deles, a firme certeza da doutrina, de modo que fossem convencidos de que procedia de Deus o que haviam aprendido. Por isso Deus, pela Sua Palavra, tornou a fé segura para sempre, fazendo-a superior a toda mera opinião. Finalmente para que em perpétua continuidade de doutrina, a verdade permanecesse no mundo, sobrevivendo a todos os séculos, quis Deus que esses mesmos oráculos - que deixou em depósito com os Patriarcas -, fossem registrados como em públicos instrumentos. Com este propósito foi promulgada a Lei, à qual se acrescentaram, depois, como intérpretes, os Profetas.

Ora, se bem que foi múltiplo o uso da lei - como se verá no lugar mais adequado -, na verdade, foi dada especialmente a Moisés e a todos os profetas (a responsabilidade de) ensinar o modo de reconciliação entre Deus e os homens, fato que levou Paulo a dizer que Cristo é o fim da Lei (Rm.10:4). Contudo, torno a afirmar que, além da apropriada doutrina da fé e do arrependimento - que apresenta Cristo como Mediador -, a Escritura adorna, com sinais e marcas inconfundíveis, o Deus Único e Verdadeiro como Criador e Governador do mundo, para que Ele não seja confundido com a espúria multidão de deuses.

Portanto, por mais que ao homem sério convenha levar em conta as obras de Deus - um vez que foi ele colocado no belíssimo teatro do mundo para ser espectador da obra divina -, contudo, para ele poder aproveitá-la melhor, precisa dar ouvido à Palavra. Por isso, não é de admirar que os que nasceram nas trevas endureçam, mais e mais, a sua sensibilidade, visto que muito poucos se submetem docilmente à Palavra de Deus, de maneira a respeitar os seus limites; ao contrário, antes se gloriam em sua presunção.

Mas, para que a verdadeira religião resplandeça em nós, é preciso que ela seja o ponto de partida da doutrina celeste, pois não pode provar se quer o mais leve gosto da reta e sã doutrina, senão aquele que se tornar discípulo da Escritura. Pois o princípio do verdadeiro entendimento vem do fato de abraçar-mos, reverentemente, o Deus testifica de Si mesmo na Escritura. Da obediência à Palavra de Deus nascem não somente a fé consumada e completa, em todos os seus aspectos, mas também todo reto conhecimento de Deus. E neste aspecto, fora de toda dúvida, Deus, com singular providência, levou em conta os mortais em todos os tempos.


A Bíblia é o Único Escudo que Nos Protege do Erro

De fato, se refletirmos quão acentuado é a tendência da mente humana para esquecer a Deus, quão grande é a inclinação dos homens para com toda espécie de erro e quão pronunciado é o gosto deles para forjar, a cada instante, novas fantasiosas religiões, poderemos perceber como foi necessário a autenticação escrita da doutrina celeste, para que ela não desaparecesse pelo esquecimento, nem se desfizesse pelo erro, nem fosse corrompida pela petulância dos homens.

Deste modo, como está sobejamente demonstrado, Deus providenciou o auxilio de Sua Palavra para todos aqueles aquém quis instruir de maneira eficaz, pois sabia ser insuficiente a impressão de Sua Imagem na estrutura do universo. Portanto, se desejamos, com seriedade, contemplar a Deus de forma genuína, precisamos trilhar a reta vereda indicada na Sua Palavra.

Importa irmos à Palavra na qual, de modo vivo e real, Deus Se apresenta a nós em função de Suas obras, ao mesmo tempo em que essas mesmas obras são apreciadas, não sendo o nosso julgamento corrompido, mas de acordo com a norma da verdade eterna. Se nos desviarmos da Palavra, como ainda há pouco frisei, mesmo que nos esforcemos com grande empenho - pelo fato de a corrida ser fora da pista - jamais conseguiremos atingir a meta. Devemos pensar que o esplendor da face divina, que até mesmo o Apóstolo Paulo reconhece ser inacessível (I Tm.6:16), é para nós um labirinto emaranhado, no qual só podemos entrar se, através dele, formos guiados pelo fio da Palavra. Por isso, é preferível andar mancando, ao longo deste caminho a correr velozmente fora dele!

É por isso que, não poucas vezes, nos Salmos 93, 96, 97 e outros, ensinando que devemos tirar do mundo as superstições, para que floresça a religião pura, Davi representa a Deus como Aquele que reina, dando a entender, pelo termo reinar, não o poder de que Deus está investido e que exerce no governo universal da natureza, mas significando a doutrina pela qual reivindica, para Si, a legítima soberania, visto que jamais se pode arrancar os erros do coração humano, enquanto nele não se implantar o verdadeiro conhecimento de Deus.


A Revelação da Bíblia é Superior a Revelação da Criação

Por isso, onde o mesmo profeta afirma que os céus proclamam a glória de Deus, que o firmamento anuncia as obras das Suas mãos e que a regular seqüência dos dias e das noites apregoa a Sua majestade (Sl19:1-2), em seguida faz menção de Sua Palavra: "A Lei do Senhor" diz ele, "é perfeita e restaura as almas; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos simples; os mandamentos do Senhor são retos e alegram o coração; o preceito do Senhor é puro e ilumina os olhos" (Sl19:7-8). Ora, ainda que faça referência a outros usos da Lei, assinala ele, contudo, de modo geral, que Deus ainda que em vão convide a Si todos os povos, pela contemplação de Suas obras, oferece a Escritura como a única escola de Seus filhos.

Idêntica é a maneira como o Profeta fala no Sl.29, porque, depois de discursar a respeito da terrível voz de Deus - que sacode a terra com trovões, ventanias, chuvas, furacões e tempestades, fazendo tremer as montanhas e despedaçando os cedros - acrescenta, ao final, que no santuário de Deus se cantam louvores, visto que os incrédulos são surdos a todas as vozes de Deus, que ressoam nos ares! Da mesma maneira conclui ele outro Salmo, onde descreve as espantosas ondas do mar: "Confirmados foram os Teus testemunhos; a santidade é, para sempre, a formosura do Teu templo"(Sl.93:5). Daí vem também o que Cristo disse à mulher samaritana (Jo.4:22): que a gente dela e os outros povos adoravam o que desconheciam; que só os judeus prestavam culto ao Deus verdadeiro!

Ora, já que a mente humana, por causa da sua estupidez, não pode chegar até Deus, a menos que seja guiada e sustentada por Sua Sagrada Palavra, com exceção dos judeus (que eram guiados pela Palavra) todos os mortais - pelo fato de buscarem a Deus sem a Palavra -, tiveram de vagar na estultice e no erro!

Fonte: As Institutas da Religião Cristã - Livro I, Capítulo 6.

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